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Biografia

Mário Yahn

Mário Yahn nasceu aos 4 de julho de 1908, na cidade de Campinas. Era filho de Henrique Yahn e Ema Yahn. Fez o curso primário na escola Alemã (1916) e no 3ª Grupo Escolar (1916-1920); e o curso secundário no Ginásio do Estado (1921-1926), todos na cidade de Campinas. 

Mário Yahn iniciou o curso universitário na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (1927), transferindo-se para Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Graduou-se em 1932, ocasião em que defendeu a tese A Sulfopiretoterapia na Paralisia Geral Progressiva, aprovada com grande distinção pela banca examinadora constituída pelos professores Enjolras Vampré , Celestino Bourroul e Rubião Meira. 

Foi interno no Hospital Central de Juquerí (1931-1932), cargo exercido por nomeação. Nesse nosocômio foi médico assistente, alienista substituto (1934-1938), médico psiquiatra, ocupando essa função de agosto de 1938 a 1951, ocasião em que passou a ser chefe da secção feminina. 

Em 1933 trabalhou como assistente voluntário na clínica neurológica da FMUSP dirigida pelo professor Vampré. 

Em 1938 tornou-se o primeiro assistente da cadeira de neurologia da Escola Paulista de Medicina chefiada pelo professor Fausto Guerner. Continuou atuando como docente nessa instituição, sob a regência do professor Paulino Longo , até 1942, ano em que se afastou definitivamente. 

Mario Yanh ministrou também aulas de psiquiatria na Policlínica de São Paulo (1936) e na Escola de Enfermagem do Hospital São Paulo (1943). Dedicou-se à psiquiatria e, particularmente à psicanálise, sendo um dos pioneiros em nosso meio. 

Segundo Guido Arturo Palomba6 em sua obra “Dicionário Biográfico da Psiquiatria e da Psicologia” (2009), Mário Yahn “foi um dos precursores da lobotomia no Brasil, por ele chamada de leucotomia, por ser a substância branca a operada, não o lobo no seu todo. O primeiro trabalho sobre várias leucotomias realizadas no Brasil surgiu em 1944, e teve a colaboração de Darcy Mendonça Uchoa e Mário Yahn. Foram efetuadas 160 operações em pacientes do Hospital de Juqueri. Em 1945, Yahn e colaboradores aplicaram pela primeira vez a técnica cirúrgica em outra região do cérebro (lobo parietal), depois abandonada. Em 1948 publicou um trabalho inovando a técnica cirúrgica, que a chamou leucotomia em três tempos, ou seja, o lobo pré-frontal seria dividido em quatro quadrantes: superiores (direito e esquerdo) e inferiores (direito e esquerdo). O primeiro tempo seria leucotomia no quadrante inferior direito; (segundo tempo) e mais um mês de observação. Não dando resultado, operava-se os dois quadrantes superiores (terceiro tempo) de uma só vez”. 

Yanh publicou perto de 70 trabalhos científicos, salientando-se: “Modernos Tratamentos da Esquizofrenia” (1937); “Sobre a Leucotomia Pré-Frontal de Egaz Muniz” (1946); “Apreciações sobre o Modo de Ação da Leucotomia Cerebral” (1950); “Sobre a Leucotomia de Freeman e Watts em Três Tempos” (1948-1949) e “Leucotomia Parietal” (1948). 

Mário Yahn interessou-se, particularmente, pelos estudos psiquiátricos da manifestação plástica dos alienados. Colaborou com Osório Thamaturgo Cesar(1875- 1879) no Hospital do Juqueri, a fim de que se iniciasse um ateliê que ficou conhecido como Seção de Artes Plásticas. Foi seu primeiro diretor e o responsável pela instalação física. 

Tornou-se um psiquiatra famoso e muito influente no meio médico e social. Era muito querido pelos que privaram de sua convivência. Recebeu uma tela intitulada “O Pintor Agradecido” (1950, Figura 1) de autoria do renomado pintor Alfredo Volpi, em retribuição aos cuidados que ele teve à sua esposa, Judith. 

Tela “O pintor Agradecido” de Alfredo Volpi, doada a Mário Yahn em agradecimento aos cuidados prestados à sua esposa, Judith.

