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Biografia

Paulo Kassab

Talvez minha vocação esteja ligada ao próprio ambiente em que nasci. Devo admitir inicialmente que, desde que me recordo, meu ambiente familiar foi sempre muito feliz. Afora este aspecto, meus pais, ambos médicos, com certeza devem ter tido influência decisiva em minha escolha profissional. Na verdade jamais tive dúvidas sobre os caminhos que iria trilhar. Meu pai, dr. Fuad Kassab, médico formado pela turma de 1951 da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), e minha mãe, Nádima Nehemy Kassab, médica formada pela turma de 1952 da Escola Paulista de Medicina (EPM), sempre foram figuras marcantes em minha formação. Ele, com formação em ginecologia e obstetrícia e clínica médica, sempre citou como seus modelos os professores Luíz Décourt e Domingos Delascio. Na área cirúrgica lembrava com frequência os nomes de Alípio Corrêa Neto, Edmundo Vasconcelos e Arrigo Raia. Minha mãe era admiradora incondicional de Jairo Ramos e das virtudes da forte escola clínica da EPM. Ambos nos incitavam, meus irmãos e eu, a aumentarmos nossa cultura geral e humanística. Para isso organizavam gostosas gincanas culturais nos momentos em que estávamos em família. 

O aprendizado das línguas também foi estimulado desde cedo em casa e em nossa escola. Iniciei e terminei meus dias escolares no mesmo colégio, o saudoso Colégio Pio XII que, na época, contava com freiras franciscanas, em sua maior parte oriundas dos Estados Unidos. Assim, iniciei o aprendizado de inglês já na tenra infância. Aprendíamos a língua francesa em casa, com nossos pais, ambos fluentes. A escola também tinha grande visão humanística e dava importância à área esportiva. 

Desse modo, em meu primeiro vestibular, ao final de 1975, fui aprovado na Faculdade de Medicina de Santo Amaro (Osec). A Faculdade despertou meu lado acadêmico e, ainda estudante, iniciei monitorias e outras atividades ligadas ao ensino. Entre elas destacam-se monitorias nas áreas de neuroanatomia, cardiologia e fisiologia cardíaca e técnica cirúrgica. 

Casei-me em 1978 com Flávia Kassab e, em 1979, nasceu minha primeira filha, Carolina, também médica hematologista, casada com o urologista dr. Marcelo Wroclawski. 

Em 1980, já em meu quinto ano médico, tive meu interesse definitivamente despertado para a cirurgia e, em 1982, iniciei minha formação cirúrgica no estágio em cirurgia geral no Hospital São Jorge. Naquele ano nasceu meu segundo filho, Paulo, formado e atuante na área de publicidade. Terminando meu estágio em cirurgia, em janeiro de 1984, e sentindo a falta de uma formação mais acadêmica, procurei no exterior a complementação de minha residência médica. Consegui, por meio de meu tio e padrinho, Pedro Kassab, contato com o famoso professor Lucien Léger, em Paris. Fui àquela cidade onde permaneci todo o mês de maio de 1984, preparando minha ida e me submetendo à avaliação do professor Jean Claude Patel, que me abriu as portas de estágio em cirurgia geral, endócrina, digestiva e vascular no Hospital Ambroise Paré da Universidade de Paris V (Universidade René Descartes). 

Permaneci naquele serviço de setembro de 1984 a setembro de 1985, onde desenvolvi intensa atividade prática e também acadêmica. Ali desenvolvi minha tese para assistente estrangeiro na Universidade de Paris e frequentei as reuniões da tradicional Academia de Medicina da Paris, onde conheci pessoalmente nomes históricos como Couvelaire, Lortat-Jacob, Monod-Broca e Couinaud, entre outros. Ainda na França, conheci e me tornei grande amigo de Mitsuru Sasako, cirurgião japonês já de renome na época, que despertou meu interesse pelo estudo do câncer do estômago. 

Durante toda a minha permanência no exterior, mantive contato por cartas com o professor dr. Nadim Safatle, então chefe da disciplina de cirurgia geral da Faculdade de Medicina da Unisa. O professor Safatle, também acadêmico, foi meu professor de cirurgia durante a graduação, e quem me incentivou a continuar a carreira em nossa faculdade. A ele devo sincera e eterna gratidão. 

