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Biografia

Guilherme Ellis

Guilherme Ellis (filho) teve como pais Maria do Carmo Cunha e William Ellis – também conhecido por Guilherme Ellis –, médico e cirurgião que veio da Grã-Bretanha para o Brasil, em 1832, no navio a vela “Perseverança”. Radicou-se na cidade de São Paulo, onde devotou 40 anos aos seus pacientes.

Guilherme Ellis era irmão de Alfredo Ellis, também médico. Após a sua graduação, Guilherme Ellis aprimorou seus estudos profissionais no exterior, tornando-se o que se chamava à época de “médico da moda”, ou seja, aquele que todos buscavam na ânsia de serem beneficiados pela sua ciência.

Segundo seu biógrafo Rubião Alves Meira, Guilherme Ellis “era alto, elegante, bem vestido, com atitudes cavalheirescas; muito fino, muito bem educado, respirando distinção sua figura. (…) Tinha o dom de encantar, excelente ‘causeur’, muito viajado e insinuante; atraía a atenção e criava simpatias”.

Guilherme Ellis foi médico de grade renome, muito respeitado e de vastíssima clientela. Numa época em que a varíola grassava em São Paulo, quando não existia nem vacinação e nem hospital de isolamento, ele era o mais procurado de todos os clínicos da capital paulista.

Era carinhoso com os pacientes, embora tivesse modos bruscos de mandão, pois era muito autoritário e imprimia energia em suas palavras. Não admita que se opusessem às suas opiniões. Entretanto, era bondoso e tratava a todos com afabilidade.

Guilherme Ellis, assim com seu pai, William Ellis, foi um dos expoentes da classe médica paulista no final do século XIX. Embora não tivesse sido um dos fundadores da insigne Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, nela ingressou em albores.

Dedicou-se com grande entusiasmo a esse neossodalício ao lado de SérgioMeira, Carlos José Botelho, Arnaldo Vieira de Carvalho, Bernardo de Magalhães, Miranda Azevedo e Mathias Valladão, que representavam o expoente da medicina de São Paulo. Teve também a honra de presidi-lo num mandato anual no crepúsculo do século XIX, precisamente entre 1899-1900, sendo o 5º presidente desse silogeu.

Ainda as palavras de Rubião Meira com relação a Guilherme Ellis: “Quando o conheci já não clinicava, senão de raro em raro, mas conservava sempre aquela verve brilhante que prendia os que o procuravam. A primeira vez que o vi foi em conferência com o professor Alves de Lima, que devia bem se recordar do fato, chamado que fui para medicá-lo. Estava com formidável epistaxe e, de pé, conservando a mesma elegância que nunca o abandonou, a deitar sangue pelo nariz, sangue que vinha aos borbotões. E ele não se assustava, mas pedia-me que fizesse parar aquela torneira rubra.

Dei-lhe, lembro-me bem, trinitrina e tudo cedeu. Era um fenômeno de hipertensão aquela epistaxe. Depois de longe em longe o via, mas nunca tive maiores contatos com sua figura atraente”.

Guilherme Ellis foi o primeiro diretor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Dedicou-se com amor a esse nosocômio, então incipiente, e, por ocasião de seu 25º aniversário, discursou, ressaltando o valor dessa entidade e demonstrando o que havia à época em que assumiu sua direção.

Atuou também como chefe de clínica na Real e Benemérita Sociedade Portuguesa de Beneficência, notável instituição que já prestava inúmeros serviços à população, sem distinção de classe ou nacionalidade. Desse hospital recebeu, em reconhecimento ao seu trabalho e dedicação, o título de “Sócio Cruz de Honra”.

Asseverou ainda Rubião Alves Meira que Guilherme Ellis “gozou de imenso prestígio que manteve até o fim de seus dias, sempre cercado por uma auréola de admiradores à sua íntegra personalidade. Por muitos anos foi recordado como um homem que fez o bem; soube fazê-lo e se manteve ereto no pedestal a que foi, em vida, guindado pelos contemporâneos”.

Guilherme Ellis é também honrado com a patronímica da cadeira nº 108 da augusta Academia de Medicina de São Paulo.

NOTAS:

Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.

A foto foi obtida na biblioteca “João Mendonça Cortez” do Hospital São Joaquim da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa de Beneficência, com a bibliotecária Elisandra Jacqueline Alfano Ribeiro.

William Ellis ou Guilherme Ellis (pai), além de ter um grande tirocínio clínico, tinha espírito caridoso, que lhe rendeu o epíteto de “médico dos pobres”. Ao falecer, em 1872, suas últimas palavras aos filhos médicos – Guilherme e Alfredo – foram um verdadeiro testamento moral: “Do pouco que deixo em bens materiais, nem um só ceitil foi adquirido à custa de uma lágrima de algum pobre. Deixo esta vida sem precisar me arrepender de qualquer ato; nunca, conscientemente, pratiquei um mal contra qualquer pessoa”. Por esse depoimento se pode muito bem aquilatar o lastro ético e humanitário em que foram lapidados seus diletos filhos.

Alfredo Ellis (1850-1925) formou-se pela Faculdade de Medicina da Filadélfia, nos Estados Unidos da América. Seguiu viagem de estudos por países da Europa. Fixou residência na cidade de São Paulo onde exerceu a medicina por vários anos, tornando-se muito respeitado. Em 1882 mudou-se para Rio Claro (SP) onde continuou atuando como médico. Acabou entrando na vida pública por causa de sua luta pela extinção da escravatura, sendo um dos primeiros fazendeiros a libertar incondicionalmente seus escravos.

Em 1891 assinou o mandato de deputado federal no primeiro Congresso Constituinte da República e, em 1903, foi eleito senador, exercendo o cargo até 1908. São de sua lavra os livros: “Discursos Pronunciados no Senado Federal” (1910) e “Raça de Gigantes” (1926, editado postumamente). Faleceu em 30 de junho de 1925, na cidade do Rio de Janeiro. Seu nome é honrado com uma rua no bairro da Bela Vista, na cidade de São Paulo

Domingos Rubião Alves Meira foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante meio mandato anual entre 1905-1906 e um mandato anual entre 1911-1912, e é o patrono da cadeira nº 51 desse sodalício.

Sérgio Florentino de Paiva Meira foi membro fundador da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, tendo tido a honra de ser seu oitavo presidente, exercendo dois mandatos anuais entre 1902-1903 e 1909-1910.

Carlos José Botelho foi membro fundador da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, tendo tido a honra de ser seu segundo presidente num mandato anual entre 1896-1897, e é o patrono da cadeira nº 55 desse sodalício.

Arnaldo Augusto Vieira de Carvalho foi membro fundador da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, tendo tido a honra de ser seu sétimo presidente, exercendo dois mandatos anuais entre 1901-1902 e 1906-1907, e é o patrono da cadeira nº 11 desse sodalício.

Bernardo de Magalhães foi membro fundador da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, tendo tido a honra de ser seu sexto presidente num mandato anual entre 1900-1901.

Augusto César de Miranda Azevedo teve a honra de ter sido o terceiro presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, num mandato anual entre 1897-1898.

Mathias de Vilhena Valladão foi membro fundador da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, tendo tido a honra de ser seu quarto presidente num mandato anual entre 1898-1899, e é o patrono da cadeira nº 13 desse sodalício.

João Alves de Lima foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante dois mandatos anuais entre 1907-1908 e 1913-1914.