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Franklin Delano Roosevelt, por Acad. Jenner Cruz

19.09.2013 | Tertúlias

Conheci o Prof. Dr. Arary da Cruz Tiriba em 1957, quando ambos entramos, por concurso, para trabalhar no ambulatório da fábrica de automóveis VEMAG, atendendo funcionários e, algumas vezes, seus dependentes.
Como trabalhávamos em períodos diferentes, nosso contato era praticamente nulo, mas mesmo assim sempre acompanhei sua brilhante carreira médica.
Li com prazer a crônica “Café com presidente(s)”, publicada no Suplemento Cultural da APM n. 248, na qual o Prof. Arary relata alguns aspectos da vida do 32º presidente norte-americano e de seu encontro com o nosso presidente Getúlio Dornelles Vargas no decorrer da Segunda Grande Guerra Mundial.
Roosevelt (1882-1945) foi um homem espetacular; sua reação à paralisia, pós-poliomielite, que contraiu na ilha de Campolindo, no Canadá, em agosto de 1921, demonstra claramente a força de seu caráter.
Embora sofrendo muito, tendo ficado, por bastante tempo, quase completamente paralisado, ele se recusou a se deixar abater, a se entregar à depressão, tendo a certeza de que em breve voltaria a usar as pernas. Sua mãe queria que se retirasse para Hyde Park, onde nascera, mas, com o apoio de sua esposa, Eleanor, e de sua secretária, Louis Hove, conseguiu manter o moral, permanecendo ativo em sua carreira e em sua política. Duas semanas depois, já estava escrevendo cartas políticas.
O Prof. Arary descreveu bem a dificuldade que os médicos tiveram em fazer o diagnóstico. Naquele tempo, mesmo médicos conceituados ignoravam muitas facetas da Medicina. Felizmente, como escreveu o Prof. Arary, alguém prescreveu massagens terapêuticas para ativar a circulação.
Em novembro de 1932, Roosevelt foi eleito pela primeira vez Presidente dos Estados Unidos. Seu opositor, o ex-Presidente Hoover, obteve 15.762.000 votos, contra 22.822.000 votos dados a Roosevelt. Acreditava-se na época que a impopularidade de Hoover foi a principal razão de seu fracasso eleitoral. Nos votos eleitorais, a vantagem do partido democrata foi esmagadora, de 472 a 59.
Roosevelt foi o único presidente norte-americano reeleito três vezes.
Quando a Segunda Grande Guerra começou, em setembro de 1939, com a invasão da Polônia por Hitler, Roosevelt convocou uma sessão especial do Congresso para revisar o Ato de Neutralidade, mas os Estados Unidos somente entraram na guerra em 11 de dezembro de 1941, após a invasão de Pearl Harbor, no Havaí, pelos japoneses, quatro dias antes.
Todos os idosos, como eu, recordam-se dos retratos da Conferência de Yalta, também conhecida como Conferência da Crimeia ou do Argonauta, de 4 a 11 de fevereiro de 1945, quando o Presidente Franklin Delano Roosevelt, o Primeiro Ministro Winston Churchill e o Marechal Joseph Stalin se reuniram na Crimeia, próximo de Yalta, na costa do Mar Negro, discutindo várias questões militares sobre a iminente vitória dos aliados contra a Alemanha de Hitler.
Desde janeiro de 1944, Roosevelt ficara hipertenso. Naquela época, não havia nenhum remédio eficaz contra a hipertensão, além de comer sem sal. Os medicamentos existentes no Brasil eram baseados em substâncias de origem vegetal e fenobarbital. Nem sabemos se os médicos dele relacionavam seus males com seus níveis pressóricos. No célebre retrato de Yalta, ele parecia bem. Mas depois, em março, houve novos problemas com os russos, que o obrigaram a trocar correspondência com Stalin. Em abril, ele pretendia estar presente, dia 25, em reunião com representantes de 50 nações (Nações Unidas) em São Francisco, mas antes teve um surto de hipertensão maligna, que culminou com uma hemorragia cerebral maciça e sua morte em 12 de abril de 1945.
Naquele ano, já se sabia da importância do sal na gênese da hipertensão arterial, mas nenhum relato histórico demonstrou que Roosevelt tenha sido aconselhado por seus médicos a diminuir o sal na dieta. Os medicamentos realmente ativos estavam começando a aparecer. A Rauwolfia serpentina era utilizada na Índia há mais de 20 anos como hipotensora, mas não era conhecida na medicina ocidental. A hidralazina surgiu em 1950 e, embora desde 1914 Burn e Dale já tivessem mostrado que o cloreto de tetraetilamônio era capaz de bloquear os impulsos nervosos de gânglios autônomos, quer simpáticos, quer parassimpáticos, somente após 1948 pesquisas com seus derivados pentametônio e hexametônio começaram a ser divulgadas.
Em 1955, apresentávamos e publicávamos a importância do uso da associação hidralazina e Rauwolfia serpentina no tratamento da hipertensão arterial de longa duração e da remissão de hipertensão maligna, com insuficiência renal avançada, com o brometo de hexametônio, em quatro pacientes. Por poucos anos, Roosevelt não teria falecido com 63 anos de idade.
O desenvolvimento da Medicina há mais de um século foi enorme: a cada pouco, tomamos conhecimento de uma ou mais novidades, porém ficamos aborrecidos porque continuamos a receber hipertensos mal controlados, desenvolvendo doença renal crônica, no Ambulatório da Casa do Renal Crônico em Mogi das Cruzes.
Costumo dizer, exageradamente, que hoje em dia só tem acidente vascular cerebral quem quer e, em mais de noventa por cento das vezes, estou certo. O sal é muito importante na gênese da hipertensão arterial, mas, graças aos diuréticos, que eliminam o sal ingerido, raramente os hipertensos precisam tirá-lo da dieta. Tomando dose certa e diária de um diurético, consegue-se, com a ajuda de outros hipotensores, normalizar quase totalmente a pressão arterial nas 24 horas do dia.
Eliminar o sal da dieta de um paciente meramente hipertenso e não utilizar um diurético é diminuir bastante a sua qualidade de vida, pois quem se habituou com comida salgada não vai passar o resto da vida consumindo comida sem sal.