Ao retornar ao Brasil nasceu meu último filho, Rodrigo, hoje cineasta e residente em Paris, onde realiza pós-graduação na Universidade de Marne La Valée. No mesmo ano, juntei-me voluntariamente ao Serviço de Cirurgia Geral da Faculdade de Medicina de Santo Amaro. 

No segundo semestre de 1985 fui convidado pelo professor Fares Rahal a frequentar seu serviço na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. O professor Fares foi meu grande mentor, orientador, protetor e quem me introduziu definitivamente na carreira acadêmica. Um verdadeiro formador, preocupado com a graduação de novos docentes e com a perpetuação do conhecimento médico. Ao lado dele, a figura incomparável do professor Victor Pereira que me auxiliou de modo definitivo nos caminhos da docência. Tive nesses anos a companhia de um amigo a quem defino como irmão e que me acolheu como se fosse da própria Santa Casa, o professor dr. Carlos Malheiros. Graças a essa acolhida, fui contratado em agosto de 1986 como professor assistente da Faculdade de Medicina de Santo Amaro (Unisa), onde conheci outro amigo e irmão, o dr. Elias Ilias, meu parceiro, sócio e amigo até hoje. 

Na Unisa desenvolvi intenso trabalho na graduação, inicialmente estimulando os alunos por meio de reuniões em minha própria residência e na faculdade. Dentre esses alunos, destacam-se vários que hoje são docentes em várias escolas médicas: dr. Antônio Augusto Tadeu Issa, ex-professor assistente na Unisa em cirurgia vascular; dr. Fernando Bacal, professor livre-docente na USP em cardiologia; dr. Fábio Kassab, mestre pela USP e médico do Serviço de Gastroenterologia do HCFMUSP; professor Rubens Brito, livre-docente na USP na disciplina de otorrinolaringologia; dr. Sérgio Arap, professor assistente doutor da USP, cirurgia de cabeça e pescoço; dr. Rodrigo Schultz, professor adjunto de neurologia na Unisa; dr. Osvaldo Castro, ex-professor assistente de cirurgia geral da Unisa, entre outros. Nessa função recebi diversas homenagens pelas diferentes turmas daquela faculdade, as quais considero, humildemente, de grande significado. 

Concluí meu mestrado em 1991 na Santa Casa, e meu doutorado em 1996, sempre orientado pela tranquilidade e sabedoria do professor Fares Rahal e do professor Victor Pereira. No doutorado contei também com o precioso auxílio do professor Fábio Lopasso. Ao mesmo tempo fui galgando degraus na Universidade de Santo Amaro, culminando com minha promoção a professor titular no segundo semestre de 1996. A partir desse momento passei a ter participações em várias sociedades médicas e em diferentes ambientes universitários. 

Durante todo esse período meu interesse pelo câncer do estômago foi crescente, culminando por participar da Fundação da Associação Brasileira de Câncer Gástrico em reunião conduzida pelo professor Fares Rahal, em 14 de junho de 1999, na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

Graças à Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, minha carreira progrediu na Faculdade de Medicina de Unisa até 2008, quando cheguei ao cargo de diretor. Naquele ano, porém, por discordar da política dos novos proprietários, desliguei-me daquela escola com bastante tristeza. A Irmandade e a Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo, entretanto, receberam-me de braços abertos para ali continuar como médico voluntário junto à Área V do Departamento de Cirurgia, onde me tornei professor livre-docente em 2010, e onde continuo a exercer minhas atividades de pesquisa e ensino. 

Exerço atualmente a função de mestre do Capítulo de São Paulo do Colégio Brasileiro de Cirurgiões; tesoureiro da Associação Brasileira de Câncer Gástrico e membro do Conselho da Associação Internacional de Câncer Gástrico.

NOTAS:

Biografia e foto foram fornecidas pelo autor.

Pequenas inserções e adaptações do texto ao perfil desta secção, assim como as notas de rodapé foram feitas pelo Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.

Osec: Organização Santamarense de Educação e Cultura. 

Unisa: Universidade de Santo Amaro. 

HCFMUSP: Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.