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Eliete Bouskela conta sua trajetória de vida na tertúlia de setembro

12.09.2025 | Acadêmicos, Tertúlias

Na última quarta-feira, 10 de setembro, a Academia de Medicina de São Paulo realizou mais uma edição de sua tradicional tertúlia – de forma híbrida, com transmissão a partir da sede da Associação Paulista de Medicina. A convidada especial foi Eliete Bouskela, a primeira mulher a presidir a Academia Nacional de Medicina em 194 anos de história.  

A apresentação da convidada foi introduzida pelo vice-presidente e acadêmico da AMSP, Edmund Chada Baracat, que destacou sua impressionante carreira. Nascida em Uberlândia, Minas Gerais, Eliete Bouskela formou-se em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde também concluiu seu mestrado em Biofísica e doutorado em Fisiologia. Além disso, ela realizou sua livre-docência na Universidade de Lund, na Suécia, e hoje é professora Titular de Ciências da Saúde na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Com um currículo robusto, a médica acumula 273 artigos em periódicos internacionais, quatro livros, duas patentes e a orientação de 22 mestrados, 41 doutorados e 23 pós-doutorados.

História de vida

Eliete Bouskela iniciou sua apresentação agradecendo o convite, expressando sua honra e alegria em estar presente. Ela compartilhou detalhes de sua origem familiar: é filha de imigrantes, com avós argelino e marroquina, um pai egípcio e uma mãe brasileira, natural do sul de Goiás. A família materna, composta por juristas, desembargadores e advogados criminalistas, despertou em Eliete uma curiosidade sobre o comportamento humano, especialmente sobre porque as pessoas tomam decisões que as levam a “sair da linha”.

Essa curiosidade a direcionou para uma visão da Medicina focada em doenças como obesidade, hipertensão e diabetes que, em sua opinião, estão ligadas a escolhas comportamentais. Segundo ela, esses pacientes, apesar de saberem o que precisam fazer, não gostam de se cuidar, uma questão que sempre a intrigou.

Antes de ingressar na faculdade de Medicina, ela dava aulas de Química em um cursinho. Por isso, optou por fazer monitoria de Bioquímica, mesmo achando a área pouco dinâmica. Contudo, essa experiência a levou à Biofísica e, finalmente, à pesquisa, uma área que sempre a atraiu. Ela teve a oportunidade de trabalhar ao lado de renomados profissionais como Antônio Paes de Carvalho e Carlos Chagas.

Em sua palestra, a presidente da ANM relembrou um momento marcante de sua trajetória: a decisão de estudar microcirculação, uma área que não existia ainda no Brasil. Ela conseguiu uma bolsa na Mayo Clinic, em Rochester, nos Estados Unidos. Mas devido ao frio da cidade e não adaptação, se mudou para Seattle, Washington, onde conheceu o pesquisador Kurt Wilhelm, que estudava microcirculação em asas de morcego, e ficou maravilhada com o trabalho dele.

Após dois anos em Seattle, precisou voltar ao Brasil por causa de problemas de Saúde de seu pai. Antes de retornar, conseguiu uma vaga na UFRJ para chefiar a área de Fisiologia e, com a autorização, decidiu trazer 20 morcegos. Depois de um check-up com um veterinário, ela solicitou mais 40, em caso de algum morrer no caminho, totalizando 60 morcegos que embarcaram com ela para o Brasil.

Já no Brasil, Eliete Bouskela construiu um mocegário na UERJ que atraía a visita de mutas pessoas. Com o tempo, ela trocou os morcegos por ratos e hamsters e direcionou suas pesquisas para estudos clínicos sobre diabetes e obesidades.

Hoje, a médica expressa sua preocupação com um tema que a incomoda profundamente: o ganho de peso em pacientes que se submetem a cirurgias bariátricas ou usam medicamentos como Ozempic e Mounjaro. De acordo com ela, 60% das pessoas que fazem cirurgia bariátrica voltam a engordar. E questiona como médicos podem garantir a adesão dos pacientes ao tratamento, não apenas na obesidade, mas também em casos de uso de antibióticos, já que muitos param o tratamento assim que os sintomas melhoram, o que pode levar à resistência bacteriana.

Para o futuro, compartilhou alguns de seus planos como presidente da Academia Nacional de Medicina, como discutir a fundo o ensino médico e promover seminários sobre doenças prevalentes no Brasil. Ela também mencionou o interesse em colaborar com a Academia Nacional de Medicina dos Estados Unidos para abordar os temas clima e tempo, buscando elaborar uma proposta para a Cop30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas).

Ao final da apresentação, o presidente da AMSP, Helio Begliomini, agradeceu e saudou a presença de todos que estavam presentes.

Texto e fotos: Maria Lima (sob supervisão de Giovanna Rodrigues) – Adaptado por Academia de Medicina de São Paulo.