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Biografia

Delphino Pinheiro de Ulhôa Cintra

Delphino Pinheiro de Ulhôa Cintra, mais conhecido por Pinheiro Cintra, nasceu na cidade de Campinas (SP), em 24 de setembro de 1877. Seu pai era Antônio Pinheiro de Ulhôa Cintra (1837-1895), o barão de Jaguara, médico e político notável em São Paulo. Seu sobrinho, Antônio Barros de Ulhôa Cintra (1907-1998), viria ser professor catedrático de clínica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e um dos pioneiros da endocrinologia em nosso meio . 

Delphino Cintra fez seu curso secundário na Alemanha e ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, graduando-se em 1903. Enquanto estudante de medicina foi interno de cirurgia do professor Lima e Castro, com quem sempre andou muito ligado, advindo daí sua inclinação para a arte operatória. 

Após a sua formatura clinicou algum tempo em Espírito Santo do Pinhal (SP). Logo após transferiu-se para a cidade de São Paulo e ingressou na Santa Casa de Misericórdia como cirurgião, onde granjeou renome pela impecabilidade de suas atitudes e pelo rigor ético que norteava sua vida profissional. Tratava seus pacientes com grande entusiasmo e carinho, sobremodo nos momentos de dor. 

Atuou como cirurgião pediátrico e foi o precursor da ortopedia em São Paulo. Da clínica que chefiou na Santa Casa, teve como médico adjunto outro ilustre cirurgião infantil e ortopedista, Luiz Manuel de Rezende Puech, que com ele aprendeu os primeiros passos. 

Delphino de Ulhôa Cintra atuou também no Instituto Bacteriológico de São Paulo. Quando ocorreu a fundação da Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo foi nomeado, em 1917, o primeiro lente da cadeira de pediatria, ocasião em que ministrou o curso de clínica pediátrica e puericultura. Tornou-se um dos mais renomados médicos de seu tempo no Brasil. 

Segundo seu biógrafo, Rubião Meira , Delphino Cintra “distinguia-se na faculdade não só por ser moço que estudava, como pela fidalguia de seus gestos, de sua palavra; pela nobreza que encarnava em sua pessoa. (…). Escrevia e trabalhava com amor.” 

Delphino Pinheiro de Ulhôa Cintra foi membro da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo. Trabalhou na Policlínica dessa entidade, ambulatório que tinha a finalidade de atender pacientes carentes, além de ter tido a honra de presidir esse sodalício num mandato anual entre 1923-1924. 

Pinheiro Cintra casou-se em 1926, na cidade de Aparecida, com Virgínia Rabello. 

J. Teixeira de Oliveira assim se referiu a Delphino Cintra: “Não fruiu as ruidosas vantagens da popularidade porque nunca foi ambicioso; porque era naturalmente refugido à curiosidade das turbas e jamais consentiu que os frutos de sua bondade fossem apreciados além dos limites das quatro paredes”. 

Em 1942, por ocasião do 25º aniversário como catedrático de pediatria, foi feita uma expressiva homenagem organizada por amigos, discípulos e admiradores a Delphino Pinheiro de Ulhôa Cintra, no Pavilhão Condessa Álvares Penteado da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Nessa efeméride estavam presentes Antonio de Padua Salles, provedor da Santa Casa; Benedicto Montenegro, diretor da faculdade; Synésio Rangel Pestana , diretor clínico da Santa Casa; Cardoso de Melo Neto, diretor da faculdade de direito; Oscar Rodrigues Alves, Henrique Armbrust e Renato Toledo dentre outros médicos e amigos. 

No início da solenidade falou em nome dos associados do Centro de Estudos “Dr. Pinheiro Cintra”, seu presidente, dr. Joaquim Leme da Fonseca, que, após comentar a obra de Delphino Pinheiro de Ulhôa Cintra como professor, cientista, profissional e amigo, passou a palavra à dra. Carlota Pereira de Queiroz9 , chefe do laboratório da clínica. Ela lembrou seu primeiro encontro com o homenageado. Era ainda estudante de medicina e fora aconselhada pelo professor Miguel Couto a procurar o professor Pinheiro Cintra – “um sábio e um grande professor”. Disse ainda: “Esta festa se passa na intimidade do lar científico. Quisemos, a princípio, fazê-la mais íntima, uma manifestação do nosso apreço e admiração pelo mestre e amigo. Mal, porém, divulgamos nosso intento, a homenagem assumiu aspecto de verdadeira consagração. A projeção de vosso nome, professor Pinheiro Cintra, não permite mais restrições. Da homenagem quiseram participar vossos alunos, colegas, admiradores e centenas de pais agradecidos pelas vidas dos filhos que lhes salvastes”. Ao final da cerimônia foi inaugurada no vestíbulo do Pavilhão Condessa Álvares Penteado, uma placa de bronze com a efígie do homenageado contendo os dizeres: “Dr. Delphino Pinheiro de Ulhôa Cintra. Professor de Clínica Pediátrica da Faculdade de Medicina, 1917-1942. Homenagem de seus amigos, colegas e discípulos por ocasião do seu jubileu profissional”. 

