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Biografia

Sylvio Soares de Almeida

Sylvio Soares de Almeida formou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) em 1938. 

O professor Antonio Barros de Ulhôa Cintra assumiu a cátedra da 1ª Clínica Médica dessa faculdade (13ª cadeira) após brilhante concurso realizado de 17 a 28 de outubro de 1949, sendo nomeado em seguida. Ele trouxe 3 assistentes, denominados 1º , 2º e 3º , nessa ordem: Emílio Mattar, Sylvio Soares de Almeida e Jairo Cavalheiro Dias, além do dr. Octavio Armínio Germeck, encarregado do laboratório do Hospital das Clínicas. O dr. Sylvio trabalhava com o professor Cintra no Serviço de Moléstias da Nutrição e Dietética do Hospital das Clínicas da FMUSP, que fora criado em 1943. 

Após concurso, realizado em junho de 1950, o professor Luiz Venere Décourt tomou posse da cátedra da 2ª Clínica Médica (14ª cadeira), em 4 de agosto de 1950. À primeira deveria caber o ensino de propedêutica, de laboratório clínico e de patologia médica e, à segunda, o ensino de medicina geral e de patologia médica. 

Até essa época, o curso de medicina graduava médicos generalistas e as três Clínicas Médicas de então, não tinham uma programação organizada, sendo as aulas muitas vezes repetidas por professores distintos. O professor da 3ª Clínica Médica, dr. Antonio de Almeida Prado, estava se aposentando e o professor Octávio Augusto Rodovalho ficou na sua regência até sua extinção em 1954. 

Após a posse do professor Décourt, os dois novos professores decidiram dividir todo ensino clínico em diferentes matérias. Com essa atitude estavam criando as futuras especialidades clínicas. À 1ª Clínica Médica coube o ensino da alergia, endocrinologia, hematologia, moléstias renais e hipertensivas; medicina nuclear e laboratório clínico e, à 2ª Clínica Médica o ensino da propedêutica, cardiologia, pneumologia, gastroenterologia e reumatologia. 

Coube aos professores Emílio Mattar e Sylvio Soares de Almeida o ensino das moléstias renais e hipertensivas, sendo as primeiras aulas proferidas no segundo semestre de 1952, para os alunos do 5o ano médico. 

O professor Emílio Mattar, após alguns anos, resolveu se dedicar mais à endocrinologia, principalmente ao Diabetes Mellitus. Com a criação da Sociedade Brasileira de Nefrologia, em agosto de 1960, e da Sociedade Internacional de Nefrologia, em outubro do mesmo ano, a chefia do Grupo de Nefrologia passou para o professor Sylvio Soares de Almeida. A mudança do nome de moléstias renais e hipertensivas para nefrologia ocorreu nesse tempo. O professor Jean Hamburger, primeiro presidente da Sociedade Internacional de Nefrologia, que estivera em São Paulo no dia da fundação de sua congênere brasileira, resolvera certo tempo antes mudar o nome de seu serviço – no Hospital Necker de Paris – para nefrologia, e dar o nome de nefrologia para a Sociedade Internacional que iria criar dois meses após a instalação da Sociedade Brasileira de Nefrologia. Nesse dia o professor Emílio Mattar, considerando que já havia deixado a direção do Grupo de Doenças Renais e Hipertensivas para o professor Sylvio, não quis comparecer àquela solenidade e não se tornou um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Nefrologia. O dr. Sylvio já era um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, o que ocorrera em 1o de setembro de 1950. 

Nessa ocasião existiam dois grupos de nefrologia na FMUSP, pois o professor Décourt incorporara outro, sob a chefia do professor José Barros Magaldi, criado na 3ª Clínica Médica em 1953, e transferido para a 2ª Clínica Médica em 1954, após a extinção da 3ª Clínica Médica. 

O grupo de nefrologia da 1a Clínica Médica era o grupo oficial, encarregado do ensino e das notas de aprovação necessárias para a graduação em nefrologia. Como o professor Sylvio Soares de Almeida era o seu chefe, pode-se dizer, sem qualquer dúvida, que ele foi o primeiro professor de nefrologia da FMUSP e, provavelmente, do Brasil. 

