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Biografia

Arnaldo Augusto Vieira de Carvalho

Arnaldo Augusto Vieira de Carvalho teve como berço a cidade de Campinas, na época, conhecida no estado de São Paulo como a “Cidade das Andorinhas”, isto se deu no dia 5 de janeiro de 1867. Era filho de Carolina Xavier de Carvalho e de Joaquim José Vieira de Carvalho, advogado de nomeada, formado pela Faculdade de Direito de São Paulo e professor de várias disciplinas; com muito prestígio profissional e político foi juiz municipal em Campinas, deputado estadual e senador, tendo participado de altos cargos em diversos governos estaduais. 

Os historiadores André Mota e Maria Gabriela Marinho, da Universidade de São Paulo, organizadores do trabalho “Arnaldo Vieira de Carvalho e a Faculdade de Medicina: Práticas Médicas em São Paulo (1888-1938)”, comentam que: “em razão dessa biografia paterna, Arnaldo sentiu influência de seu sobrenome quando voltou a São Paulo, indo morar na Rua Ipiranga no 18 (hoje Avenida Ipiranga), depois de sua diplomação em 1888, pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro”. 

De fato, têm-se notícia que logo após isso foi nomeado para cargos importantes, como consultor e assistente da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo; médico responsável pela Hospedaria dos Imigrantes e, já em 1889, médico adjunto, cirurgião, vice-diretor clínico da Santa Casa. Em 1893, diretor do Instituto Vacinogênico, cargo que ocupou até 1913, e, finalmente, em 1894, indicado para chefe de clínica cirúrgica e, em seguida, diretor clínico do Hospital da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. 

Porém, a verdade era que já demonstrava qualidades e capacidades excepcionais e privilegiadas de trabalho no exercício de sua profissão, tanto na clínica médica e ginecologia, como também na cirurgia, além de forte pendor a gestor administrativo. 

Em 1895, com a finalidade de agregar todos os médicos do estado, capitaneada pelo médico Luiz Pereira Barreto e tendo entre os seus membros eméritos fundadores Arnaldo Vieira de Carvalho, foi fundada a Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo . A partir daí, a ideia da implantação de uma faculdade de medicina teve mais ênfase, não devendo ser esquecido que, já em 1891, Arnaldo lutava para a sua abertura e, nesse ano, o governo criava a Academia de Medicina, Cirurgia e Farmácia, que não chegou a ser instalada por falta de regulamentação. 

Os historiadores acima citados fazem constar em seu trabalho que Arnaldo Vieira de Carvalho escrevia no jornal O Estado de S. Paulo sob o pseudônimo de “Epicarnus”. Opinava sobre a organização médica e política de saúde, crendo firmemente que a solução dos problemas gravíssimos existentes na assistência à saúde naquela época, poderia ser dada quando os médicos fizessem parte ativa nas questões sociais e fisiológicas, ciências básicas da profissão. 

No portão do Hospital Umberto I (1904). Ao centro, Arnaldo Vieira de Carvalho, ladeado por Ayres Neto, Felice Buccaglia e Raul Vieira de Carvalho. 

Em 1912 Arnaldo foi designado pelo então presidente do estado, Francisco de Paula Rodrigues Alves, com total apoio do secretário do Interior, Altino Arantes, para implantar definitivamente o ensino médico no estado de São Paulo. Assim, criada pela lei 1.357, de dezembro de 1912, a Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, que sucedia a Academia de Medicina, Cirurgia e Farmácia mencionada, iniciou suas atividades depois de sua regulamentação, o que se deu em 1913. O ensino clínico e cirúrgico sob sua orientação era praticado nas enfermarias da Santa Casa de Misericórdia.

Acresce notar que São Paulo no início do século XX tinha por volta de 300.000 habitantes e já contava, nessa época, com intelectuais dispostos a elevar a metrópole à condição de reduto cultural do país, polarizando concomitantemente grande transformação social. Contudo, em contrapartida, havia falta de assistência médica pelo pouco número de profissionais nessa área, principalmente nas regiões Sul e Sudeste. Somando-se a isso, aumentava muito a emigração trazendo com ela doenças epidêmicas que grassavam por todo o estado, razão pela qual era imperiosa e urgente a fundação de uma faculdade de medicina. 

Em face de todos esses motivos, Arnaldo propôs para a faculdade recém-criada o método moderno de adequar as aulas teóricas às práticas de laboratório, dando oportunidade aos estudantes de receberem uma formação mais dinâmica e completa, primando pela parte científica e não simplesmente clínica. 

Durante os anos de 1913 a 1920, Arnaldo foi o seu primeiro diretor, sendo em janeiro desse último ano lançada a pedra fundamental de sua sede própria, na então Estrada do Araçá (defronte ao cemitério), que, a partir de 1931, passou a ter o seu nome. 

Arnaldo como diretor da Faculdade de Medicina de São Paulo sempre foi lembrado como benemerente, audacioso e heroico, que enfrentara junto com seus alunos a gripe espanhola de 1918.  

Lamentavelmente, a 5 de junho de 1920, aos 53 anos, por volta das 13 horas, uma fatídica morte, completamente inesperada e abominável – advinda de um ferimento na mão, coincidentemente provocado por um bisturi, durante a prática de uma cirurgia que evoluiu rapidamente para uma brutal septicemia –, ceifou a vida daquele que tanto fez para os homens sem nada pedir em troca, senão o intuito de mitigar a dor alheia, desfazendo as trevas que põe em risco a existência humana. 

O sentimento naquele momento era de dor inconsolável, irmanando todas as classes do povo, sendo decretado estado de luto na capital paulista. 

Vergueiro Steidel refere que Arnaldo “era o médico dos desprovidos, aquele que se inquietava com a dor dos pacientes da Santa Casa. Revoltava-se contra a pobreza; mesmo no momento em que agonizava em seu leito e horas antes de sua morte teria dito à sua amantíssima esposa, quando ela velava sua cabeceira, que novos e magníficos argumentos lhe acudiam ao espírito sobre essa questão social”. 

“Arnaldo Augusto Vieira de Carvalho extinguiu-se. O bronze já lhe fixou as linhas corretas do perfil augusto, e a História, não lhe podendo retratar o espírito, cantará a sua obra gigantesca”. 

NOTAS: 

Esta biografia é uma autoria do Acad.Wilson Rubens Andreoni, Titular da cadeira nº 11 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Arnaldo Augusto Vieira de Carvalho.  

Pequenas inserções e adaptações do texto ao perfil desta secção, assim como as notas de rodapé foram feitas pelo Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.

Arnaldo Vieira de Carvalho teve a honra de presidir a insigne Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo por dois mandatos anuais não-consecutivos: 1901-1902 e 1906-1907. 

Revista de Medicina, São Paulo, ano VI, no 21, 1922, página 14. 

Orcezi, Nazareno – A Faculdade de Medicina homenageia seu fundador. O Estado de S. Paulo, 6/6/1930, página 3 – Discurso.