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Manoel Ignacio Rollemberg dos Santos, por Acad. Guido Arturo Palomba

12.12.2012 | Tertúlias

Preito de benquerença ao saudoso erudito

Sempre bem-vestido, elegante e educado, não tergiversava nunca. Apegado à história, amigo lhano, colaborador assíduo deste Suplemento Cultural, Rollemberg nos deixou em 26 de outubro de 2012.
Dedicou-se de copore et anima ao Santo Sudário, sobre o qual dizia, com propriedade, que a denominação mais adequada seria Santo Linho, Santo Lençol ou ainda Santa Mortalha, devido às características do pano, bem como ao seu emprego. Explicava que não era um sudário, mas um lençol, ainda que o nome devesse permanecer Santo Sudário, em respeito à história que o consagrou.
Peregrinou pelo mundo a fim de inteirar-se dos seus infinitos mistérios. Certa vez, em conversa informal,
Rollemberg nos ensinou que à época da morte de Jesus era comum colocarem pequenas moedas sobre os olhos dos mortos, costume que remontava aos tempos gregos, em que se acreditava que o falecido, para atravessar o rio das profundezas, deveria pagar uma taxa a Caronte, o barqueiro de Hades. Disse-nos que no Santo Sudário há nítidas marcas referentes a essa prática e que as do olho esquerdo correspondem a um lepton (palavra grega que significa “coisa muito pequena”) especial, cunhado em 29 da nossa era, em tributo ao imperador Tibério, como homenagem a sua mãe Julia. É o lepton juolia.
Rollemberg, nesse momento da conversa, tomado de especial emoção, contou-nos que, voltando do Egito, em Paris visitou todos os booknistes ao longo do Sena, bem assim ruela por ruela do quartier latim, a procurar a pequena moeda. E nada de achá­-la. Não desistiu. Na Place du Parvis, ao lado do velho Hotel Dieu (correspondente à nossa Santa Casa de Misericórdia), obteve a informação de que talvez pudesse encontrá­-la no Hotel des Monnaies, no Quai de Conti. Lá foi ele. Bateu à porta, foi atendido e… nada, mais uma vez ninguém sabia onde havia um lepton juolia. Já estava prestes a desistir quando um senhor que ouvia as suas consultas, pedindo licença, tomou parte na conversa e disse que somente uma pessoa poderia lhe dar informações seguras sobre o que procurava, fornecendo-lhe o nome e o endereço de um famoso numismata parisiense. Tomado de curiosidade e de ansiedade, Rollemberg foi ter ao local, avindo-se com o referido senhor. Perguntou pela moeda, explicando-lhe as origens e as características que deveria ter. E o numismata, abrindo um armário, retirou uma pequena gaveta com compartimentos quadriculados, contendo moedas do início da nossa era, onde havia somente um lepton, cunhado por Pôncio Pilatos no ano 29, com a inscrição em grego “De Tiberius Cesar”. Era o juolia.
Tivemos a oportunidade de ver esse cimélio pelas mãos de Rollemberg, que o adquiriu naquele encontro
com o famoso numismata.
À parte de ser um grande conhecedor do Santo Sudário, Rollemberg era, na acepção exata do termo, um
erudito. Poliglota, apreciava artes em geral. Autor de vários livros, homem plural, tinha, por hobby, fotografar.
Dizia que eram registros de momentos especiais vividos em plenitude, seus aprisionados instantâneos, a conter emoções e sentimentos.
Exímio cirurgião pulmonar, Membro Titular da Academia de Medicina de São Paulo, deixa a vida terrena
para entrar na imortalidade reservada aos homens joias raras da medicina e da cultura.
Saudades.