O professor Sylvio era muito culto, profundo conhecedor da nefrologia e de outros ramos da clínica médica, com grande cultura geral e um dos principais responsáveis pela minha formação clínica. Entretanto, ele nunca defendeu uma tese, embora tivesse contribuído para que outros o fizessem. 

Um pouco antes de 1960 ele criou, na 1ª Clínica Médica, um laboratório para o estudo do exame de urina, seu sedimento em diferentes patologias renais e em infecções do rim e do trato urinário através de um microscópio de fase. 

O sedimento urinário fora muito estudado por Thomas Addis a partir de 1925, criando um engenhoso modo de contagem de seus elementos por 12 ou 24 horas. O dr. Sylvio introduziu a medida do sedimento urinário quantitativo, aprimorando o trabalho do dr. Addis.  

Em 1979 e em 1982, dois pesquisadores australianos, W. F. Fairley e D. F. Birch, utilizando um microscópio de fase descreveram as hemácias dismórficas. Ainda em 1982, utilizando o método descrito pelo dr. Sylvio Soares de Almeida, apresentei em Congresso Brasileiro de Nefrologia, em Guarapari (ES), trabalho discordando parcialmente das conclusões de Fairley e Birch, o que somente seria reconhecido pela literatura médica em 1990. Nesse laboratório ele desenvolveu o maior estudo do sedimento e da infecção do trato urinário até então realizado no Brasil, e que deveria ser sua tese de doutorado. 

Com esse trabalho, denominado “Pielonefrites”, ele concorreu e ganhou o Prêmio Alvarenga da Academia Nacional de Medicina de 1962, o maior prêmio de medicina dessa época. Todos seus assistentes também foram laureados juntamente, embora o trabalho intelectual fosse apenas dele. Esse estudo tinha sido publicado no ano anterior em 5 partes pela Revista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo. O professor Ulhôa Cintra também ganhara o Prêmio Alvarenga em 1948. 

Pouco tempo após, o professor Sylvio licenciou-se e foi passar um ano na Universidade Federal da Bahia, com o professor Heonir Rocha, que se especializara no estudo de diferentes aspectos da urinocultura e das pielonefrites. Sobre esse estágio o professor Heonir escreveu: “Sylvio Soares de Almeida, homem simples e probo, competente em tudo que fazia, foi um marco de seriedade na investigação nefrológica em nosso meio. Seu interesse por infecção urinária fez com que ele passasse um ano em Salvador, trabalhando com nosso grupo, época em que produziu alguns trabalhos em pielonefrite experimental”. 

Em 28 de novembro de1968, através da lei no 5.540, e pelo decreto-lei no 464 de 11 de fevereiro de 1969, foi realizada uma grande reforma universitária, considerada por muitos prejudicial aos interesses da medicina, pois transformara o magnífico prédio da Av. Dr. Arnaldo em um mausoléu. Entretanto, para a nefrologia foi interessante, pois culminou com a fusão das duas disciplinas, da 1ª e da 2ª Clínica Médica, em 1972, sob a chefia do professor José Barros Magaldi, que era docente-livre, tendo o dr. Sylvio Soares de Almeida como subchefe. 

Pouco tempo depois o dr. Sylvio faleceu em virtude de um infarto quase fulminante. 

NOTAS: 

Esta biografia é uma autoria do Acad. Helga Maria Mazzarolo Cruz, titular e emérita da cadeira nº 34 da Academia de Medicina de São Paulo, cujo patrono é Sylvio Soares de Almeida. 

Pequenas inserções e adaptações do texto ao perfil desta secção, assim como as notas de rodapé foram feitas pelo Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.

Sylvio Soares de Almeida nasceu em 28 de outubro de 1913 e faleceu em 28 de janeiro de 1976, aos 62 anos. Era filho e José S. de Almeida Porto e de Guilhermina S. de Almeida.