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Biografia

João Alves de Lima

João Alves de Lima, mais conhecido por Alves de Lima, nasceu em 30 de junho de 1872, na cidade de Piracicaba (SP). Bacharelou-se pelo Colégio Pedro II, na cidade do Rio de Janeiro, em ciências e letras. 

Enquanto contava com 17 anos, partiu para a Europa com o intuito de estudar medicina. Realizou seu sonho na Faculdade de Medicina de Paris, onde foi aluno de grandes nomes da medicina da época, tais como Faraboeuf, Cornil, Gautier, Dieulafoy, Guyon, dentre outros. Graduou-se em 1897, defendendo a tese De la Fréquence des Lesions Annexièlles dans les Rétrodeviations Douloureuses de l’Uterus. Nessa ocasião obteve o diploma d’État, que lhe dava o direito de exercer a profissão na França. 

De regresso ao Brasil, iniciou sua atividade profissional em 1898 na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, onde durante 36 anos foi chefe da 2ª Clínica Cirúrgica. 

Alves de Lima pertencia a uma tradicional família paulista. Casou-se com uma filha dos barões de Piracicaba que o puseram ainda em maior destaque na sociedade. 

De acordo com seu biógrafo Rubião Meira, Alves de Lima foi “um dos mais completos cirurgiões que o Brasil já possuiu. Operador de raça, tinha rara elegância Francês até a medula dos ossos, operava com rapidez e acerto; diagnosticava com precisão e tinha encantos que seduzia a clientela. Era simpático, muito vivo, muito culto e inteligente. Era muito cotado na sociedade paulista e elemento de destaque na elite intelectual.” 

Alves de Lima foi membro da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, tendo tido a honra de presidir esse sodalício durante dois mandatos anuais entre 1907- 1908 e 1913-1914. Era também membro da Sociedade de Cirurgia de Paris e do American College of Surgeons

Teve grande clientela na capital paulista, sobremodo de pacientes oriundos das colônias francesa e síria. Houve época em São Paulo que, com Arnaldo Vieira de Carvalho e Cândido de Camargo, dominou a cirurgia, constituindo-se os três, os maiores cirurgiões de seu tempo. 

Alves de Lima foi redator-proprietário da “Gazeta Clínica”, periódico fundado em 1904 com a colaboração de Xavier da Silveira, Bernardo de Magalhães, Nicolau de Moraes Barros e Rubião Meira. Nessa revista publicou parte de seus artigos de cirurgia. 

Carlos da Silva Lacaz, seu outro biógrafo, refere que Alves de Lima foi “o introdutor, entre nós, da neurocirurgia”. Por sua vez, Iseu Affonso da Costa assevera que ele, em 1905, foi o primeiro a praticar uma sutura cardíaca em nosso país, comunicando esse feito à Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo. 

Dentre os diversos artigos por ele publicados, salientam-se: “Abscesso do Fígado” (1898); “Um Caso de Parto Duplo” (1898); “Cura Radical das Hérnias” (1898); “Abscesso Inguinoescrotal Simulando Hérnia Estrangulada” (1901); “Meningite Purulenta e Necrose da Sela Túrcica” (1901); “Drenagem Contínua da Ascite Consecutiva a Cirrose do Fígado” (1901); “Traumatismo da Região Lombar, Paralisia, Laminectomia, Cura” (1907); “Fratura do Crânio, Hemiplegia, Craniotomia, Cura” (1908); “Um Caso de Craniotomia” (1912); e “Craniotomia por Ferimento Penetrante” (1913). 

Comunicação do caso de sutura cardíaca realizada por João Alves de Lima no Boletim da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo. 

Com a fundação da Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Alves de Lima tornouse – a convite de Arnaldo Vieira de Carvalho – professor de clínica cirúrgica para os alunos do 5º ano. Nessa instituição de ensino foi durante vários anos vicediretor, mas nunca quis ser diretor, pois seus diversos afazeres não lhe permitiam que se dedicasse com afinco a esse cargo. 

João Alves de Lima, enquanto professor de clínica cirúrgica da Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo. 

Na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo apreciava operar diante dos alunos, que admiravam seus diagnósticos e sua grande destreza cirúrgica. Nesse nosocômio protagonizou, juntamente com amigos, a construção do Pavilhão de Cirurgia, onde teve seu serviço instalado em dois andares, com sala cirúrgica privativa. 

