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Frutos do mar, saborosos, sim, mas…

20.06.2017 | Acadêmicos, Gerais

Arary da Cruz Tiriba

Tentativa de suicídio?! Do Professor?! Quem, o desesperado? 

Mestre notável, origem italiana, atencioso, a quem se devotava carinho. Curioso — pergunta você —, quem e como? Por dever de ofício, identificação de lado, mas certamente se surpreenderá com a história. Nada comum! 

Lá se vão 60 ou mais anos… Médico, possuidor de considerável clínica, descia a Serra — quinzenal… mensalmente… —, via São Paulo Railway; desembarcava no Valongo de onde — Bonde 1 —, pra Bica da Fonte do Povoado1 . Congestionamento?! Quê!!! Fácil, fácil, sem atropelos!… P-R-A-Z-E-R-O-S-O! Na biquinha de São Vicente, aquela água leve, geladinha, saborosa! 

A 20 metros, o ambulante vendia ostras vivas, fresquinhas! Era ali que o Mestre estacionava para o clímax do prazer… gastronômico! Alimento ao natural! Não faria o caminho inverso sem devorar pelo menos dúzias do molusco mais pimenta e limão. [teria herdado genes — às dezenas — dos calabreses do Mar do Meio da Terra] 

Assim, o relax do operoso facultativo. Mas a ingesta turística acabaria mal. Adquirida a febre en plateau, teimosa, persistente, semana após semana mantida nas alturas… Não sozinha, mal acompanhada: confusão mental, delírios, alucinações! Tão culto o Mestre, de repente… desconectado, discursando bobajadas. De dar dó! 

Ostra! Insensível veículo da morbidade, na marinha semeada do excreto humano! 

Enfermeiras livraram-no do suicídio ao encontrarem-no — lençol torcido, nó no pescoço — dependurado ao chuveiro! Milagrosamente salvo a tempo! Sob contenção ao leito! Melhor forma para mantê-lo vivo! 

Oportunamente, mesma época, lançado na Itália remédio quase milagroso, quemicitina, para a tal da febre tifoide; nem bem chegado ao Brasil resgatou da morte o querido Mestre. 

De “ostra pra outra” [história]. 

Frequentador das praias [baixada santista], equinoides não eram simpáticos. Equinoides? Perdão, ouriços do mar… Pudera! Mar adentro, experimentara suas espetadas nos pés. 

Depois de desatracar do porto santista, tornado médico planaltino, a assistência profissional voltou-se para estranha epidemia familiar: pai, mãe, dois filhos. Febris, amarelados, todos! Não, febre amarela, não! Hepatite, por vírus, mais provável, mas também não! Enigma desfeito, TOXOPLASMOSE!!! Aguda, disseminada, lesando vísceras, até o fígado! 

Como? A aquisição a um só tempo? Mistério! Não tanto. Fim de semana… A família da Capital numa das praias do Guarujá. Por influência do genitor consumo do quê? De uni! 

Sabe, uni… órgãos sexuais — gônadas — do ouriço do mar… crus! Fama de afrodisíaco! Para quem não sabe o significado, um viagra natural, mais ou menos isso… 

Não peçam a explicação do close-up epidêmico. Gato, a fonte abastecedora do protozoário toxoplasma. Bichanos de praia? À espera que pescadores lhes proporcionem peixinhos e ouriços descartáveis da rede? Será? Manipulação, suja, no quiosque? Aí, onde perambulam felinos? Qui lo sá! 

Arary da Cruz Tiriba 

Médico sanitarista e tropicalista pela USP, Professor universitário (aposentado, em atuação voluntária na UNIFESP/EPM)

Membro Emérito da Academia de Medicina de São Paulo