PortugueseEnglishSpanish
Biografia

José Pedro da Silva

José Pedro da Silva nasceu em 21 de abril de 1947, na Fazenda da Faca, em Pirajuí, no centro-oeste do estado de São Paulo, distante 386 quilômetros da capital. Seus pais, camponeses, foram Pedro Quirino da Silva e Elizia de Oliveria da Silva. 

Estudou na zona rural e, sem cursinho, ingressou, em Botucatu, na Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), graduando-se em 1973. 

Para se manter na universidade, fazia retratos. Assim declarou certa feita: “Pintei todas as debutantes da cidade”. 

Fez residência em cirurgia cardiovascular no Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (Iamspe, 1974-1976) e aprimoramento em cirurgia torácica e cardiovascular nos Estados Unidos da América (EUA), durante quatro anos, na Cleveland Clinic Foundation, em Ohio, como special fellow (1977-1978); clinical fellow (1979); e associate staff (1980). Em Boston, Massachusetts, se desenvolveu nas principais técnicas de cardiopatias congênitas complexas. Passou também pela Universidade de Stanford, na Califórnia, onde acumulou trabalhos em transplantes cardíacos no centro mais avançado à época. 

José Pedro da Silva atua particularmente na doença coronariana – revascularização do miocárdio; transplante cardíaco, anomalia de Ebstein, transposição das grandes artérias e síndrome do coração esquerdo hipoplásico. 

Com criatividade, José Pedro da Silva desenvolveu várias técnicas cirúrgicas para problemas cardíacos graves. Inventou um filtro arterial que diminui a chance de acidente vascular cerebral, uma das complicações mais dramáticas das cirurgias cardíacas. 

Antes mesmo de a artéria mamária ser considerada o melhor enxerto nas cirurgias coronárias, desenvolveu a técnica da mamária sequencial, onde ela é usada para duas ou mais coronárias, aproveitando-se melhor a potencialidade desse enxerto. 

Publicou no Journal of Thoracic and Cardiovascular Surgery uma técnica cirúrgica inovadora para o tratamento da ruptura do septo interventricular, que foi adotada por outros cirurgiões e é referência nos melhores livros-textos americanos sobre o assunto. 

Na área de transplantes cardíacos, José Pedro da Silva foi o primeiro cirurgião da América Latina a realizar com sucesso o transplante de coração e pulmões em bloco. Também fez o primeiro transplante de coração heterotópico (dois corações) do Brasil. 

Na área da cirurgia cardíaca em crianças José Pedro da Silva teve, em 1993, duas inovações: A primeira diz respeito à translocação da artéria pulmonar para o tratamento da transposição das grandes artérias com comunicação interventricular e estenose pulmonar. Essa técnica, publicada em 2001 no Annals of Thoracic Cardiovascular Surgery, é uma alternativa à cirurgia de Rastelli, que utiliza uma prótese em substituição à artéria pulmonar e implica em novas cirurgias com o crescimento da criança. Os resultados preliminares foram animadores porque mais de 60% das crianças dispensaram nova cirurgia. A segunda foi para a correção da anomalia de Ebstein , uma malformação grave. Essa técnica, que apresentou baixo risco, foi publicada no Journal of Thoracic and Cardiovascular Surgery em 20074 , e logo médicos dos principais centros de cardiologia do Japão e Inglaterra enviaram profissionais para aprender com ele . 

Da mesma forma, na cirurgia de congênitos, conseguiu os primeiros resultados positivos com o tratamento de crianças que nascem com a Síndrome da Hipoplasia do Coração Esquerdo, doença congênita gravíssima em que a criança apresenta apenas o lado direito do coração funcionando. Até 1980, essa síndrome não tinha cura. Em 1999, José Pedro da Silva conseguiu o primeiro caso brasileiro de sucesso, que passou pelos três procedimentos cirúrgicos necessários para a correção dessa anomalia. Obteve anos mais tarde 80% de sucesso no primeiro estágio cirúrgico, o que o colocou como referência nessa cirurgia, no Brasil. 

José Pedro da Silva é médico cirurgião cardiovascular dos hospitais: Beneficência Portuguesa (desde 1980; assistente do professor Euryclides de Jesus Zerbini , 1983; e diretor de equipe, a partir de 1984); Albert Einstein, Sírio Libanês e Oswaldo Cruz. 

José Pedro da Silva.

É, desde 2007, revisor de artigos da Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular e do Journal of Thoracic and Cardiovascular Surgery.

Dentre as entidades de que participa salientam-se: Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (desde 1990), Sociedade Brasileira de Cardiologia, Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, Sociedade Paraibana de Cardiologia (benemérito, 1993); The Society of Thoracic Surgeons (1995); Academia de Ciências de Nova Iorque e American Association for Thoracic Surgery (2006).

Ingressou na Academia de Medicina de São Paulo em 8 de maio de 1989,

galgando a condição de membro honorário desse sodalício.

