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Biografia

José Pereira Gomes

José Pereira Gomes, também conhecido simplesmente por Pereira Gomes, nasceu em Itapetininga, em 21 de agosto de 1882. Aí estudou na Escola Normal e demonstrou pendor para a poesia. Foi orador de sua turma de jovens professores e exerceu o magistério primário na cidade de São Paulo, entre 1899 e 1903.

Em 1899 fundou “A Jacy”, um jornal literário que posteriormente tornou-se uma revista, onde tinha a colaboração de diversos colegas, destacando-se Amadeu Mendes.

Ingressou na Faculdade Nacional de Medicina na cidade do Rio de Janeiro em 1904, interessando-se pela oftalmologia ainda na condição de acadêmico, tendo sido interno dos professores Abreu Fialho e Rêgo Lopes.

Pereira Gomes era talentoso desenhista, referiu seu biógrafo e também oftalmologista Sylvio de Almeida Toledo. Fez, sob o pseudônimo de “Pego”, numerosas charges na revista “Fon-Fon”. Da mesma forma, sob suas mãos foram caricaturados renomados lentes de sua época na Faculdade Nacional de Medicina, tais como Silva Santos, Feijó Júnior, Marcos Cavalcanti, Simões Corrêa, Almeida Magalhães, Miguel Couto, José Martins Teixeira, Paes Leme, Leitão da Cunha, Azevedo Sodré, Abreu Fialho e Pedro Severiano de Magalhães, alcunhado de “Flexão”.

Pereira Gomes manteve contato com diversos escritores, poetas e jornalistas de seu tempo que, aliás, era de grande efervescência intelectual e literária. Tornou-se amigo do médico e afamado poeta paulista Martins Fontes, o qual, posteriormente, diria que ele tinha “alma perfeita de artista”.

Pereira Gomes teve, em 1908, sob a coordenação de Nelson Líbero, o privilégio de participar da embaixada acadêmica que representou o Brasil no I Congresso LatinoAmericano de Estudantes em Montevidéu, no Uruguai. Em 1909 foi indicado pelo barão do Rio Branco para integrar a delegação de estudantes brasileiros que representaram o país nas comemorações do acordo concernente ao Tratado do “Condomínio da Lagoa Mirim”, lagoa transfronteiriça entre o Brasil e o Uruguai.

José Pereira Gomes diplomou-se em medicina em 1909, defendendo a tese de doutoramente intitulada Estudo Clínico do Reumatismo Tuberculoso Articular, sendo aprovado com distinção.

Após a sua formatura retornou a Itapetininga, onde lecionou francês na Escola Normal entre 1910 e 1912, ocasião em que era diretor desse estabelecimento o renomado educador Pedro Voss.

Em 1912 transferiu-se para a capital paulista, passando a trabalhar na 1ª Clínica de Olhos da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, sob a chefia de Euzébio de Queiroz Mattoso. Em 1914 viajou à Europa, tendo como objetivo aprimorar seus conhecimentos oftalmológicos.

Após seu regresso ao Brasil tornou-se assistente da disciplina de oftalmologia da Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo (1916-1936), instalada em 14 de fevereiro de 1916, e tendo como primeiro professor catedrático João Paulo da Cruz Britto. Em 1920 tornou-se chefe da 1ª Clínica de Olhos da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Em decorrência de suas excepcionais habilidades como cirurgião, seu
serviço começou a atrair grande número de estudiosos de sua especialidade.

Novamente seu biógrafo, Sylvio de Almeida Toledo, que lhe dedicou um belo ensaio, refere que “a todos Pereira Gomes paternalmente orientava, fornecendo um tema para estudo ou tese, e colocando à disposição dos interessados sua biblioteca particular, rica em obras de medicina, literatura nacional e alienígena, onde apreciava receber os amigos em ambiente acolhedor. (…). Tinha grande cultura humanística; era autêntico líder a quem foi dado realizar um profícuo trabalho construtivo para o bem da ciência e da cultura”.

Pereira Gomes foi um dos fundadores da escola oftalmológica paulista e mestre invulgar. Juntamente com João Paulo da Cruz Britto e João Penido Burnier, elevou a reputação da oftalmologia paulista, formando numerosos seguidores. Trabalhou ativamente na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo até 1956, lugar que ele considerava o prolongamento de seu próprio lar.

José Pereira Gomes foi membro da insigne Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, tendo tido a honra de presidir esse sodalício por dois mandatos anuais não consecutivos, entre 1927-1928 e 1950-1951.

Pereira Gomes também contribuiu ativamente na fundação do “Instituto Padre Chico”, obra de benemerência e auxílio aos cegos paulistas. Em sua primeira gestão à frente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, organizou, em 7 de setembro de 1927, a Semana Oftalmo-Neurológica, ocasião em que pediu recursos para auxílio aos portadores de cegueira, que eram em número cada vez mais crescente e estavam completamente desamparados. Sensibilizaram-se com essa ideia autoridades estaduais, municipais e eclesiásticas, sendo designada pelo então arcebispo de São Paulo, dom Duarte Leopoldo e Silva (1867-1938), uma comissão de senhoras para a concretização dessa obra que, recebeu doação de terreno em 18 de fevereiro de 1928, e se chamou “Instituto Padre Chico”, em homenagem ao venerando monselhor Francisco de Paula Rodrigues, figura eminente do clero paulista, falecido em 21 de junho de 1915.

Carlos da Silva Lacaz, seu outro biógrafo que também o sucedeu na presidência da Academia de Medicina de São Paulo (1962-1963), refere que Pereira Gomes era um “médico de probidade impecável, cidadão exemplar, notável oftalmologista e hábil cirurgião especializado. Até 1955 havia operado cerca de 5.000 cataratas durante o período que exerceu a chefia da 1ª Clínica de Olhos da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. (…). Foi, indiscutivelmente, uma das mais expressivas figuras da oftalmologia brasileira”.

José Pereira Gomes faleceu em São Paulo, aos 14 de setembro de 1968, contando com 86 anos de idade. É honrado como patrono da cadeira nº 80 da augusta Academia de Medicina de São Paulo, e dá nome a uma rua no bairro Jardim das Meliunas na capital paulista.

NOTAS:

Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.

João Paulo da Cruz Britto é honrado como patrono da cadeira nº 27 da Academia de Medicina de São Paulo.