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Biografia

Álvaro Guimarães Filho

Álvaro Guimarães Filho nasceu aos 29 de agosto de 1901, na cidade de São Paulo. Era filho do dr. Álvaro Macedo Guimarães e de Maria Prado Guimarães. 

Fez seus estudos em São Paulo e no Rio de Janeiro, no Colégio de São Bento e no Ginásio Oswaldo Cruz.

Foi casado com Maria Coelho Guimarães e desse conúbio nasceram cinco filhos: dr. Álvaro Osvaldo; Celso Rubens, engenheiro; Jose Carlos, engenheiro; dr. Luiz Otavio e Maria Cecília. Teve onze netos. 

Graduou-se pela Faculdade de Medicina de São Paulo, em 1925, defendendo tese intitulada Higiene Mental e sua Importância em Nosso Meio. Durante o curso médico foi interno da 2a Enfermaria de Homens da Santa Casa de São Paulo, na cátedra de clínica médica dirigida por Rubião Meira , onde trabalhou com Álvaro Lemos Torres. 

Durante o 6º ano foi também interno efetivo da Assistência Policial de São Paulo. Foi vice-presidente e presidente do Centro Acadêmico Oswaldo Cruz, e nessa época, chefiando a delegação de universitários paulistas, levou ao 1º Congresso Interestadual de Medicina o trabalho “Estudo Clínico do Carcinoma Primitivo do Esôfago”. 

No ano de 1926 viajou para a Europa, estagiando em Paris, na Maternidade Baudelocque e no Hospital Broca, recebendo ensinamento de Couvelaire e Faure. Em Berlim fez cursos de aperfeiçoamento com Strassman, Straus e Kristeller. Em Viena frequentou na universidade a segunda “Frauenklinik”, sob a orientação de Kermauner. 

Álvaro Guimarães Filho, enquanto jovem médico

Após meses de permanência nesses centros médicos retornou ao Brasil em 1927, onde foi admitido como assistente voluntário na clínica obstétrica da Faculdade de Medicina de São Paulo, sob a chefia de Raul Carlos Briquet . Ali organizou o serviço de pré-natal e a seção de urologia feminina, assim como o departamento de radiodiagnóstico obstétrico. Em 1933 tornou-se chefe de clínica dessa disciplina. 

Suas atividades didáticas, no entanto, se iniciaram em 1931, quando foi nomeado professor de enfermagem cirúrgica na Escola de Obstetrícia e Enfermagem Especializada de São Paulo, anexada à clínica obstétrica da Faculdade de Medicina de São Paulo. 

Em 1932, por ocasião do Movimento Constitucionalista, exerceu função de auxiliar médico da Superintendência dos Serviços Auxiliares de Saúde. 

Álvaro Guimarães Filho, em 1933, foi encarregado por Paula Souza de organizar o serviço de higiene pré-natal no centro de saúde do então Instituto de Higiene de São Paulo, primeira organização desse gênero instalada no Brasil. Nesse mesmo ano foi designado professor catedrático de clínica obstétrica da recém-fundada Escola Paulista de Medicina (EPM). 

Participou como sócio fundador da Associação Paulista de Medicina (APM), onde exerceu a presidência do departamento de obstetrícia e ginecologia. 

Em 1935 foi laureado pela Academia Nacional de Medicina, conjuntamente com Álvaro Lemos Torres e Jairo Ramos , com o prêmio e medalha de ouro “Madame Durocher” pelo trabalho “Coração na Gravidez”, em que posicionaram a conduta aplicada à gestante cardiopata. 

Desde o início de sua carreira no magistério, através de atividades didáticas, publicações em revistas especializadas e palestras proferidas nas várias entidades médicas, deu grande realce aos métodos de proteção materno-infantil, preocupando-se com o problema da mortalidade e morbidade maternas e perinatais. A semiologia obstétrica, a fisiologia da parturição e a orientação nutricional da gestante encontraram nele fervoroso cultor. 

Em 1937, após brilhante concurso, foi o primeiro a galgar o degrau de livredocência de clínica obstétrica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 

Os problemas éticos e morais na formação de médicos, enfermeiros e parteiras, encontraram sempre em Álvaro Guimarães Filho devoto divulgador e defensor. 

Com a criação da Faculdade de Higiene e Saúde Pública da Universidade de São Paulo foi empossado professor catedrático de higiene materna, onde permaneceu até a aposentadoria compulsória, ocupando também o cargo de diretor da faculdade. Durante três períodos integrou o Conselho Universitário de São Paulo, afastando-se somente pela aposentadoria compulsória. Nessa faculdade orientou inúmeros médicos, enfermeiros, educadoras sanitárias, assistentes sociais, administradores hospitalares e nutricionistas, transmitindo-lhes com seu saber e dedicação ideias básicas de proteção materna. 

