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Biografia

Plínio Freire de Mattos Barretto

Plínio Freire de Mattos Barretto, mais conhecido por Plínio de Mattos Barretto ou ainda Plínio Barretto, nasceu em 15 de setembro de 1910, na cidade de Mococa (SP). Era filho de Augusto F. Mattos Barretto e Mariana Lima Mattos Barretto.

Graduou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), em 1934, especializando-se em otorrinolaringologia.

Logo após sua formatura buscou aprimoramento no exterior, sendo um dos primeiros brasileiros que fizeram estágio em endoscopia. Esteve durante três anos no Temple University Hospital, na Filadélfia, nos Estados Unidos da América, com Chevalier Jackson.

Retornou ao Brasil em 1936, sendo convidado a organizar o Serviço de Endoscopia nas duas clínicas de otorrinolaringologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo que, à época, era o hospital-escola da FMUSP. Assim, estabeleceu, em 1937, o Serviço de Endoscopia na clínica chefiada pelo professor Antonio de Paula Santos, ligada à FMUSP, e, em 1938, na clínica chefiada pelo dr. Mario Ottoni de Rezende.

Nesse nosocômio foi iniciada a moderna endoscopia que logo se firmaria como uma especialidade autônoma.

Nessa época, o Serviço de Endoscopia realizava procedimentos com instrumental rígido na laringe, traqueia, brônquios e esôfago, como também as cirurgias de pescoço, principalmente de laringe, tanto as microcirurgias endoscópicas como as cirurgias abertas.

Plínio de Mattos Barretto (Figura 1) teve igualmente grande importância na história do tratamento cirúrgico do câncer de laringe no Brasil. Em 1941 publicou juntamente com Edmundo Vasconcelos casos de laringectomia total com 0% de mortalidade operatória. De acordo com o cirurgião Antônio de Pádua Bertelli, “este trabalho, pelo seu pioneirismo em nosso meio, representa um marco na técnica cirúrgica asséptica e no desenvolvimento do tratamento cirúrgico do câncer laríngeo”.

Professor Carlos de Morais ladeado por um grupo de paulistas: Plinio de Mattos Barretto (de terno escuro à esquerda, na primeira fila), professor Mangabeira Albernaz, José Mattos Barretto, professor João Marinho, Rafael da Nova, Mauro C. Souza Dias, Rezende Barbosa, Silvio Ognibene, Rebelo Neto, Santos Dias e Jorge Hirschmann.
Foto do II Congresso Brasileiro de Otorrinolaringologia realizado de 20 a 24 de janeiro de 1948, na cidade de Salvador (BA). In: Revista Brasileira de Otorrinolaringologia. Volume 16 (janeiro-abril) de 1948.

Ademais, Plínio de Mattos Barretto foi nomeado, em 1950, por ocasião do 11º Congresso Pan-Americano de Otorrinolaringologia e Broncoesofagologia realizado em Montevidéu e Mar del Plata, membro permanente para o estudo do câncer de laringe, cuja contribuição na área foi considerada muito engenhosa.

Em 1944, Plínio Barretto publicou a maior estatística nacional de atendimento de casos de corpos estranhos das vias aéreas e digestivas, mostrando como tinha resolvido satisfatoriamente 98% dos 600 casos consecutivos por ele tratados, incluindo também aqueles que lhe foram enviados de regiões muito distantes.

Em 1945, com o início do funcionamento do Hospital das Clínicas, Plínio de Mattos Barretto para lá se transferiu, deixando em seu lugar, na Santa Casa de Misericórdia, Homero do Amaral, recém-chegado de um estágio na clínica de Chevalier Jackson.

Plínio Barretto dedicou-se também ao ensino e à carreira universitária na FMUSP, sendo assistente do professor Antônio de Paula Santos, catedrático da clínica otorrinolaringológica. Nessa instituição de ensino implantou o Serviço de Endoscopia Peroral na segunda metade da década de 1940, que, inicialmente, restrito a adultos, logo se expandiu aos pacientes pediátricos, tornando-se importante ferramenta – e ainda insubstituível – no diagnóstico e tratamento de diferentes doenças digestivas. Ao seu lado trabalharam, nessa época, Maria Ivonette Dias de Abreu e Robledo Naves, além de receber estagiários de outras partes do País.

Em 1950, Renato Locchi, então diretor da FMUSP, estimulou a que o Serviço de Endoscopia se constituísse numa nova disciplina. Entretanto, Antônio de Paula Santos e seu sucessor eram contrários à proposta, uma vez que poderia abranger também a laringologia e a broncoesofagologia. Assim, a disciplina de endoscopia peroral só foi criada 15 anos depois, em 1965. Esse período foi difícil para os
endoscopistas que recorreram a Benedicto Montenegro, que os havia convidado para integrar o Departamento de Cirurgia, ainda em formação, e se tornariam a sétima disciplina juntamente com: 1. Gastroenterologia. 2. Glândulas Endócrinas e Baço. 3. Cirurgia Torácica. 4. Moléstias Vasculares Periféricas e Simpático. 5. Cirurgia Plástica e Queimaduras. 6. Neurologia. 7. Endoscopia Peroral e 8. Anestesia. Assim, aos poucos o Serviço de Endoscopia foi se desligando da otorrinolaringologia e tornando-se disciplina autônoma. Plínio Barreto foi posto à disposição da diretoria da faculdade e nomeado diretor de serviço somente em 22 de maio de 1970, com as mesmas vantagens de assistente efetivo da faculdade. Entretanto, permaneceu nesse cargo por menos de quatro meses, precisamente até 10 de setembro desse mesmo ano, em virtude de aposentadoria compulsória.