Por ocasião de seu passamento, assim se expressou o médico Ulysses Paranhos, um dos fundadores da Academia Paulista de Letras: “Desaparece levando a saudades de nós todos, que o amávamos e tínhamos por ele esse suavíssimo afeto (…). E qual de nós não se lembra se sua insinuante figura de rapaz, andando sempre às pressas como que receiando fazer esperar os doentes; e do seu sorriso inigualável que era como iluminura de sua fisionomia simpática, eternamente tranquila, onde nunca se refletiu o ódio nem se exteriorizavam o egoísmo e a inveja”. 

Delphino Cintra foi enterrado no cemitério da Consolação. Coube ao professor Rubião Meira, em nome da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, pronunciar à beira do túmulo a oração fúnebre, dizendo entre outras palavras: (…). “Foi atacado por uma insidiosa moléstia que o levou fora do país, onde faleceu. Delphino Cintra foi sempre leal companheiro; fidalgo no caráter; de espírito bondoso, caritativo, altruístra e cheio dessa coragem que é o apanágio da mocidade que não teme as asperezas da vida, não enxerga os desvios da estrada; vence as alturas e domina as multidões”. 

Juntamente com outros professores eméritos de pediatria, Delphino Pinheiro de Ulhôa Cintra recebeu homenagem perene (in memorian) no anfiteatro do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da FMUSP.  

NOTAS:

Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.

Parte dos dados aqui consignados foi obtida no Instituto da Criança do Hospital das Clínicas e no Museu Histórico “Professor Carlos da Silva Lacaz”, ambas, instituições da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 

Antônio Pinheiro de Ulhôa Cintra foi o primeiro presidente da Sociedade Médico-Cirúrgica de São Paulo, fundada em 7 de setembro de 1888. Instalada no edifício da Faculdade de Direito, reunia 70 sócios fundadores. Foi considerada a primeira sociedade médica da capital paulista. Contudo teve curta existência, sendo dissolvida em 1891. 

Antônio Barros de Ulhôa Cintra foi também reitor da Universidade de São Paulo (1960-1963) e secretário da Educação do Estado de São Paulo, ocasião em que criou a Fapesp – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. É o patrono da cadeira nº 33 da Academia de Medicina de São Paulo. 

Luiz Manuel de Rezende Puech foi o primeiro catedrático de ortopedia da Faculdade de Medicina de São Paulo. Presidiu a Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante um mandato anual entre 1920-1921. Juntamente com Luiz Ignácio Barros Lima e Achilles Ribeiro de Araújo fundou a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, tendo Rezende Puech a honra de ter sido seu primeiro presidente (1935-1936). Seu nome é honrado com a patronímica da cadeira nº 115 da augusta Academia de Medicina de São Paulo. ]

Domingos Rubião Alves Meira presidiu a Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, por meio mandato anual entre 1905-1906, e por um mandato anual entre 1911-1912, e é o patrono da cadeira nº 51 desse sodalício. 

Delphino Pinheiro de Ulhôa Cintra foi professor catedrático de 1917 a 1945. Informação contida no livro “Faculdade de Medicina – Reminiscências, Tradição, Memória de Minha Escola” de Carlos da Silva Lacaz (1985). 

Benedicto Augusto de Freitas Montenegro presidiu a Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, por um mandato anual entre 1952-1953, e é o patrono da cadeira nº 21 desse sodalício. 

Synésio Rangel Pestana presidiu a Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, por um mandato anual entre 1910-1911, e é o patrono da cadeira nº 116 desse sodalício. 

Carlota Pereira de Queiroz é a patronesse da cadeira nº 71 da Academia de Medicina de São Paulo. 

Domingos Rubião Alves Meira faleceu em 1946. Não se conseguindo a data de morte de Delphino Pinheiro de Ulhôa Cintra, infere-se que tenha falecido entre 1945 e 1946.