Para divulgação dos ensinamentos da especialidade fundou e dirigiu por muitos anos a “Revista de Ginecologia e Obstetrícia de São Paulo”. Também foi perito do tribunal eclesiástico da Arquidiocese de São Paulo e um dos organizadores da Maternidade Pró-Matre Paulista. 

Na EPM iniciou o curso regular de clínica obstétrica em 1938, permanecendo até a sua aposentadoria compulsória. 

Com pertinácia colaborou intensamente na reativação das obras do Hospital São Paulo, que foi o primeiro hospital de ensino universitário criado no Brasil. 

Com o falecimento do professor Lemos torres, ocorrido em 1942, Álvaro Guimarães Filho foi eleito diretor da EPM. Durante 14 anos teve para si o encargo de consolidar a instituição, dando-lhe o entusiasmo de sua juventude; o equilíbrio de sua maturidade; e a energia do seu caráter. Apesar dos afazeres administrativos, jamais abandonou sua atividade didática e de pesquisa clínica, às quais sempre esteve afeito. 

Durante sua gestão na diretoria da EPM, alguns fatos devem ser destacados: a ampliação do prédio da faculdade e a conclusão do Hospital São Paulo, após árduas lutas e reivindicações junto ao Governo Federal para conseguir o resgate da dívida do hospital perante a Caixa Econômica Federal, terminado no ato público e festivo de doação do Hospital São Paulo à EPM. Ainda sob sua orientação foi construído o pavilhão de patologia médica, batizado em homenagem a Lemos Torres. Ao atingir, em 1966, a idade limite, foi jubilado, após tantos esforços, dedicação e luta para conservar bem alto os ideais dos fundadores da EPM. 

Por solicitação de Lemos Torres fundou a Escola de Enfermeiras do Hospital São Paulo, e com um grupo de benfeitores da sociedade paulista, a Maternidade Amparo Maternal . 

Dirigiu a Amparo Maternal por cerca de 37 anos. Impressionado com o desrespeito à vida, colocou todo seu cabedal de conhecimentos e sua forte personalidade em defesa da vida humana. Foi incompreendido e caluniado, aplaudido e amado. 

Irmã Anita, sua sucessora na direção da Amparo Maternal, descreve-o como uma pessoa de caráter enérgico e veraz; alegre e de um fino humor. Refere-se que uma de suas frases jocosas, dita de maneira bem popular era! “Entrei pelos canos e saí canonizado”. Irmã Anita ainda salienta: “incontáveis foram as mães e crianças salvas pela sabedoria e zelo do grande obstetra: para isso não media nem dia, nem hora … Substituiu para tantas o pai que não conheceram! Na hora do seu sepultamento, muitas delas, prestando-lhe a última homenagem diziam: Perdemos nosso Pai!”. 

Como legado de sua luta incansável deve-se ressaltar que a Amparo Maternal mantêm-se, para muitas mulheres e famílias, como “um porto seguro para dar à luz”, e tem-se mantido por muitos anos após sua morte como um local privilegiado para a vivência da prática clínica de futuros profissionais da área de saúde, sobretudo, enfermeiras, obstetras e obstetrizes. 

Álvaro Guimarães Filho faleceu em São Paulo em 12 de setembro de 1981, aos 80 anos. Seu corpo foi velado no anfiteatro Leitão da Cunha da EPM e foi sepultado no Cemitério de São Paulo, também denominado “Necrópole São Paulo”. Seu nome é honrado como patrono da cadeira no 61 da augusta Academia de Medicina de São Paulo, assim como dá nome a uma rua no bairro Vila Império da capital paulista. 

NOTAS: 

Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.

Parte dos dados aqui consignados foi gentilmente fornecida pelo sr. Maurílio José Ribeiro da Secção de Denominação de Logradouros do Arquivo Histórico Municipal da Prefeitura de São Paulo. 

Oswaldo Gonçalves Cruz é o patrono da cadeira no 99 da Academia de Medicina de São Paulo. 

A 2ª Enfermaria de Homens da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo já era um renomado centro de estudos médicos de onde sairiam professores da Escola Paulista de Medicina. 

Domingos Rubião Alves Meira foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante meio mandato anual entre 1905-1906 e um mandato anual entre 1911-1912, e é o patrono da cadeira no 51 desse sodalício.  

Foto obtida no Diário Popular – edição de 20/9/1981. 

Raul Carlos Briquet é o patrono da cadeira nº 52 da Academia de Medicina de São Paulo.

Geraldo Horácio de Paula Souza é o patrono da cadeira no 101 da Academia de Medicina de São Paulo. 

Jairo de Almeida Ramos foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante um mandato anual entre 1939-1940, e é patrono da cadeira no 75 desse sodalício. 

A Maternidade Amparo Maternal foi criada pela freira Madre Marie Domineuc; pelo arcebispo de São Paulo, Dom Jose Gaspar; por Álvaro Guimarães Filho e senhoras da sociedade paulistana.