Obteve o título de doutor pela Universidade de São Paulo, com a tese Nova Técnica Cirúrgica para a Correção da Anomalia de Ebstein: Resultados Imediatos e em Longo Prazo (2008), tendo como orientador Miguel Barbero-Marcial.

Dentre os prêmios, e honrarias recebidos salientam-se: Prêmio Academia de Medicina de São Paulo pelo trabalho “Transplante Cardiopulmonar: Experiência Clínica Inicial” (1990); mérito científico Professor Doutor Euryclides de Jesus Zerbini da Sociedade Sul-Mineira de Cardiologia (1997); honra ao mérito – Personalidade do Ano – pelo Hospital Samaritano (1998); Prêmio Nacional de Cirurgia Cardíaca com o trabalho “Anomalia de Ebstein: Plastia com Reconstrução Cônica da Valva Tricúspide” da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (2003); honra ao mérito Dr. Paulo Frota da Sociedade Sul-Mineira de Cardiologia (2003); moção de aplausos pela Câmara Municipal de Bauru; e Prêmio ABC de melhor artigo original com o trabalho “A Técnica do Cone para Correção da Anomalia de Ebstein – Resultados Imediatos e Tardios” (2011) dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia.

José Pedro da Silva publicou 33 trabalhos em revistas do Brasil e do exterior; quatro capítulos em livros; e 56 trabalhos em anais de congressos. Foi o tradutor da obra “Atlas de Cirurgia Cardíaca” (1990).

Participou de bancas examinadoras, sendo uma de qualificação de doutorado e cinco de doutorado. Fez-se presente em 343 congressos e simpósios realizados no Brasil e no exterior.

José Pedro da Silva acredita que “médicos têm um pouco de super-heróis”. Joseph A. Dearani, cirurgião cardíaco da Mayo Clinic, assim o apresentou nos Estados Unidos da América, no encontro anual da Sociedade de Cirurgiões Torácicos, em 2012: “O homem que mudou o mundo”.

José Pedro da Silva é pai de três filhos: duas mulheres e um homem. Nas raras folgas que possui tem como passa-tempo pintar, jogar xadrez e caminhar na praia.

NOTAS:

Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.

 Revelou numa entrevista que, por sua mãe não ter sido vacinada, sofreu ao nascer de tétano umbilical e foi desenganado. Um médico chegado do Rio de Janeiro, com a recém-lançada penicilina na mala, o salvou. Seu pai também foi salvo de uma tuberculose por um médico brincalhão, cuja lembrança nunca o abandonou. 

Anomalia de Ebstein é malformação congênita cardíaca, complexa e grave, caracterizada por uma anomalia da valva tricúspide — cuja abertura é deslocada em direção ao ápice do ventrículo direito —, o que causa sua “atrialização” e difuculta o sangue de circular pelos dois lados do coração. O paciente geralmente apresenta fadiga, dificuldade de respirar, cianose, arritmia e insuficiência cardíaca congestiva. Apesar de rara, a doença está associada a casos de morte súbita, inclusive, na fase infantil. Sua técnica consiste na realização de uma plástica na valva tricúspide através da feitura de um cone com tecido autólogo (do próprio paciente), a fim de que o sangue percorra seu caminho natural, evitando novas cirurgias. Antes desse procedimento, o paciente passava por substituição da valva tricúspide e necessitava de reoperações a cada dez anos. Assim José Pedro da Silva se expressou numa entrevista: “Minha preocupação ao criar a técnica foi a de evitar reoperações, já que as próteses utilizadas nas substituições valvares tendem a se calcificar, principalmente em pacientes jovens. Outras técnicas já eram utilizadas no mundo, porém com taxa significativa de insucesso em curto ou longo prazo”. 

The Cone Reconstruction of the Tricuspid Valve in Ebstein’s Anomaly. The Operation: Early and Midterm Results”. Journal of Thoracic and Cardiovascular Surgery 133: 215-223, 2007. 

Esse feito o fez recomendado pelo Children’s Hospital de Boston, ligado à Universidade de Harvard, para casos complicados. Tornou-se alvo de peregrinação – A família de uma criança americana, salva por ele, criou a Ebstein’s Anomaly Foundation –, fundação que custeia a vinda de médicos ao Brasil para aprender a técnica. José Pedro da Silva também demonstrou essa técnica no Royal Brompton Hospital, em Londres. Nas cirurgias que realizou na Beneficência Portuguesa, teve dentre outros visitantes os doutores Emile Bacha, professor da Universidade de Harvard e cirurgião do Children’s Hospital, em Boston, e Joseph A. Dearani, cirurgião da Mayo Clinic, referência mundial em correção de Ebstein.

Euryclides de Jesus Zerbini é o patrono da cadeira nº 29 da Academia de Medicina de São Paulo. 

Oswaldo Gonçalves Cruz é o patrono da cadeira nº 99 da Academia de Medicina de São Paulo.