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Biografia

Jorge Michalany

Jorge Michalany, filho do médico sírio-libanês Nagib Faris Michalany e da ítalobrasileira Victoria La Torraca, nasceu em São Paulo (SP), aos 24 de agosto de 1916, por coincidência, no mesmo dia e mês do suicídio do ditador Getúlio Vargas, em 1954, a quem combateu em 1932, como cabo-enfermeiro.

Foi esportista desde criança praticando ginástica, bola ao cesto, natação e, na mocidade, boxe, judô e andarilho.

Na infância queria ser agricultor e na adolescência cantor lírico, mas acabou optando pela medicina como seu pai.

Tentou entrar na Faculdade de Medicina, mas foi reprovado na única matéria que detestava, a matemática. Quase desistiu de estudar por causa de uma namorada muito possessiva, pois vestibular e namoro não combinam.

Frequentou em 1936 o curso pré-médico na Escola Paulista de Medicina (EPM); largou da namorada, estudou com afinco e foi aprovado em 3º lugar. Ingressou no curso médico em 1937 e graduou-se em 1942. Foi aí que fez toda sua carreira universitária como monitor, assistente, docente-livre e professor titular. Durante 5 anos, além de cargos na Escola Paulista de Medina, ajudava seu pai na clínica e cirurgia. Diante da inoperância do catedrático de anatomia patológica, do qual era assistente, um contraste
com o famoso antecessor Walter Büngeler que fora obrigado a abandonar a EPM por causa da Guerra, resolveu, em 1947, aperfeiçoar-se no Canadá com o professor Pierre Masson, e depois nos Estados Unidos da América e México.

Voltou ao Brasil em 1949, mas devido à incompatibilidade com seu chefe da EPM aceitou o convite do dr. Odair Pacheco Pedroso para organizar e dirigir um serviço de anatomia patológica na Santa Casa de Misericórdia de Santos, considerada na época o melhor hospital do Brasil. Nesse hospital deu um caráter científico ao serviço com várias publicações no Brasil e no exterior e demonstrações anatomoclínicas.

Além disso, montou o Museu de Patologia contendo também a história da Santa Casa de Misericórdia de Santos. Infelizmente, o novo provedor, um arrivista do Nordeste e advogado criminalista, ou seja, de porta de delegacia, implicou com ele e despediu-o sem justa causa.

Por ter perdido a questão na Justiça, esse provedor vingou-se de Michalany (advogado não gosta de médico), desmontando o Museu e colocando as peças iconográficas em lugar insalubre.

Depois de 10 anos conseguiu reaver 60% das peças que, hoje, constituem a maior parte do acervo do Museu de História da Medicina da Associação Paulista de Medicina.

Em 1957, embora licenciado da EPM, tornou-se livre-docente da mesma em anatomia patológica. Durante sua estadia em Santos foi designado professor titular de anatomia patológica na Faculdade de Ciências Médicas de Santos. Devido a um curso que dera nos Estados Unidos da América foi considerado Persona non grata para a esquerda dominante na Escola Paulista de Medicina, chegando até ser alcunhado de espião da CIA. Tanto que, apesar da Escola estar federalizada em 1955, não conseguiu ser nomeado, embora sendo o único livre-docente de anatomia patológica.

Em 1964, graças à Manu Militari, assumiu o cargo de professor adjunto a que tinha direito, mas até 1969 não conseguiu ensinar, como era seu desejo, porque quem não fosse da Esquerda era da Direita, portanto, inimigo da Escola. Com a morte repentina do professor Mario Pascoalucci, Michalany era o substituto natural na direção, mas foi impedido por uma trama da Esquerda dominante. Houve uma farsa da eleição em que Michalany foi designado chefe do departamento numa quinta-feira, mas de acordo com o diretor, a clínica médica e o Centro Acadêmico foram considerados “ociosos”, e ele colocado em disponibilidade na segunda-feira seguinte. Mas graças à Manu Militari, a trama foi anulada e ele conseguiu, em 1970, tornar-se professor titular por concurso público, permanecendo na EPM durante 16 anos.

Além de várias publicações nacionais e estrangeiras foi homenageado no Canadá, no Museu Pierre Masson como um de seus prediletos discípulos. Por sua participação na Revolução Paulista Constitucionalista 1932 recebeu medalhas do MMDC da Polícia Militar de São Paulo e da Assembleia Legislativa.

Jorge Michalany publicou 4 livros sobre sua especialidade; 5 de literatura não médica, isto é Fatos Pitorescos na Vida de um Médico Paulistano. Fundou e é o curador do Museu de História de Medicina da Associação Paulista de Medicina.

NOTAS:

Biografia e foto foram fornecidas pelo autor.

Pequenas inserções e adaptações do texto ao perfil desta secção, assim como as notas de rodapé foram feitas pelo Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.

O acadêmico Jorge Michalany faleceu em 9 de julho de 2012.

CIA – Central Intelligence Agency.

A sigla MMDC foi composta com as iniciais dos nomes de quatro estudantes paulistas mortos pelas forças ditatoriais no confronto ocorrido no dia 23 de maio de 1932. Porém outros paulistas foram feridos nesse dia. Três morreram no local: Martins, Miragaia e Camargo. Dráusio, um menino de 14 anos, faleceu no dia 28, em consequência dos ferimentos sofridos. Com as iniciais de seus nomes foi formada a sigla MMDC, que representava a disposição de São Paulo para enfrentar a ditadura.