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Biografia

Justiniano de Melo Franco

Justiniano de Melo Franco nasceu em Lisboa, em 1774. Foram seus pais Rita Doroteia Umbelina de Castro e Francisco de Melo Franco , que foi médico de nomeada e poeta satírico brasileiro, que esteve preso nos cárceres do Santo Ofício, em Lisboa. 

Formou-se em medicina, na Alemanha, pela afamada Universidade Georgia Augusta de Göttingen . Após clinicar em Hamm, cidade germânica localizada na região administrativa de Arnsberg, estado de Nordrhein-Westfalen, veio para o Brasil e se radicou na cidade de São Paulo. 

Duílio Crispim Farina , seu biógrafo, levantou os seguintes traços característicos de Justiniano de Melo Franco: “longos e espessos bigodes; comportamento marcial e sempre uniformizado, não dava descanso para o caximbo a fumegar entre os dentes; morava nos subúrbios em belo solar cheio de frescor e sossego denominado ‘Maranhão’, nos caminhos da Penha”. 

Justiniano de Melo Franco era casado com Ana Carolina Overbeck de Melo Franco e desse conúbio nasceram dez filhos: Carlos Augusto, Francisco Eduardo, Elisa (viscondessa de Rio Claro), Maria Paulina, José Roberto, Maria Luísa, Francisco, Ana, Maria e Luciano. 

Justiniano de Melo Franco veio, em 1819, à então Província de São Paulo para elaborar plano de um estabelecimento vacínico, o Instituto Antivariólico, sendo oficializado por ordem régia de 12 de fevereiro de 1820. Por ocasião da confusa situação do Brasil às vésperas da independência, dava a impressão de que Justiniano era partidário do príncipe e hostil à Corte de Lisboa. Parecia também que era um entusiasta de José Bonifácio, amigo de seu pai. 

Um ofício do príncipe regente expedido em 28 de julho de 1821, conferiu-lhe, por nomeação, o grandioso título de “juiz delegado comissário de físico-mor do reino, em São Paulo”. Nessa cidade exerceu também os cargos de diretor do Hospital Militar, inspetor-geral de Vacinação e comandante da Companhia de Cavalaria da Guarda Cívica, denominada “Sustentáculo da Independência Brasileira”, criada por dom Pedro  I, dois dias após a proclamação da Independência, através de um decreto de 9 de setembro de 1822, por iniciativa popular. Essa Guarda Cívica tinha como funções “jurar e defender a Independência do Brasil, sua tranquilidade interna e a sagrada pessoa de seu defensor perpétuo”. 

Justiniano de Melo Franco elaborou o regulamento para o Hospital Militar de São Paulo e escreveu duas memórias, uma sobre Vacinação e outra sobre a Cadeira de Obstetrícia do Professor Stein

Devido aos muitos anos de residência na Alemanha, associados ao seu matrimônio com uma mulher germânica, Justiniano de Melo Franco fez, em São Paulo, grandes amizades com imigrantes daquela nação. 

Os imigrantes alemães no Brasil, sustentados por um contrato de colonização com o Império, provinham de diversos estados germânicos. Embarcados na cidade de Bremen, situada ao norte da Alemanha, começaram a chegar no Brasil através do Porto de Santos (SP), em 13 de dezembro de 1827, pela galera holandesa “Maria”, ocasião em que desembarcaram 226 colonos. Foram-lhes previstos assentamentos em Juquiá, São Vicente, Itanhaém e Itapecerica. Justiniano de Melo Franco foi nomeado diretor da Colônia de Itapecerica, para aonde foram transferidos a maior parte do contingente de imigrantes. Diligente e dedicado, aí se sedia, prestando assistência médica e administrativa, que consistia em: representar os colonos e guiá-los em suas pendências; receber queixas e sugestões; realizar o pagamento dos subsídios; auxiliar o governo na escolha do local definitivo da instalação da colônia de Santo Amaro; manter a disciplina, enfim, tutelar os imigrantes. 

Segundo ordens do governo central, cada colono adulto recebia 160 réis por dia, e as crianças 80 réis, enquanto não se instalassem definitivamente. 

Entretanto, devido aos descontentamentos com os lugares inicialmente previstos para os assentamentos, depois de acordos, os imigrantes alemães foram transferidos para o planalto de Santo Amaro, na então Província de São Paulo, em 29 de junho de 1829. Justiniano de Melo Franco através do seu comando, disciplina, trabalho e zelo cumpriu suas metas, sendo sucedido na função por Teófilo Schmidt. 

Justiniano de Melo Franco tinha espírito filantrópico, atuando como médico da Santa Casa da Chácara dos Ingleses, na Glória. Assistiu também os últimos momentos do professor alemão Júlio Frank, ilustre defensor da liberdade de pensamento, além de ter asilado em sua chácara, na freguesia do Brás, em novembro de 1830, o médico e jornalista Líbero Badaró , grande símbolo do liberalismo oprimido. 

Consta nos apontamentos históricos da cidade de Campinas (SP) que “em 1834 havia se instalado nessa cidade o primeiro diplomado em medicina, Justiniano de Melo Franco”. 

Entretanto, encontra-se também consignado no livro dos óbitos da Paróquia da Sé (1834-1844) da cidade de São Paulo que, “aos em 26 de julho de 1839, nesta freguesia da Sé, socorrido com o Sacramento da Extrema-Unção, fora do juízo por moléstia interna, de idade de 50 anos mais ou menos, faleceu o doutor Justiniano de Melo Franco, que era casado com dona Ana Carolina de Melo Franco. Não me consta que fizesse testamento. Foi sepultado no jazigo da Ordem Terceira do Carmo. O cura Manoel da Costa e Almeida”. 

