João Alves Meira
João Alves Meira nasceu em São Paulo (SP), em 12 de maio de 1905. Sua formação escolar inicial foi realizada no Curso Primário na Escola Modelo Caetano de Campos e no Ginásio do Estado da cidade de São Paulo. Influenciado pelo exemplo de seu pai, Domingos Rubião Alves Meira matriculou-se na Faculdade de Medicina e Cirurgia em 15 de fevereiro de 1922, graduando-se em 1927, ano em que foi presidente do Centro Acadêmico Oswaldo Cruz dessa instituição.
Desde o início, sua carreira profissional foi dirigida para a docência e a pesquisa em clínica médica e em doenças tropicais. Assim sendo, foi assistente de clínica médica na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e, posteriormente, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). De 1931 a 1934, foi o primeiro assistente de parasitologia, cuja cátedra era exercida pelo professor Samuel Barnsley Pessoa.
Obteve doutorado em 1928, com a tese Nephrose Lipoídica e a livre-docência em clínica de moléstias tropicais, em 1937.
Foram de grande importância para sua formação em doenças infecciosas e parasitárias os cursos e estágios que seguiu nessa especialidade nos Estados Unidos da América do Norte, nos anos de 1941 e 1942. Assim, frequentou a Tulane University of Louisiana, School of Medicine, em Nova Orleans e a Duke University Medical School, em Durhan, Carolina do Norte, com bolsas de estudo da The American Foundation for Tropical Medicine e da The Rockefeller Foundation. Nessas universidades teve o privilégio de ser orientado por Ernest Carrol Faust e Mark Boyd, notáveis pesquisadores das áreas de parasitas intestinais e malária, respectivamente. Completou o Curso de Medicina Tropical e Parasitologia Clínica na Tulane University, em primeiro lugar.
Em 1944 dirigiu o Hospital Evandro Chagas, do Serviço Especial de Saúde Pública (Sesp), do Ministério da Educação, em Belém do Pará. De 1945 a 1963 exerceu a cátedra de diagnóstico de doenças transmissíveis da Faculdade de Saúde Pública da USP.
Com sólida formação em clínica médica, experiência em laboratório, conhecimento profundo e especializado do corpo de doutrina de doenças tropicais, além de competência em ensino e pesquisa, disputou e conquistou em 1951, a cátedra de doenças tropicais e infecciosas da FMUSP. Durante o concurso, defendeu a tese Esquistossomose Mansoni Hépato-Esplênica, que incluía a descrição minuciosa dos achados em 64 pacientes por ele estudados. Nesse trabalho, fez a análise clínica e fisiopatogênica dos dados colhidos e confrontados com os da literatura, estabeleceu as relações com a síndrome de Banti e com cirrose hepática, em geral.
Foram várias suas realizações como catedrático: reorganizou o curso de graduação; instituiu o internato no sexto ano médico e a residência na especialidade; criou, organizou e ministrou o Curso de Pós-graduação em Doenças Infecciosas e Parasitárias da FMUSP. Finalmente, transformou a disciplina em departamento, condição privilegiada no contexto do ensino, pesquisa e administração acadêmica na universidade.
Em outubro de 1958 participou, juntamente com os professores Carlos da Silva Lacaz e Antônio Dácio Franco do Amaral, da criação do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo da USP.
Presidiu comissão formada por diretores de unidades da USP, atendendo à solicitação do governador Carvalho Pinto, que propôs a criação da Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu (SP). Após a criação dessa faculdade, em 1962, tornou-se seu primeiro diretor, cargo que exerceu até 1963. Nesse período foi realizado o primeiro vestibular e dada a aula inaugural. Deixou a direção dessa faculdade por ter sido nomeado diretor da Faculdade de Medicina da USP, tendo cumprido dois mandatos consecutivos até 1970.
Teve mais de uma centena de trabalhos publicados em revistas nacionais e estrangeiras, dos quais 55 desde a sua formatura, em 1927, até o concurso de cátedra, em 1951. Desses trabalhos, 16 versavam sobre aspectos da esquistossomose mansoni.
A trajetória de João Alves Meira como professor de medicina e especialista em clínica de doenças infecciosas e parasitárias foi muito além da simples responsabilidade profissional. Como autêntico líder acadêmico, abriu caminhos e influenciou a criação de outros núcleos de ensino e pesquisa em doenças tropicais em São Paulo e no país. Acima de tudo, sua obra foi desenvolvida sempre com justiça e dignidade. O que foi por ele construído permanece até hoje, com importância fundamental na formação de profissionais que atuam na especialidade.
NOTAS:
Esta biografia é uma autoria do Acad. Domingos Alves Meira, titular e emérito da cadeira no 32 da Academia de Medicina de São Paulo, sob o patrono de João Alves Meira.
Pequenas inserções e adaptações do texto ao perfil desta secção, assim como as notas de rodapé foram feitas pelo Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.
João Alves Meira teve a honra de presidir a insigne Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, por um mandato anual entre: 1949-1950.
