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Onde, o começo. Onde, o fim, por Acad. Arary da Cruz Tiriba

16.08.2013 | Tertúlias

Anos 60, século passado. Admitida no hospital das doenças transmissíveis uma jovem, diagnóstico imediato: RAIVA, sinônimo da morte!
Naqueles tempos, causada pelo vírus de rua transmitido por cachorro, a hidrofobia era frequente
na capital paulista.
Moça em final de gestação. Feto, ainda, com sinais de vida!
Instituição sem obstetra. Um de nós, o dedicado anestesista do Hospital das Clínicas, Dr. Paulo
Affonso Pinto Saraiva1, estreitamente ligado ao Prof. Álvaro Guimarães Filho2, catedrático de Obstetrícia da Escola Paulista de Medicina, apelou ao Mestre para proceder à cesariana, urgência urgentíssima!
Atendimento sem hesitação!
A puérpera, como previsto, não resistiu, morrendo no ato. O bebê recebeu cuidados redobrados
de mais um especialista, notável pela experiência e dedicação, o Prof. Carlos Gonçalves Machado3
(viria a ser Diretor do Instituto Pasteur de São Paulo). O cientista não hesitou em proteger de imediato o recém-nascido, pelo soro antirrábico, assegurando a proteção pela série de vacinação específica, sem deixar de interpretar, rigorosamente, a progressão dos anticorpos do lactente, exposto por
tal forma, raríssima, senão única no mundo!
Salva a criança! Abençoados os três médicos citados!
Quem passaria a tutelar a criança? Familiares da vítima, solteira, assumiram o encargo de criar o
“Emílio Ribas”  assim batizado , o segundo denominado.
Passam-se anos…
Atavismo… Em seguida, aos 20 anos de idade, o homônimo reingressa na Instituição Hospitalar


No 6º andar da Clínica Ortopédica e Traumatológica do HC, dedicado à sobrevivência, no pulmão de aço, dos pacientes,
crianças e adultos, da paralisia infantil. Dispunha de extraordinária habilidade para lidar com ressuscitadores mecânicos e repará-los, a qual herdara do pai, Eng. José Saraiva, que em sua casa, na nascente da Rua Augusta, dispunha da ofici­na de instrumentos complicadíssimos. Paulo manuseava-os com destreza.

Foi professor do autor, por duas vezes, na Escola Paulista de Medicina, da qual também foi Diretor, e na Faculdade de
Higiene e Saúde Pública da USP. Foi patrono da Cadeira 61 da Academia de Medicina de São Paulo. Era contrário à
federalização da EPM. Recusou-se a receber os honorários da Fazenda, pós-federalização. Morreu numa diminuta enfermaria do Hospital São Paulo. Emocionou-se quando seu ex-aluno [o autor] foi visitá-lo; choraram ambos.
3
Prof. Adjunto da EPM, Disciplina de Doenças Infecciosas e Parasitárias; cardiologista, internista de larga experiência e
humanista. Como Diretor do Instituto Pasteur, consumada autoridade em raiva.
onde nascera. Outra vez, dramaticidade!
Dos primeiros casos de AIDS! Inexistente, então, tratamento contra o HIV…
 Oh, Saraiva! Oh, Guimarães! Oh, Machado!
Sem resposta… Não mais transitam nos corredores dos nossos hospitais…
Inigualáveis!