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Biografia

Oswaldo Lange

Oswaldo Lange nasceu na cidade de São Paulo, em 28 de agosto de 1903. Sua mãe, a farmacêutica Fany Lange, plasmou a sua personalidade.

Decidido a ser médico, ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), onde graduou-se em 1927. Enquanto acadêmico, passou a frequentar a clínica neurológica em 1925. Ficou encantado com seu mestre Enjolras Vampré, catedrático de neurologia, a quem deveu seu desempenho profissional e a orientação na especialidade.

Da somatória dessas influências resultou sua figura séria, altiva e forte, continuada e disciplinadamente voltada ao trabalho e a construir, com carinho, sempre um mestre.

Após a formatura, Oswaldo Lange passou passou a integrar o grupo dos colaboradores diretos de Enjolras Vampré que já contava com Adherbal Tolosa e Paulino Watt Longo. A partir de então desenvolveu a prática e a pesquisa da aplicação clínica do exame do líquido cefalorraquidiano (LCR) alicerçadas na neurologia. Seu desempenho profissional conquistou o respeito e a admiração da comunidade médica, assim como a amizade de seus pares.

Assim, conseguiu estabelecer o estudo do LCR como uma das especialidades da neurologia e, em 1929, iniciou as atividades no seu próprio laboratório especializado em exames de líquor. Cientificamente, essa fase se abriu com sua tese de doutoramento sobre Basedowismo Frustro e a publicação sobre a espondilite rizomélica, estudo com Vampré, com quem igualmente publicou os resultados de seus primeiros estudos sobre o LCR.

Seguem-se outras publicações resultantes de suas investigações, coroadas com o primeiro livro brasileiro sobre o tema O Líquido Céfalo-Raquidiano em Clínica (1938). O principal tema de suas pesquisas nessa fase é o estudo conjugado do LCR e das moléstias infecciosas do sistema nervoso central e seus envoltórios, com destaque à neurossífilis e à neurocisticercose. Caracterizou a síndrome liquórica da cisticercose encefalomeníngea (1936). Detalhou o comportamento do LCR na neurossífilis pré-clínica, assunto que deu origem à sua tese de livre-docência, concurso que prestou em 1938 na FMUSP. Nela, tornou-se o primeiro livre-docente de neurologia por concurso de títulos e provas.

Após a morte prematura de Enjolras Vampré em 1938, Adherbal Tolosa, Paulino Watt Longo e Oswaldo Lange lutaram para que a escola do mestre permanecesse una. Tolosa conquistou, por concurso, a cátedra de neurologia da FMUSP. Longo, por igual concurso, conquistou a cátedra de neurologia da Escola Paulista de Medicina, que iniciava seus passos e que prematuramente também perdera nesse mesmo ano, Fausto Guerner, seu primeiro professor de neurologia. Lange, o mais jovem dos três, permaneceu na clínica neurológica da FMUSP como chefe de clínica.

Oswaldo Lange sempre considerou o desempenho do médico frente a seus colegas como parte integrante da atividade profissional. Sua atuação na Associação Paulista de Medicina (APM) e na Academia Brasileira de Neurologia (ABN) dão medida do seu ângulo de visão a propósito desse desempenho.

De 1947 a 1955, alinhou-se com seu companheiro e amigo Jairo Ramos, para com outros colegas lutar pelo objetivo de fazer da APM uma sociedade realmente voltada à medicina e que tivesse projeção estadual e não apenas local, na cidade de São Paulo. O sucesso alcançado levou a que naturalmente se ampliassem as fronteiras da APM para todo o estado de São Paulo e, depois, fortalecesse a ideia de constituir uma sociedade que reunisse os médicos brasileiros, levada a cabo por Jairo Ramos e tantos outros, que resultou na criação da Associação Médica Brasileira (AMB), em 1951. Na APM, Jairo Ramos e ele capitanearam a remodelação dos Departamentos Científicos, dando-lhes vida e desígnio.

Promoveram congressos e jornadas que encontraram seu apogeu em 1954, por ocasião do quarto centenário da cidade de São Paulo, quando a APM patrocinou quatorze congressos. Entre eles destacou-se o XIX Congresso Internacional de Otoneuro-oftalmologia, que contou com figuras de renome mundial, muitas delas da neurologia, comparecendo graças, particularmente, ao prestígio internacional que Oswaldo Lange a essa época já granjeara.

Dentro dos mesmos propósitos de construir com seriedade, Lange assumiu o periódico da APM – a “Revista Paulista de Medicina” – para o qual estabeleceu rumos verdadeiramente científicos e trabalhou arduamente como seu editor (1947-1955).

No início dos anos 60, a ideia de se criar uma sociedade neurológica de âmbito Nacional se fortalecera, graças aos esforços que levaram à criação da World Federation of Neurology (WFN) em Bruxelas, em 1957, sob a presidência de Ludo van Bogaert e tendo Macdonald Critchley como vice-presidente. Longo e Lange abraçaram a ideia com tantos outros, propugnando para que Deolindo Couto encabeçasse os esforços. E assim, em 1962, instalou-se a Academia Brasileira de Neurologia (ABN). Paulo Pinto Pupo e Lange redigiram o primeiro estatuto da ABN, e a entidade foi filiada à WFN, assim como à AMB,
posteriormente (1971).

Em 1966, Lange foi eleito delegado da ABN junto à WFN, mandato que a Assembleia Geral da ABN quadrienalmente renovou até 1978, quando ele não mais aceitou a reindicação. Por doze anos consecutivos promoveu a neurologia brasileira.

Graças aos seus esforços, a ABN recebeu e realizou na cidade de São Paulo, o III Congresso Pan-Americano de Neurologia, em 1971. Oswaldo Lange participou de todas as reuniões do Conselho de Delegados da WFN, bienalmente realizadas durante seu mandato, em New York, Barcelona e Amsterdam. Igualmente, participou das reuniões bienais dos congressos pan-americanos em San Juán (Porto Rico), São Paulo e na Cidade do México.

Valendo-se do prestígio do cargo, sempre estimulou a ABN ao cumprimento de seus compromissos para com a WFN e, desta, conseguiu o reconhecimento das neurociências brasileiras. Um dos mais preciosos resultados desse esforço, em plano internacional, foi a escolha de colegas brasileiros como relatores de temas oficiais nos congressos da WFN, tanto nos pan-americanos (São Paulo, México e Caracas) como nos mundiais (Barcelona e Amsterdam). Adicionalmente, compilou as atas da ABN que bienalmente publicou, a partir de 1962, como “Apêndice” dos “Arquivos de Neuropsiquiatria” e que contêm um resumo da vida dessa sociedade neurológica. Até o final de sua vida, com dedicação e com autoridade, fez-se um verdadeiro conselheiro de membros da agremiação, de seus dirigentes e de seu sucessor como delegado da ABN junto à WFN.

Recebeu em 1976 o título de Patrono da ABN. É igualmente o patrono do Grupo de Trabalho de LCR da ABN.

Tantos feitos enalteceram as lições de vida de Oswaldo Lange. No entanto, eles são um preâmbulo a emoldurar seu grande amor à medicina e à comunicação médico-científica, que desabrocharam em sua maior realização – o periódico “Arquivos de Neuropsiquiatria”.

Oswaldo Lange faleceu na cidade de São Paulo, aos 29 de agosto de 1986, contando com 83 anos.

NOTAS:

Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.