Nairo França Trench
Nairo França Trench, mais conhecido por Nairo Trench, era filho de Claudionor Trench e de Isaltina França. Nasceu em Itapira (SP), em 9 de julho de 1909. Teve mais duas irmãs chamadas Clais França Trench e Claidemar França Trench.
Graduou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), em 1934. Manifestou sua criatividade desde os tempos de estudante. Dentre suas façanhas, idealizou a construção da piscina do Centro Acadêmico Oswaldo Cruz da FMUSP, obra de grande envergadura para a época, constituindo-se numa das primeiras piscinas semiolímpicas de competição construídas em São Paulo.
Desde 1932, ainda enquanto acadêmico, começou a trabalhar na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, continuando após sua formatura. Aí se dedicou à cirurgia, começando a trabalhar como assistente voluntário da 1ª Clínica de Homens, tendo como chefe o professor Antônio Cândido de Camargo . Nesse nosocômio criou e dirigiu o Serviço de Cirurgia de Tórax, onde foi feita, com sucesso, a primeira intervenção para a cura de um paciente com comunicação interatrial, constituindo-se precursor da cirurgia cardíaca em nosso meio.
Com a transferência de diversos médicos da Santa Casa de Misericórdia para o Hospital das Clínicas, entre 1942 e 1944, Nairo Trench foi o grande incentivador do movimento de renovação desse tradicional hospital paulista. Assim, redigiu o “Memorial dos Médicos”, onde protestava contra a decadência do hospital e pedia energicamente providências. Ademais, sugeria novas diretrizes para a entidade, o que incluía remodelações físicas e funcionais.
Sua esmerada dedicação, assim como seu espírito dinâmico, fizeram-no organizar diversos cursos de aprimoramento na enfermaria de cirurgia do tórax da Santa Casa de Misericórdia, assim como na Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, onde ingressou em 11 de janeiro de 1935, tendo tido a honra de presidi-la durante um mandato anual entre 1961-1962, constituindo-se no 59º presidente desse sodalício.
Nairo França Trench secretariou uma sessão presidida por Benedicto Montenegro no II Congresso Médico-Paulista, realizado na capital, em 1945.
Em 2 de junho de 1961, durante sua gestão na Academia de Medicina de São Paulo, houve reforma estatutária da entidade, ocasião em que se introduziu a figura do “presidente eleito”, a exemplo do American College of Surgeons. O presidente eleito acompanhava os trabalhos da diretoria vigente e, ao término do mandato, estaria apto para assumir o cargo de presidente na gestão seguinte.
Com a fundação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo em 1963, Nairo Trench tornou-se professor dessa escola. Anos mais tarde, ao comentar com seus discípulos sua saga em percorrer os difíceis caminhos na cirurgia torácica, assim se expressava: “vocês começam no centésimo degrau, mas eu comecei no primeiro”.
Na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, Nairo Trench foi também um dos diretores do afamado Curso de Patologia, juntamente com Oscar Monteiro de Barros e Walter Maffei , que contribuiu sobremaneira para o aprimoramento profissional de muitos médicos.
Nairo França Trench, juntamente com os professores Febus Gikovate, Domingos Minervino, Pedro Fava, Salvador Mercúrio Netto e Manoel Ignacio Rollemberg dos Santos , tornou-se importante no ensino da pneumologia paulista, fazendo-se sócio fundador da Sociedade Brasileira de Pneumologia, em 1974.
Sempre demonstrou grandes conhecimentos em medicina interna e, principalmente, em cirurgia, tendo três temas prediletos: empiema pleural, esternocondroplastias e bolhas gigantes enfisematosas. Era muito criativo, idealizando técnicas originais para tratar diversas doenças. No empiema pleural construiu um aparelho de drenagem. Explicava a fisiopatologia da bolha gigante enfisematosa com a Lei de Laplace: a bolha se insufla em virtude de possuir paredes mais delgadas do que a pulmonar e, portanto, subtrai ar do pulmão. Com relação às deformidades torácicas publicou diversas técnicas.
São de sua lavra os seguintes livros: Hiperelevações Diafragmáticas – Hérnias Diafragmáticas e Hérnias pelo Hiato Esofágico (1964, em coautoria com José Monfort); Afecções Cirúrgicas do Mediastino (1968, em coautoria com Febus Gikovate, José Donato de Próspero e José Monfort); e Cirurgia Torácica (em 3 volumes – 1983 e 1986, em coautoria com Roberto Saad Júnior).
Além de escrever os livros, Nairo França Trench tinha grande habilidade maual para desenhar as figuras anatômicas e, não raro, ele mesmo era o ilustrador de suas obras.
Em seus raros momentos de lazer, gostava de descansar numa casa que possuía em frente ao mar, onde levou diversos colegas e residentes para reuniões informais.
Em 1979 aposentou-se compulsoriamente como médico na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo após longa carreira nesse hospital. Contudo, continuou como voluntário, tanto na área assistencial quanto no ensino.
Nairo França Trench faleceu em 9 de julho de 1984, aos 75 anos. Prestou grandes serviços à medicina e ao próximo, sendo um exemplo de retidão de caráter.
NOTAS:
Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.
Parte do material aqui consignado foi obtida na biblioteca da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo; na biblioteca do Instituto Adolpho Lutz, assim como fornecida pelo acadêmico Manoel Ignacio Rollemberg dos Santos, fundador da cadeira nº 97 da Academia de Medicina de São Paulo .
Oswaldo Gonçalves Cruz é o patrono da cadeira nº 99 da Academia de Medicina de São Paulo.
Essa piscina foi revestida de mármore de Carrara, aproveitado das sobras da construção da Faculdade de Medicina de São Paulo. Idealizada por Nairo França Trench e construída por Raul de Almeida Braga, ela foi inaugurada em 1934.
Antônio Cândido de Camargo foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, por um mandato anual entre 1915-1916, e é o patrono da cadeira nº 66 desse sodalício.
Benedicto Augusto de Freitas Montenegro foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, por um mandato anual entre 1952-1953, e é o patrono da cadeira nº 21 desse sodalício.
A figura do “presidente eleito” foi abolida na reforma estatutária aprovada na Assembleia Geral Extraordinária de 12 de novembro de 2004, e registrada no 2º Cartório de Registro de Títulos e Documentos sob o no 80.287, e Registro Civil de Pessoa Jurídica no 65.239, em 10 de dezembro de 2004.
Oscar Monteiro de Barros foi presidente da Academia de Medicina de São Paulo por um mandato anual entre 1956-1957, e é o patrono da cadeira nº 69 desse sodalício.
Walter Edgard Maffei é o patrono da cadeira nº 98 da Academia de Medicina de São Paulo.
Manoel Ignacio Rollemberg dos Santos é o fundador da cadeira nº 97 da Academia de Medicina de São Paulo.
Informação obtida no Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo.