Giovanni Battista Libero Badaró
Giovanni Battista Líbero Badaró, mais conhecido simplesmente por Líbero Badaró, nasceu na Vila de Laigueglia, perto de Gênova (Itália), e mudou-se para o Brasil no ano de 1826. Seu pai era um médico liberal de extraordinária erudição, como atestam gravuras retratando sua imensa biblioteca.
Líbero Badaró estudou em Gênova e Bolonha antes de se formar em medicina, em agosto de 1825, pela Universidade de Turim. Recém-formado, decidiu ganhar o mundo. Tinha 28 anos, mas parecia mais velho. Era alto e magro, usava longas suíças e óculos de lentes redondas.
Ainda na Europa, publicou algumas obras técnicas, versando sobre fisiologia, zoologia e botânica.
Junto a outros médicos italianos, dentre os quais Cesare Zama de Faenza (pai do futuro tribuno César Zama, e que também teve um fim trágico), veio para o Brasil em 1826. Em 1828 se radicou na cidade de São Paulo, onde clinicava e dava aulas gratuitas de matemática.
Defensor do liberalismo, fundou e redigia o jornal “O Observador Constitucional”, surgido em 1829, impresso na tipografia O Farol Paulistano, a princípio, sob a direção de Badaró e Luís Monteiro d’Ornelas e, depois de meados de 1830, sob a direção exclusiva de Líbero Badaró. O jornal era liberal, mas de feição moderada, como o que Evaristo da Veiga imprimia no Rio de Janeiro, a Aurora Fluminense. Como este, granjeara em pouco tempo grande divulgação, o que lhe garantia a malquerença dos absolutistas.
Já no primeiro dia de circulação do “Observador Constitucional” escreveu: “não devia vegetar no Brasil a planta do despotismo”.
Comentou posteriormente nesse periódico acontecimentos da revolução de 1830 em Paris, notícia chegada ao Rio de Janeiro em 14 de setembro; a Revolução dos Três Dias em que Carlos X fora destronado em julho passado – exortando os brasileiros a seguirem o exemplo dos franceses.
Em sua obra Armitage diz: “O choque foi elétrico. Muitos indivíduos no Rio, Bahia, Pernambuco e São Paulo iluminaram suas casas por esse motivo. Excitaram-se as esperanças dos liberais e o temor dos corcundas, e estas sensações se espalharam por todo o Império por meio dos periódicos”.
Em São Paulo, os estudantes do curso jurídico tomaram a iniciativa: Luminárias, bandas de música e mais demonstrações de alegria praticadas pelos habitantes de São Paulo pelo derrubamento do governo tirano e anticonstitucional da França vieram a lume.
O de chefe do Poder Judiciário de São Paulo, o desembargador-ouvidor Candido Ladislau Japiaçu odiava especificamente Badaró, por tê-lo lançado no ridículo ao induzi-lo a revelar seu ignorante conservadorismo, censurando peças teatrais que não existiam.
Tais fatos assumiram para o ouvidor Cândido Ladislau Japiaçu a feição de atos criminosos e o levaram a processar alguns manifestantes, de preferência jovens estudantes. “O Observador Constitucional” abriu campanha em favor dos acusados e atacou Japiaçu, chamando-o “Caligulazinho”. A linguagem era viva e enérgica, mas não justificaria o desfecho violento.
Líbero Badaró, aos 20 de novembro de 1830, às 10 horas da noite, quando voltava para sua casa, na rua de São José (hoje Rua Líbero Badaró), sem perceber que era uma cilada, foi interpelado por quatro alemães, a pretexto de lhe entregarem uma correspondência contra o ouvidor Japiaçu, porém, recebeu deles, traiçoeiramente, uma carga de pistola.
A primeira pessoa a socorrê-lo foi o estudante de direito Emiliano Fagundes Varela, pai do futuro poeta Fagundes Varela. Entretanto, no dia seguinte, 21 de novembro de 1930, estava morto.
O principal responsável pelo ataque fora Henrique (ou Simão) Stock, alemão que se escondeu na casa do ouvidor. O povo, que queria justiça sumária, exigia a prisão de ambos.
O alemão Stock foi preso; Japiaçu continuou ameaçado e pediu asilo a um coronel. A exaltação do povo continuou e o Conselho de Governo da Província mandou para o Rio de Janeiro, sob a escolta, o ouvidor que fora denunciado. O padre Diogo Antônio Feijó, como membro do Conselho, teve parte ativa nas deliberações e, de sua iniciativa, partiram as principais medidas para a busca de punição aos culpados. O alemão Stock foi condenado pelo assassinato, mas Japiaçu, o “Caligulazinho”, foi inocentado.
Em seu leito de morte o médico e jornalista Líbero Badaró, que contava com apenas 32 anos (!), pronunciou uma frase que se tornou célebre como símbolo da defesa da liberdade de imprensa. “Morro defendendo a liberdade”. “Morre um liberal, mas não morre a liberdade”.
A contribuição de Líbero Badaró para a defesa da liberdade de expressão vai além da tragédia pessoal. É seu um dos primeiros escritos publicados no Brasil em defesa da liberdade de imprensa, refutando sempre a tese de que os abusos praticados pela imprensa justificariam o cerceamento da liberdade.
Com sua morte, aumentaram o descontentamento e as manifestações de protesto contra o absolutismo de D. Pedro I, que abdicou em 7 de abril de 1831.
Giovanni Battista Líbero Badaró é honrado como patrono da cadeira nº 60 da augusta Academia de Medicina de São Paulo.
NOTAS:
Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.