Do início ao término de um período decadente
1. O INÍCIO
Em 2 de junho de 1961, ocorreu significativa alteração no organograma da Academia, na qual foram excluídos os Presidentes de Seção, porém, mantidos os cargos anteriores de Diretoria, acrescidos do Conselho Científico, composto por seis membros. E, no lugar do Vice-presidente, entrou o Presidente Eleito. O número de cadeiras passou de cento e vinte para cento e cinquenta.
A introdução, na Academia, da figura do Presidente Eleito marcou o início de seu período decadente.
No biênio 1967-1968, surgiu a função de Segundo Tesoureiro e, em 1969-1970, sem registro de reforma estatutária em Assembleia Geral, o mandato de Diretoria, que era de um ano passa para dois.
2. O MEIO
Porém, a grande modificação estatutária, que resultou em sérias consequências, ocorreu na Assembleia Geral de 22 de março de 1989. Com essa reforma, para adentrar à Academia de Medicina as exigências eram menos rígidas; o número de Membros Titulares, de cento e cinquenta, passou para duzentos; e foram criados novos tipos de membros, entre eles os Colaboradores, os Beneméritos e os Honorários. A Diretoria inflou, considerando-se que o Conselho Científico tinha seis membros, a Comissão de Patrimônio com sete membros e todos os outros seis cargos de Diretoria, entre eles, o Presidente Eleito, que é escolhido em um determinado pleito e permanece atuante por dois mandatos seguidos: o primeiro, como Presidente Eleito, e o segundo, como Presidente, sem ter sido votado duas vezes como todos os outros cargos de Diretoria.
Mas tudo piorou na Assembleia Geral de abril de 1992, com a aprovação do Regimento Interno, a complementar o Estatuto de 1989. Tal Regimento dispunha sobre as exigências para o candidato adentrar à titularidade: basicamente bastava apresentar curriculum vitae e ser indicado por três Membros Titulares, sendo que não havia necessidade de o candidato exercer a Medicina por um período mínimo de tempo. Porém, o pior de tudo estava no art. 6º, o qual dispunha que para um Membro Titular, portanto detentor de cadeira, ao completar 15 anos na Academia ou 70 anos de idade, seria outorgado título de Membro Emérito e seria aberta nova vaga, o que, em realidade, descaracterizava a Academia, que, por princípio, prescrevia vitaliciedade do acadêmico na cadeira, sob determinado Patrono. Nesse sistema, incompreensivelmente, o Membro Emérito era castigado com a perda de cadeira e do Patrono. Com isso, vieram problemas. Por exemplo, dois nomes de Acadêmico para um só Patrono: um com cadeira (o recém-chegado); o outro, sem (com mais de 15 anos de titularidade ou 70 anos de idade). Essa disposição regimental criava outro conflito insolúvel ou nada democrático: se um médico, com mais de 70 anos, fosse se candidatar à titularidade, tecnicamente não poderia, pois as cadeiras eram reservadas para aqueles que tinham menos que essa idade. E tudo se agrava ao se considerar os critérios para a eliminação de Membros, que ficavam apenas no âmbito das reuniões de Diretoria, sem Assembleias Gerais.
3. O AUGE
A bem ver, a Academia se desfigurava como Academia, para se tornar uma espécie de sociedade dominada por grupo e isso permaneceu por vários anos. Talvez o que melhor represente a desfiguração do espírito acadêmico foi uma proposta de modificação de Estatuto, a qual sugeria a criação de novos membros, levada à reunião de Diretoria em 29 de outubro de 1997. As novas categorias, por si sós, dispensam outros comentários: Acadêmico Júnior, Acadêmico Residente, Acadêmico Aspirante, cujo ingresso dependeria de uma comissão a ser designada pela Diretoria. Com todo o respeito, estudantes e recém-formados serão os grandes homens do futuro, fortes candidatos às Academias, sodalícios de culminância e de coroamento da vida profissional, não do início dela. A proposta foi recusada pela maioria.
Na Diretoria que se seguiu, presidida por Luiz Celso Mattosinho França, 1999-2000, deu-se o cisma com esse status quo. Porém, sem consequência imediata, já que, em seguida, permaneceu como era, uma vez que existia o Presidente Eleito, Salvador José de Toledo Arruda Amato, que assumiria como Presidente, exatamente no momento seguinte, 2001-2002. E, assim, por mais uma gestão, ficava assegurado o estado em que se achava a Academia. Mais ainda, vieram outras propostas de criação de novos tipos de membro. Um deles vingou, o Membro Remido, ainda que não constasse do Estatuto ou de qualquer Assembleia Geral.
Quanto ao Regimento Interno, diga-se de caminho, era repleto de emendas e de vícios de todo o tipo. Impunha-se rigorosa ordem reorganizadora, que foi concluída nove anos depois, a contar do término da gestão de Salvador Amato.