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Biografia

Felício Cintra do Prado

Felício Cintra do Prado nasceu em 20 de maio de 1900, na cidade de Amparo (SP). Fez o curso secundário na cidade de Itu (SP), no Colégio São Luís dos padres jesuítas. Ingressou em 1918 na Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), e graduou-se em 1923, apresentando a tese Síndrome Piramido-Palidal, trabalho galardoado com o Prêmio Sérgio Meira da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo. 

Iniciou sua vida devotando-se à neurologia, mas tinha como meta dedicar-se à gastroenterologia, à época, denominada de moléstias do aparelho digestivo e da nutrição. Em 1926 fez viagem de aperfeiçoamento à Europa, onde frenquentou diversos hospitais até 1928. Em Berlim, no Hospital Neukoeln, foi assistente voluntário do professor Rudolph Elamann. Aí, nesse serviço, reuniu material para o seu livro Colecistite e Patologia Gastrointestinal, editado em 1929 e prefaciado pelo eminente clínico do Rio de Janeiro, Miguel Couto, obra que recebeu o Prêmio Alvarenga da Academia Nacional de Medicina. 

Regressando a São Paulo, atuou como clínico geral e, posteriormente, tornou-se chefe do Serviço de Clínica Médica e membro do Conselho Diretor da Policlínica de São Paulo. 

Casou-se com Leonor do Prado em 4 de outubro de 1937, e desse conúbio nasceram sete filhos: Luiz Eduardo, Heloísa Campos Pupo, Eleonora Velloso Roos, Fernando, Maria Cristina Prestes Motta, Felício Cintra do Prado Jr. e Patrício. 

Com a criação da Escola Paulista de Medicina (EPM), Felício Cintra do Prado foi convidado para o cargo de professor catedrático de terapêutica clínica, em cuja instituição de ensino trabalhou por quase 30 anos (1937-1966)2 . Aí atuou não somente em sua disciplina, mas foi um ativo membro da congregação da faculdade. 

Dentre os cargos e funções que desempenhou, salientam-se: vice-presidente por dois mandatos da Associação Paulista de Medicina (1934-1940); presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo (1936); presidente da Associação dos Antigos Alunos da FMUSP (1942); presidente da Sociedade de Gastroenterologia e Nutrição também por dois mandatos (1950-1952); e presidente da Federação Brasileira de Gastroenterologia (1953-1954), entidade em que foi um dos fundadores, em 22 de outubro de 1949, juntamente com Antônio da Silva Melo3 (RJ), Júlio Croce, representando Benedicto Montenegro4 (SP); Galizzi, representando J. Romeu Cançado (RJ); e Geraldo Siffert (RJ). 

Felício Cintra do Prado ingressou em 3 de novembro de 1934 na Sociedade de Medicina e Cirurgia de São, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, tendo tido a honra de presidir esse sodalício num mandato anual entre 1953-1954. Foi também membro correspondente das seguintes entidades: Academia Nacional de Medicina da Argentina, Academia Teuto-Íbero-Americana de Medicina (Alemanha), Sociedade Francesa de Gastroenterologia, Sociedade Venezuelana de Gastroenterologia, Sociedade Uruguaia de Gastroenterologia e membro honorário da Associação Pan-Americana de Gastroenterologia. 

Felício Cintra do Prado muito contribuiu para o desenvolvimento da gastroenterologia clínica. Em 1968 foi eleito presidente do XX Congresso Brasileiro de Gastroenterologia, realizado, com sucesso, em São Paulo. 

Além de sua vida universitária, associativa e de dedicação à sua clínica privada, publicou mais de uma centena de trabalhos no Brasil e no exterior, salientando-se os seguintes periódicos: JAMA – Journal of the American Medical Association, American Journal of Diagnosis Diseases, Presse Medicale, La Prensa Medica Argentina e Deutsche Medizinische Wochenschrif. 

Escreveu ainda os seguintes livros: A Medicina e o Médico na Sociedade Contemporânea (1941); Curso de Dietética (1942); Clínica das Afecções do Estômago (1950); Curso de Atualização Terapêutica (1952, em coautoria com José Ribeiro do Valle); e Atualização Terapêutica (1957, em coautoria com José Ribeiro do Valle e Jairo Ramos ; com mais de 19 edições, foi um dos livros mais vendidos na área médica). 

Moacyr Pádua Villela , que o conheceu desde o 4º ano de seu curso na EPM, na então Policlínica da Rua do Carmo, refere que Felício Cintra do Prado era um “professor de alto gabarito e ministrava suas aulas com clareza e precisão. Durante nossa convivência por mais de três décadas, jamais apresentou um senão que nos desapontasse; uma palavra que desagradasse a alguém e pudesse ofender um semelhante seu; um gesto que não estivesse à altura de sua dignidade e de seu respeito; uma atitude que não correspondesse ao seu passado. Cavalheiro, fino no trato, elegante, esbelto, amigo de todos com quem ele convivia; de bom relacionamento e digno da amizade de todos.” 

Felício Cintra do Prado faleceu em 22 de fevereiro de 1983, aos 83 anos. Seu nome é honrado como patrono da cadeira nº 41 da augusta Academia de Medicina de São Paulo, e dá nome a uma rua no bairro de Vila Império da capital paulista. 

NOTAS: 

Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.

O ensino de gastroenterologia na EPM tem origem em 3 fontes: as cátedras de clínica de doenças do aparelho digestivo dirigida por Felipe Figliolini e a de terapêutica clínica dirigida por Felício Cintra do Prado, extintas em 1965; e a Secção de Gastroenterologia, que deu origem à atual disciplina de gastroenterologia, cujas raízes vêm de 1943. 

Antônio da Silva Melo (1886-1973) foi o quarto ocupante da cadeira nº 19 da Academia Brasileira de Letras. 

Benedicto Augusto de Freitas Montenegro foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante um mandato anual entre 1952-1953, e é patrono da cadeira nº 21 desse sodalício.

Felipe Figliolini, catedrático de clínica de doenças do aparelho digestivo da EPM, colaborou continuamente com Felício Cintra do Prado. Da 1ª à 8ª edição do livro Atualização Terapêutica (1957), foi o coordenador da secção “Aparelho Digestivo”. Felício Cintra do Prado, embora catedrático de terapêutica clínica, atuava profissionalmente como gastroenterologista. 

Jairo de Almeida Ramos foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante um mandato anual entre 1939-1940, e é patrono da cadeira nº 75 desse sodalício. 

Moacyr Pádua Villela foi membro emérito e o primeiro ocupante da cadeira nº 41 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Felício Cintra do Prado.