Alves de Lima fez estágio de aperfeiçoamento na famosa Clinica Mayo, nos Estados Unidos da América, em 1921. 

Foi um dos fundadores da Associação Paulista de Medicina em 1930 e, em 1933, enquanto dignitário máximo dessa instituição, presidiu o Congresso Médico Paulista, que foi encerrado com um banquete nos salões do Clube Comercial, com a presença de Armando Sales de Oliveira , então interventor federal em São Paulo. Foi também um dos entusiastas e fundadores do Liceu Franco-Brasileiro, hoje, Liceu Pasteur, tendo sido eleito vice-presidente e exercido a presidência por diversas vezes nessa instituição. 

Carlos da Silva Lacaz refere que “além da cultura eminentemente cirúrgica, Alves de Lima possuía espírito dotado de contínua curiosidade intelectual, embora não alardeasse essa sua qualidade. Durante muitos anos, com grande regularidade, lia e anotava todos os números da famosa ‘Revue de Paris’. Sem esquecer, em absoluto, as linhas dominantes de sua formação intelectual, tinha mentalidade amplamente aberta para os pendores progressistas de seu tempo. Cirurgiões dos mais hábeis, operava com enorme destreza e ensinava com as mãos. Foi sem dúvida um triunfador e viveu sempre cercado de larga estima pública.” 

Em decorrência de relevantes serviços prestados à Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, Alves de Lima recebeu dessa instituição de benemerência os títulos de “Irmão Benfeitor” e “Irmão Protetor”. Após a sua morte, por iniciativa de Synésio Rangel Pestana, a mesa administrativa, numa justa homenagem, deu o seu nome à sala de operações do Pavilhão de Cirurgia de Homens, constando essa deferência numa placa de bronze. 

João Alves de Lima faleceu em 7 de novembro de 1934, aos 62 anos, ocasião em que era vice-diretor clínico da Beneficência Portuguesa e do Sanatório Santa Catarina. A oração fúnebre a ele dedicada tanto na FMUSP quanto na APM, foi proferida pelo seu grande amigo, Rubião Meira. 

Alípio Corrêa Netto, eminente cirurgião brasileiro e aluno do professor João Alves de Lima, fascinado pela figura desse mestre, dedicou-lhe uma avantajada obra intitulada “Um Mestre da Cirurgia – Biografia do Professor Dr. João Alves de Lima” (1963), prefaciada pelo professor Pedro de Alcântara. 

João Alves de Lima é honrado também com uma rua no bairro do Brás, na cidade de São Paulo.  

NOTAS:

Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.

Domingos Rubião Alves Meira foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante dois mandatos anuais entre 1905-1906 e 1911- 1912, e é o patrono da cadeira nº 51 desse sodalício. 

Arnaldo Augusto Vieira de Carvalho foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante dois mandatos anuais entre 1901-1902 e 1906-1907, e é o patrono da cadeira nº 11 desse sodalício. 

Antônio Cândido de Camargo foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante um mandato anual entre 1915-1916, e é o patrono da cadeira nº 66 desse sodalício. 

Bernardo de Magalhães foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante um mandato anual entre 1900-1901. 

Nicolau de Moraes Barros foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante um mandato anual entre 1912-1913, e é o patrono da cadeira nº 17 desse sodalício. 

Carlos da Silva Lacaz foi presidente da Academia de Medicina de São Paulo durante um mandato anual entre 1962-1963, e é o patrono da cadeira nº 53 desse sodalício. 

Professor emérito da Universidade Federal do Paraná. 

Armando Sales de Oliveira foi engenheiro graduado pela Escola Politécnica de São Paulo, político, interventor federal em São Paulo entre 21 de agosto de 1933 e 11 de abril de 1935, e governador eleito pela Assembleia Constituinte de 11 de abril de 1935 a 29 de dezembro de 1936. 

Synésio Rangel Pestana foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante um mandato anual entre 1910-1911, e é o patrono da cadeira nº 116 desse sodalício. 

Alípio Corrêa Netto foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante um mandato anual entre 1947-1948, e é o patrono da cadeira nº 12 desse sodalício.