O interesse de Yahn pela psicanálise culminou com sua decisão de se tornar membro na Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, entre 1954 e 1955. Roberto Azevedo, que também se tornou candidato nessa mesma época, assim se expressou numa entrevista em 1º de julho de 1982: “Nesta época, a Sociedade de Psicanálise estava mais desenvolvida. Foi muito importante a entrada de Mário Yahn para a Sociedade de Psicanálise. A entrada dele, sendo um psiquiatra de prestígio, de certa forma fez com que a Sociedade de Psicanálise tivesse o aval de vários psiquiatras, que o Yahn carregou junto com ele para a Sociedade”. 

A Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo sempre o valorizou muito e ele se tornou o primeiro presidente do Instituto de Psicanálise, em 1960, embora por um curto período de tempo. 

Mário Yahn ensinou a uma geração de médicos a desenvolver observações e análises clínicas de inspiração freudiana no Instituto Aché, entidade em que foi diretor clínico, já em 1934, juntamente com Nestor Solano Pereira. 

Na Associação Paulista de Medicina (APM) foi sócio desde 1933, atuando na secção de neuropsiquiatria como secretário (1937) e presidente (1945). Na APM exerceu também a função de bibliotecário (1941-1942) e sócio fundador do Departamento de Previdência (1944). 

Foi também fundador e primeiro presidente do Centro de Estudos Franco da Rocha (1942-1943); membro da Sociedade de Medicina Legal e Criminologia (1941); Sociedade de Psicologia de São Paulo (fundador); Sociedade de Neurologia e Psiquiatria da Associação Médica de Buenos Aires (honorário,1945); Sociedade Cubana de Neurologia e Psiquiatria (correspondente, 1947); e Sociedade Brasileira de Psicanálise (efetivo). 

Mário Yahn foi colaborador da Revista de Neurologia e Psiquiatria de São Paulo, Revista da Associação Paulista de Medicina (1941-1945) e Arquivos da Assistência a Psicopatas do Estado de São Paulo (secretário, 1938-1951). Escreveu os capítulos sobre Eletrochoqueterapia e Leucotomia no Tratado de Psiquiatria de Emílio Meira Y Lopes. 

Publicou os seguintes livros: Higiene Mental (1955 – 1ª edição; 1958 – 2ª edição e 1962 – 3ª edição); Higiene Mental e Saúde Pública (1955) e Tratamento Cirúrgico das Moléstias Mentais (1951, em coautoria com A. Mattos Pimenta e Affonso Sette Jr.).

Mario Yahn foi casado com Olga Garlipp Yahn e desse conúbio nasceram dois filhos: Sergio Yahn e Sonia Yahn. 

Exaltava a importância do esclarecimento da população. São suas palavras: “Muito mais do que isso, educar e influir em naturais oportunidades, para que o educando tenha e queira ter um constante comportamento favorável a si, à família e à sociedade, ante um objetivo comum: a defesa, a conservação e o aperfeiçoamento do ser humano”. 

Mário Yahn faleceu em 10 de março de 1977, aos 69 anos incompletos8 . É honrado como patrono da cadeira no 9 da Academia Paulista de Psicologia; da cadeira nº 15 da Academia de Medicina de São Paulo, e dá nome a uma rua na cidade de Campinas, no bairro de Vila Castelo. 

Parte do material aqui consignado foi obtida na Academia Paulista de Pscicologia. 

Enjolras Vampré foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje,  Academia de Medicina de São Paulo, durante um mandato anual entre 1921-1922, e é o patrono da cadeira nº 54 desse sodalício. 

Celestino Bourroul foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje,  Academia de Medicina de São Paulo, durante um dois mandatos anuais entre 1917-1918 e 1938-1939, e é o patrono da cadeira nº 38 desse sodalício. 

Domingos Rubião Alves Meira foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante meio mandato  anual entre 1905-1906 e um mandato anual entre 1911-1912, e é o patrono da cadeira nº 51 desse sodalício.

 Paulino Watt Longo é o patrono da cadeira nº 85 da Academia de Medicina de São Paulo. 

Guido Arturo Palomba foi presidente da Academia de Medicina de São Paulo durante dois mandatos bienais (2003-2004 e 2007-2008), e é o primeiro ocupante da cadeira nº 1 desse sodalício cujo patrono é Luiz Pereira Barreto. 

Osório Thamaturgo Cesar é o patrono da cadeira nº 68 da Academia de Medicina de São Paulo. 

NOTAS:

Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.