Evento cultural na APM promove integração entre Academia de Medicina de São Paulo e Academia Cristã de Letras

No intuito de incentivar a integração entre entidades médicas, a Associação Paulista de Medicina promoveu, na última segunda-feira, 07 de julho, o evento “Experiência Cultural – Aproximando Entidades”. A ocasião reuniu a Academia de Medicina de São Paulo e a Academia Cristã de Letras e trouxe uma palestra de Guido Palomba, diretor adjunto Cultural da APM e acadêmico das duas instituições, sobre “Arte e Loucura”.
Antonio José Gonçalves, presidente da APM, demonstrou que a realização de eventos deste porte é pensada na necessidade de união da classe médica. “Vem acontecendo uma série de problemas com a nossa profissão. Precisamos reagir e nos unir – porque unidos somos mais fortes, então temos procurado trabalhar neste sentido. A união da nossa classe sempre foi fundamental, mas atualmente é ainda mais importante. Com o gabarito, a cultura e o apoio de todos vocês, vamos conseguir chegar a um bom termo, defendendo a nossa classe, a boa Medicina e a Saúde adequada ao nosso povo.”
Helio Begliomini, presidente da Academia de Medicina de São Paulo, agradeceu a presença dos participantes. “Todos nós sabemos que vivemos uma época em que a cultura é pouco valorizada. Reunir uma plateia seleta em uma noite voltada à cultura é algo insólito e este evento já tem um gosto especial só por isso. Eu queria muito agradecer a APM, por meio do seu departamento Cultural e do nosso palestrante da noite, Guido Palomba, que catalisou essa união entre as duas academias hoje aqui representadas.”
Juarez Moraes de Avelar, presidente da Academia Cristã de Letras, salientou a importância da convivência e parceria das academias. “É um prazer enorme estar hoje com os senhores, reunindo as entidades. Na verdade, é mais uma etapa no sentido de ampliar a nossa convivência. Este gesto do Guido é mais um passo focado em estender as atividades acadêmicas, culturais e de Medicina.”
Arte e Loucura
Em sua apresentação, Guido Palomba argumentou que não há nada mais estimulante do que tentar definir o que é arte. “Tentar, porque este tema é dos mais controvertidos e envolve conceitos subjetivos que se penetram no mundo do belo – que é o objetivo formal da filosofia estética. Muitos filósofos definiriam a sua percepção de ‘belo’, mas os conceitos propostos estão a depender da época em que tais definições foram cunhadas.”
De acordo com o palestrante, a Revolução Francesa foi um período fundamental para mudar a percepção de como a sociedade enxergava os doentes mentais – que, até então, viviam acorrentados, já que a condição era entendida como uma espécie de “possessão demoníaca” – graças ao médico Philippe Pinel, que defendia o tratamento humanizado desses pacientes.
Daquela época em diante, os artistas puderam se libertar, fazendo com que surgissem uma série de movimentos artísticos. “Assim, o conceito de ‘belo’ mudou completamente e quem o melhor pôde definir, naturalmente, foi Immanuel Kant, que dizia que o belo é o que satisfaz a imaginação sem entrar em desacordo com as leis do entendimento. O belo agrada sem conceito.”
Segundo Palomba, a arte se classifica como a expressão de um determinado tempo. “Por exemplo, a arte rupestre, a arte grega, a arte renascentista e a arte contemporânea. A arte varia conforme o artista e as circunstâncias, gostos, países e época em que viveram.”
Para o psiquiatra, algumas pessoas defendem a ideia de que a loucura pode ser considerada fonte de arte, mas refuta esta argumentação. “A Medicina sabe que a doença mental ataca violentamente o pensamento, o sentimento, a intuição e a sensopercepção. No estado de loucura, o paciente nada cria de valor e nenhum dos grandes gênios artísticos, em verdadeiro estado de ruptura com a realidade, produziu algo que tenha ficado para a história como sublime – nessas horas, estiveram recolhidos em suas doenças, em suas individualidades mórbidas, sem criar nada.”
Ele relembra que os grandes feitos de tais artistas foram feitos nos momentos em que não estavam em crise. “Como essas doenças que sofriam não eram constantes, mas sim, cíclicas, a evoluir por surtos, fora dos períodos agudos eles criaram muito e criaram como gênios que foram. Em outras palavras, eram artistas, mas também eram doentes.”
O diretor da APM concluiu demonstrando que as doenças mentais não foram ferramentas que colaboraram para a vida artística de grandes nomes, como, por exemplo, Van Gogh, mas que apenas contribuíram para impedir que pudessem ser ainda mais geniais. “Suas obras somente serão de arte se forem produzidas fora do período agudo da doença. Caso contrário, o artista está liquidado.”






Texto e fotos: Comunicação – Associação Paulista de Medicina