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Biografia

Eurico da Silva Bastos

Eurico da Silva Bastos nasceu no ano de 1901 e era natural da cidade de Recife (PE). Anos mais tarde diria lembrando suas raízes: “A influência dominante na minha formação vem do ambiente doméstico onde nasci, todo ele impregnado das figuras queridas dos meus pais. Aí a crença católica e a cultura intelectual ocuparam, juntamente com a intransigência de caráter e o amor ao trabalho, o primeiro plano”.

Graduou-se em 1924 pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, quando defendeu a tese intitulada Alterações Hematológicas das Hemorragias Obstétricas, aprovada com distinção e premiada com a medalha de ouro “Visconde de Saboya”, anualmente conferida ao melhor trabalho sobre ginecologia ou obstetrícia.

Logo em seguida transferiu-se para a cidade de São Paulo, onde iniciou sua atividade profissional como interno do Sanatório Santa Catarina e, posteriormente, no serviço de cirurgia da Caixa de Aposentadoria e Pensões da Light.

Eurico Bastos era dinâmico, estudioso e organizado, conseguindo em pouco tempo se dedicar de forma brilhante na solução cirúrgica de problemas causados pela tuberculose pulmonar, assim como nas enfermidades do estômago, duodeno, vias biliares, sistema nervoso, além dos relacionados à traumatologia e à endocrinologia. Em sua época destacou-se como um estudioso do pâncreas, publicando diversos estudos que culminaram na monografia Cirurgia do Pâncreas, onde reunia os conhecimentos cirúrgicos da literatura médica, até então esparsos.

Em 1936 fez viagem aos Estados Unidos da América, onde visitou os maiores centros de cirurgia daquela nação.

Em 1940, após disputado concurso de provas e títulos, foi nomeado professor catedrático de técnica cirúrgica e cirurgia experimental na Escola de Medicina do Recife (PE), ocasião em que já era livre-docente da mesma disciplina na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Muito provavelmente inscreveu-se no concurso de Recife pelos liames afetivos que tinha com sua terra natal, como uma espécie de homenagem e gratidão. Contudo, havia se identificado profissional, social e culturalmente com São Paulo, cidade que adotara e que se radicara, e onde desenvolvia brilhante carreira universitária.

Com sua tese sobre Cardiomentopexia de O’Shaughnessy e Enfarte Experimental no Cão foi aprovado em 21 de dezembro de 1944, no concurso para professor catedrático da disciplina de técnica cirúrgica e cirurgia experimental, tendo como comissão examinadora os professores Benedicto Montenegro (presidente), Renato Locchi, Antônio Inácio de Menezes, Rivadavia Versiani Murta de Gusmão e Dante
Romanó.

Eurico da Silva Bastos foi paraninfo dos graduandos de 1947 da FMUSP, a primeira turma que o teve como professor da disciplina de técnica cirúrgica e cirurgia experimental. Assim, ele demonstrava que desde os primeiros dias de ensino conquistara seus alunos.

Foi também chefe da 3ª Clínica Cirúrgica do Hospital das Clínicas; diretor da FMUSP e presidente do Conselho Deliberativo do Hospital das Clínicas (1959-1963).

Destacou-se em cursos de extensão universitária; participou de várias bancas examinadoras em concursos de livre-docência e de cátedra em diversas escolas médicas do país; publicou 50 trabalhos científicos e pronunciou muitas conferências. Já foi também considerado por alguns como pioneiro da cirurgia de cabeça e pescoço em nosso meio.

Segundo Duílio Crispim Farina, patrono da cadeira nº 78 da Academia de Medicina de São Paulo, ele era “autêntico, puro, sincero; senhor de alto poder de comunicação; em suas exposições, conciso e preciso; a tudo se impunha sua personalidade marcante e despretensiosa. (…) São Paulo o nidou e o incorporou para sempre em sua História de trabalho, de bondade e de alta medicina… ”.

Eurico da Silva Bastos tinha espírito associativo e foi membro da Associação Paulista de Medicina; Sociedade Paulista de História da Medicina; Sociedade de Medicina e Cirurgia de Pernambuco (correspondente); American College of Surgeons (fellow); Academia de Medicina de São Paulo, tendo a honra de presidi-la num mandato anual entre 1959-1960. Da mesma forma foi membro do Colégio Brasileiro de Cirurgiões e o primeiro médico de São Paulo a ocupar a presidência dessa renomada entidade (1967-1969).

Alípio Correa Netto que o precedeu 12 anos na presidência da Academia de Medicina de São Paulo (1947-1948) e era seu companheiro de congregação na FMUSP, assim sublinhou a seu respeito: “o esforço, a probidade intelectual, tendo a seu serviço inteligência de escol, abriram-lhe os caminhos do sucesso no exercício da mais fascinante das profissões”.

Eurico da Silva Bastos recebeu, em 1985, do Colégio Brasileiro de Cirurgiões – Capítulo de São Paulo, o prêmio Benedicto Montenegro, destinado àquele que tenha contribuído de maneira inequívoca para o desenvolvimento da cirurgia brasileira.

Para Ernesto Lima Gonçalves, também ex-presidente da Academia de Medicina de São Paulo (1971-1972) e assistente e colaborador de Eurico da Silva Bastos, com quem durante muitos anos privou de permanente convívio, ele era “modesto como só sabem e podem ser os que são verdadeiramente grandes; caráter íntegro e reto associado a uma afabilidade de trato ímpar; inteligência lúcida que lhe permitia abarcar as grandes linhas de problemas, mas também espírito curioso e indagador, sempre em busca dos pormenores; tenaz dedicação ao trabalho e ao estudo, a ele se poderia aplicar a frase com que Rui Barbosa definia seu horário de pesquisa intelectual: ‘nunca o sol nascente ou nado me encontrou adormecido’”. Para aqueles que conviviam com o professor Eurico da Silva Bastos, o aspecto que mais impressionava a sua personalidade era o “espírito profundamente humanitário e cristão com que ele se dedicava a seus doentes, sem consideração de cor, classe social ou de nível econômico”.

Eurico da Silva Bastos após longa e produtiva carreira tornou-se professor emérito da FMUSP. Faleceu em 1991, nonagenário.

Seu nome é também honrado como patrono da cadeira nº 82 da augusta Academia de Medicina de São Paulo e numa escola estadual no município de Itapecerica da Serra (SP) que leva o seu nome.

NOTAS:

Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.