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Biografia

Durval Bellegarde Marcondes

Durval Bellegarde Marcondes nasceu no dia 27 de novembro de 1899. Em 1924, formou-se na Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 

O início de suas atividades ocorreu ainda em 1924, quando foi contratado para se dedicar à prática médica na Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. 

Em paralelo a seus afazeres médicos nessa secretaria estadual de educação, Durval Marcondes continuou seus estudos na própria Faculdade de Medicina. Tornouse psiquiatra no final de 1925 e logo se dedicou ao estudo das ideias psicanalíticas de Sigmund Freud, não somente aplicando-as em suas atividades clínicas particulares, mas também as difundindo em São Paulo.

Em 1926, já mergulhado em seus estudos da psicanálise, tornou-se um seguidor dedicado de Freud, o que o levou a enviar-lhe uma carta comunicando-lhe o início das atividades psicanalíticas na psiquiatria brasileira. A resposta de Freud trouxe-lhe não só o agradecimento pessoal por sua dedicação à psicanálise, mas, principalmente, o incentivo para que levasse adiante suas pretensões, pois Freud assim lhe escreveu: 

“…. Agradeço-lhe sinceramente pelo seu esforço esperando que tenha sucesso. Posso garantir que vale a pena aprofundar-se no assunto e que encontrará nele muitos esclarecimentos. Freud 18-XI-1926”. 

Durval Marcondes (Figura 1), antes mesmo de ter recebido esse incentivo pessoal de Freud, já caminhava a passos largos. Em 24 de outubro desse mesmo ano, junto com Francisco Franco da Rocha – o primeiro professor a assumir a cátedra de psiquiatria da Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo –, havia criado a Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Na primeira diretoria presidida por Franco da Rocha, Durval Marcondes foi o secretário-geral, e, anos depois, por três vezes, de 1944 a 1949; de 1955 a 1956, e de 1967 a 1969, o próprio presidente.

Durval Bellegarde Marcondes no final da década de 1930. 

Graças a seu empenho e ao empenho de seus colegas psicanalistas da segunda metade da década de 1940, quando a cultura europeia, emergindo do pós-guerra, retomava seu vigor, e a psicanálise brasileira começava a restabelecer seus antigos intercâmbios médico-culturais com os psicanalistas sul-americanos e europeus, ocorreu o que todos eles pretendiam: a admissão da Sociedade Brasileira de Psicanálise como filiada da International Psychoanalitical Association, durante seu congresso realizado em Amsterdã, em 1951. 

Todos esses seus afazeres de cunho profissional e cultural fizeram com que Durval Marcondes fosse considerado “O Fundador do Movimento Psicanalítico Brasileiro”. 

No âmbito acadêmico, fundamentalmente na Universidade de São Paulo (USP), Durval Marcondes construiu toda uma brilhante carreira didática. Além de ter contribuído ativamente para a sua fundação, ocupou, em seu Instituto de Higiene, hoje, Faculdade de Higiene e Saúde Pública da USP, os cargos de professor assistente das disciplinas de psicologia social (1934-1938) e de higiene mental e psicanálise (1934- 1937), e, finalmente, o cargo de professor titular das cátedras dessas disciplinas. 

Na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo tornou-se professor livre-docente da disciplina de psiquiatria em setembro de 1936, e, na Faculdade de Filosofia, também dessa universidade, organizou, em 1954, o primeiro Curso de Especialização em Psicologia Clínica. 

Além de psiquiatra, psicanalista e psicólogo dedicado à saúde mental infantil, Durval Marcondes foi poeta e crítico literário, e ainda, em sua juventude, marcou presença no movimento artístico-cultural mais importante de sua época e de sua cidade natal, a “Semana da Arte Modernista de 1922”. 

No âmbito da poesia e da literatura publicou em 1928 e em 1927 o poema denominado “Symphonia em Preto e Branco”, e os artigos com que ingressou na crítica literária fundamentada na psicanálise, denominados “Symbolismo Esthetico na Literatura” e “Sonho e Exame”, em cujos conteúdos abordou o simbolismo sob a óptica da psicanálise, esse último, referente ao texto “Casa e Pensão” de Aluízio de Azevedo. 

Durval Bellegarde Marcondes faleceu com 81 anos, no dia 27 de setembro de 1981, na cidade de São Paulo

NOTAS: 

Esta biografia é uma autoria do Acad. Noedir Antônio Groppo Stolf, Titular e emérito da cadeira nº 92 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Durval Bellegarde Marcondes. 

Pequenas inserções e adaptações do texto ao perfil desta secção, assim como as notas de rodapé foram feitas pelo Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.

Aditamento: Durval Bellegarde Marcontes fundou, em 1927, o Serviço de Higiene Mental nas instituições escolares. Organizou um grupo de “educadoras sanitárias”, que trabalhavam com atendimento clínico infantil e, de forma inovadora, em moldes interdisciplinares. Nos anos seguintes se empenhou na formação da Universidade de São Paulo como universidade modelo, onde foram criadas as primeiras cátedras brasileiras de psicologia, psicanálise e higiene mental. 

O lançamento da Revista Brasileira de Psychanalyse, em 1928, marcou o início das atividades da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, a primeira instituição psicanalítica da América Latina. Freud chegou a receber um exemplar da publicação e a responder por carta, incentivando sua continuidade. Em 1951 constituiu-se oficialmente a Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e, em 1967, a revista foi relançada por Marcondes, Virgínia Bicudo, Luiz Almeida Prado Galvão, Laertes Ferrão e Armando Ferrari. Desde então vem sendo publicada trimestralmente. 

Durval Bellegarde Marcondes foi o primeiro ocupante da cadeira nº 1, sob o patrono de Francisco Franco da Rocha, da Academia Paulista de Psicologia, silogeu fundado em 31 de dezembro de 1979; seu nome é honrado como patrono da cadeira no 92 da augusta Academia de Medicina de São Paulo.