Justiniano de Melo Franco é honrado como patrono da cadeira nº 43 da augusta Academia de Medicina de São Paulo e dá nome a uma rua no bairro Jardim Campos Elíseos, na cidade de Campinas (SP). 

NOTAS: 

Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.

Encontrado também seu sobrenome “Melo” grafado com duplo “l” (Mello)”. 

Francisco de Melo Franco nasceu em Paracatu (MG), em 17 de setembro de 1757, sendo seus pais João de Melo Franco e Ana Oliveira Caldeira. Teve esmerada educação no Seminário São Joaquim, no Rio de Janeiro, cursando latim e retórica. Seguiu para Lisboa com 14 anos e se tornou apegado às ideias políticas da época, com afeição ao pensamento de Voltaire, Rousseau e de outros enciclopedistas. Estudou filosofia em Coimbra (1776) e matriculou-se na Escola de Medicina em 1777. Mal iniciou seu curso de medicina foi interrompido por um processo, seguido de condenação pelo Santo Ofício a quatro anos de recolhimento em Rilhafoles, juntamente com sua concubina, onde fora acusado de herege, naturalista, dogmático e negador do sacramento do matrimônio. Foi liberto em 1782 e casou-se com Rita Alvarenga de Castro, sua companheira de cativeiro e pertencente a uma destacada família de Coimbra. Concluiu o curso médico por permissão real, em 1786, apesar de haver ousado lançar, no ano anterior, um poema satírico de escárnio – “O Reino da Estupidez”, sobre o “austero templo da sabedoria lusitana”. No mesmo ano de sua formatura foi para Lisboa. Com o passar do tempo tornou-se médico da Real Câmara e, em 1810, foi eleito membro da Academia Real das Ciências, tornando-se seu secretário, sucedendo o seu antigo amigo e colega de universidade, José Bonifácio, o futuro Patriarca da Independência do Brasil. 

Em 1817, atendendo à solicitação de dom João VI, após ter permanecido em Portugal por longos 45 anos, desfez-se de sua suntuosa residência e pertences, indo para Livorno, a fim de acompanhar a futura soberana – princesa Leopoldina – até o Brasil. Posteriores intrigas palacianas fizeram-no alvo de suspeitas, perdendo benesses reais. Perdidos os bens remanescentes e não sendo ressarcido das despesas da viagem, sobrevieram-lhe dificuldades financeiras. Paralelamente, sua saúde tornou-se abalada que, em 1821, o impediu de clinicar. Doente, abandonado e com parcos recursos, tencionou, debalde, ir ao encontro de seu filho mais velho, Justiniano, na Província de São Paulo, a fim de obter amparo em suasaúde. Entretanto, faleceu nesse percurso num pequeno navio, em 22 de julho de 1823, anos 68 anos, no litoral norte paulista, na cidade de Ubatuba, mas questiona-se também se não fora a de São Sebastião. 

Francisco de Melo Franco enquanto médico foi defensor obstinado da introdução da vacina contra a varíola. Deixou diversos discursos, artigos e obras, dentre as quais se sobressaem: “Noites sem Sono” (elegias); “O Reino da Estupidez” (1785); “Resposta ao Filósofo Solitário” (1787); “Resposta Segunda ao Filósofo Solitário” (1787); “Tratado da Educação Física dos Meninos” (1790); “Medicina Teológica” (1794); “Elementos de Higiene” (1813); “Discurso Recitado na Sessão Pública da Academia de Ciências de Lisboa” (1816); “Epicédio à Morte do Dr. José Ferreira Leal”; “Ensaio sobre as Febres do Rio de Janeiro” (1829, obra póstuma), dentre outras.

Justiniano de Melo Franco matriculou-se no semestre de inverno de 1805-1806, tendo iniciado seu curso no dia 19 de novembro. 

Duílio Crispim Faria é o patrono da cadeira nº 78 da Academia de Medicina de São Paulo. 

De acordo com o consignado por Duílio Crispim Farina, Ana Carolina Overbeck de Melo Franco nasceu em 1784, em Lippstadt, perto de Brilon, e provinha de progênie de alta distinção, sendo seu pai Carl Friedrich Overbeck e sua mae Wilhelmine Duerselen, consorciados em 1779. Ana Carolina era bastante bonita, elegante e de bom gosto para se vestir; imponente, tranquila, orgulhosa, formal, fria e de olhar distante. Faleceu em 3 de outubro de 1872, em Rio Claro, deixando sete filhos vivos. No seu testamento insistia em que se respeitasse sua fé religiosa protestante. 

“Físico” era denominação medieval do médico da corte e o “físico-mor” era o principal médico da corte. 

O “Sustentáculo da Independência” constituía-se de uma Companhia de Cavalaria capitaneada por Justiniano de Melo Franco, e de duas Companhias de Infantaria, comandadas, respectivamente, pelo capitão Antonio Xavier Ferreira e pelo cirurgião-mor José Gonçalves Gomide.

Giovanni Battista Líbero Badaró é o patrono da cadeira noº 60 da Academia de Medicina de São Paulo. 

Não se conseguindo a data completa do nascimento de Justiniano de Melo Franco nessa pesquisa, infere-se que, por ocasião de seu falecimento, ele contava com cerca de 64 anos.