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Decadência da Psiquiatria

14.11.2016 | Acadêmicos, Gerais

HAJA PACIÊNCIA

As publicações científicas na área da Psiquiatria, no Brasil, são, no mínimo, pitorescas. Parece que alguns articulistas têm as ideias trancadas a cadeado. Na última revista de uma importante associação de psiquiatras brasileiros, publicou-se um artigo assim intitulado: Prevalência de periodontite em indivíduos com transtorno afetivo bipolar. Cinco profissionais assinam, médicos e dentistas. 

Avaliaram 156 pacientes com, segundo eles, transtorno bipolar. Concluíram pela alta incidência de periodontite nesses doentes: 59% no total, sendo 90,2% crônico-moderada e 9,8% avançada. 

Diante desse resultado significativo, propõe que “no futuro a periodontite possa ser considerada associada a essa doença psiquiátrica”. 

Com todo o respeito, não há como não lembrar a piada do “grande” cientista americano, que condicionou uma rã a pular quando tocasse uma campainha. Então, amputou-lhe uma perna, tocou a campainha e a rã pulou; cortou a outra perna, repetiu o som e a rã pulou; amputou a terceira perna e ao toque sonoro a rã voltou a pular; por fim, seccionou a última perna do batráquio, emitiu o estímulo sonoro e a rã não pulou. Então, o cientista americano concluiu que rã sem perna não escuta! 

Associar a periodontite com transtorno bipolar é risível, considerando que normalmente pacientes psiquiátricos têm precária higiene corporal, entre elas, a bucal. Tanto faz o diagnóstico da doença, basta andar nos pátios dos hospitais psiquiátricos, nos quais há loucos de todo o gênero, repletos de problemas odontológicos. 

Acresce a isso mais dois outros fatores fundamentais, que retiram qualquer possiblidade de crédito de ser a periodontite um sinal da doença bipolar. 

Primeiro, a saúde bucal depende precipuamente de visitas periódicas ao dentista, para prevenção, limpeza e demais cuidados, se necessários. E, pasme o leitor, segundo o artigo que se critica, lá está escrito: “quanto à última visita odontológica, a maioria declarou (56,4%) que foi ao dentista há mais de 3 anos”. Ora, como não estar com dentes e gengiva estragados depois de tanto desleixo? 

O segundo ponto capital é que o artigo diz, ipsis litteris: “todos usavam antidepressivos”. 

Será que ninguém atinou para o fato de que antidepressivos causam xerostomia, ou seja, diminuição da saliva e que tal carência é deveras ruim para a cavidade bucal, pois aumenta a proliferação de micro-organismos? 

Em suma, má higiene, baixíssima frequência a dentistas, uso de antidepressivos e desleixo com a saúde bucal são os verdadeiros responsáveis pelas cáries, perdas de dentes, mal hálito, periodontites etc., não o transtorno bipolar. 

Haja paciência.

Guido Arturo Palomba
Psiquiatra forense