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EVOLUÇÃO DA ANESTESIA

28.10.2013 | Gerais

FERNANDO BUENO PEREIRA LEITÃO 

Membro Honorário da Academia de Medicina de São Paulo 

Professor Associado da Faculdade de Medicina da USP

O emprego do éter etílico por Morton, no dia 16 de outubro de 1846 no Massachusetts General Hospital em Boston, é considerado um dos eventos mais importantes da Medicina, pois ao suprimir a dor, abriu as perspectivas para o desenvolvimento da cirurgia e áreas afins. Utilizando um equipamento rudimentar, a máscara aberta, que ele mesmo construiu, deve ser reconhecido como o primeiro inventor de um aparelho de anestesia. Por sua vez, os efeitos clínicos apresentados pelo doente, motivaram Guedel a criar um esquema relacionando os sinais da depressão neurológica com a concentração do agente anestésico. Mas a história da anestesia referente àquela época ressalta a observação de que Morton também demonstrou as ações do óxido nitroso, conhecido como protoxido de azoto ou gás hilariante. 

Outro fato que merece referência foi a contribuição da química à anestesia, desde a síntese do éter até de outras drogas de diversos grupos farmacológicos, dentre os quais os hipnóticos, opiáceos, opióides, neurolépticos, analgésicos, diazepínicos, relaxantes musculares de ação periférica, anestésicos locais e seus respectivos antagonistas. A evolução dessas pesquisas resultou na farmacologia molecular. A farmacodinâmica contribuiu para uma análise precisa dos efeitos decorrentes do uso associado de diversas drogas, em detrimento do uso isolado de algumas delas e eventuais complicações decorrentes de superdosagem. Dentre essas associações sobressaem a anestesia potencializada e a neuroleptanalgesia. 

A física também repercutiu nos avanços tecnológicos da anestesia. Como exemplo, criaram-se o laringoscópio, os modernos aparelhos de anestesia, os respiradores, o ultrassom, este um importante auxilio para a punção venosa, arterial e passagem de cateteres. Mais ainda: o fato de monitores informarem e registrarem o ritmo cardíaco, as concentrações do oxigênio na mistura inalada, a concentração do CO2 expirado aumentam a segurança do ato anestésico. Atualmente, o emprego do eletroencefalograma como meio de avaliação específica dos efeitos dos agentes anestésicos sobre o grau de depressão do sistema nervoso representa, sem dúvida, uma contribuição inestimável para o sucesso do procedimento anestésico, seja ele qual for. Paradoxalmente, entretanto, todo este progresso poderá ser inútil ou deletério, se o especialista não considerar que todas as ações supracitadas sejam, apenas, complementares. Sim, porque a segurança do ato anestésico recai sobre ele, cuja formação iniciada nos cursos de graduação de Medicina, exige constante atualização, Para isto, dispõe de programas de especialização, como a Residência Médica. A frequência e participação em Congressos da especialidade e outras áreas da Medicina favorecem sua atualização. A dedicação à pesquisa experimental em Faculdades de Medicina e Ciências Biológicas com laboratórios bem equipados é uma possibilidade concreta em desenvolver sua capacidade investigativa. Isto também vem se desenvolvendo em nosso meio. 

Por isto mesmo, o exercício da anestesiologia exige uma cuidadosa atenção do especialista quanto às condições clínicas do doente e do ambiente hospitalar e deve ser comparado a um contrato entre o cliente e o profissional, mas baseado na confiança mútua e indissociável, integrado aos rígidos princípios da ética e do humanismo. 

O que também desperta a atenção se refere ao desenvolvimento cultural e científico do anestesista, que nos dias de hoje ampliou sua áreas de atuação como as Salas de Recuperação e Unidades de Terapia Intensiva. Mais do que isto: toda esta complexidade de ações, muito bem exercidas, abriu a perspectiva e a realidade de atuar no âmbito dos sistemas de Resgate extra hospitalar. É o que se observa nos dias de hoje, inclusive no Brasil, onde a qualidade do exercício profissional é referendada pelas Comissões de Ética da Sociedade Brasileira de Anestesiologia e suas respectivas Regionais.