Nesses 25 anos de atividades (1945-1970) o Serviço de Endoscopia do Hospital das Clínicas da FMUSP, fundado e dirigido por Plínio de Mattos Barreto fez mais de 337.395 atendimentos. Por méritos também de seu chefe detinha a maior estatística nacional de atendimento de casos de corpos estranhos das vias aéreas e digestivas. Em 1969, o Serviço de Endoscopia reunia 14 médicos contratados que formavam a maior equipe no gênero na América Latina; tinha sob seus cuidados 15 estagiários, totalizando nesses 25 anos, o ensino de 134 estagiários.

Plínio de Mattos Barretto era sempre convidado a participar de mesas-redondas ou como conferencista. No Second South American Congress of Otorhinolaryngology que ocorreu em Montevidéu (Uruguai) discorreu sobre o tema “Bronchoscopy in Diagnosis and Treatment”. Atuou ao lado de José de Rezende Barbosa como secretário do Second Latin American Congress of Otorhinolaryngology and Bronchoesophagology que aconteceu em São Paulo, em julho de 1951. Devido ao grande número de casos de papiloma da laringe e da traqueia foi convidado para apresentar sua experiência como relator no VI International Congress of Otorhinolaryngology realizado em Washington (EUA), em 1957. Dentre outros temas de suas palestras em eventos nacionais citam-se “Dispneias” e “Sistematização do Tratamento das Laringotraqueobronquites Agudas na Infância”.

Escreveu diversos artigos tanto em revistas nacionais quanto do exterior, salientando-se dentre eles: “A Laringectomia sem Abertura da Faringe”; “Total Laryngectomy: Simplified Technics with the Use of a Special Clamp which Makes Possible the Removal of the Larynx and Preepiglotic Space without Opening the Pharynx ” (em coautoria com Edmundo Vasconcelos); e “Diagnóstico e Tratamento dos Corpos Estranhos das Vias Aéreas e Digestivas Superiores e das Complicações por eles Provocadas”.

Seus ensinamentos tornaram-se referência na literatura, tendo como exemplo o artigo escrito em espanhol de J. C. Barani: “El Tratamiento de Personas que Ingieren Cáusticos: Orientaciones Adoptadas por el Dr. Plinio Mattos Barretto” Além de sua dedicação universitária, Plínio de Mattos Barretto foi chefe do Serviço de Endoscopia Peroral do Sanatório Esperança 13, em São Paulo.

Recebeu diversos títulos honoríficos das mais renomadas associações de otorrinolaringologia, de cirurgia de cabeça e pescoço e de broncoesofagologia. Foi membro do Collegium Oto-Rhino-Laryngologicum Amicitiae Sacrum.

São de sua lavra as obras: Quemicetina Succinato (2ª edição 1967, 250 páginas); Atualização em Endoscopia Peroral (s/d, 317 páginas) e História da Otorrinolaringologia e Broncoesofagologia no Brasil. Nossa Participação (1988, em coautoria com José Arthur de Carvalho Kós, figura 2).

Plínio de Mattos Barreto (SP), à esquerda, e José Arthur de Carvalho Kós (RJ), à direita. Foto gentilmente cedida pelo dr. Lidio Granato da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo

Plínio Freire de Mattos Barretto faleceu em 17 de outubro de 200214, aos 92 anos. Seu nome é honrado como patrono da cadeira nº 91 da augusta Academia de Medicina de São Paulo.

NOTAS:

Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.

As fotos (inicial e final) foram uma gentileza do dr. Lidio Granato da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

Chevalier Jackson foi precursor da endoscopia em 1904, na Filadélfia (EUA), estabelecendo as bases de uma nova especialidade que a chamou de “broncoesofagologia”. Padronizou o arsenal endoscópico e criou o primeiro centro de treinamento na área.

Antônio de Paula Santos é o patrono da cadeira nº 59 da Academia de Medicina de São Paulo.

Mário Ottoni de Rezende foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante um mandato anual entre 1936-1937, e é o patrono da cadeira nº 126 desse sodalício.

Edmundo Vasconcelos é o patrono da cadeira nº 47 da Academia de Medicina de São Paulo.

Bertelli A P. História do Câncer da Laringe e seu Tratamento. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia 44 (1): 88-92, 1978.

Renato Locchi é o patrono da cadeira nº 42 da Academia de Medicina de São Paulo.

Benedicto Augusto de Freitas Montenegro foi presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo, durante um mandato anual entre 1952-1953 e é o patrono da cadeira nº 21 desse sodalício.

Revista Brasileira de Otorrinolaringologia 11 (6), 1943.

Arch Otolaryngol 40 (4): 275-281, 1944.

Revista Brasileira de Otorrinolaringologia 12 (4), 1944.

Arch Pediatr Urug 27 (11): 778-780, 1956.

O antigo Sanatório Esperança é o atual Hospital Infantil Menino Jesus, localizado na Rua dos Ingleses, no bairro da Bela Vista.

Informação obtida no Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo.