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Biografia

José Carlos Souza Trindade

José Carlos Souza Trindade nasceu na cidade de Alegrete (RS), no dia 5 de abril de 1936. Foi o terceiro filho de um conjunto de cinco irmãos. Seu pai, Valentim Campos Trindade, foi servidor público da Secretaria da Saúde, e sua mãe, Wanda Souza Trindade, foi professora de matemática dos cursos ginasial e científico do Instituto Estadual de Educação Oswaldo Aranha, na cidade de Alegrete. 

Realizou os primeiros estudos e o curso ginasial na Escola Normal Oswaldo Aranha, hoje, Instituto Estadual de Educação. Concluiu o ginásio em 1951 e, em 1952, transferiu-se para a cidade de São Paulo para continuar seus estudos, já com o firme propósito de estudar medicina em um grande centro. 

Em São Paulo cursou o científico no Colégio Bandeirantes e, em 1956, ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), onde se formou em 1961. Em 1962 ingressou na residência de cirurgia do Hospital das Clinicas (HC) da FMUSP. Após a residência foi aprovado, em 1964, no concurso de médico assistente da 2ª Clínica Cirúrgica do HC da FMUSP, serviço do professor Edmundo Vasconcelos . Na 2ª Clínica Cirúrgica, além do atendimento aos pacientes assumiu a função de preceptor dos residentes e internos. No ano de 1965 foi nomeado cirurgião do pronto-socorro do HC e chefe de equipe nos plantões de sábado à noite. Exerceu essas funções até 12 de abril de 1966, quando solicitou afastamento do cargo, para participar do grupo pioneiro de professores que implantaram a fase clínica da Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu (FCMBB), fundada em 1963, atual Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (FMB – Unesp). 

O grande desafio que motivou sua decisão de deixar uma posição consolidada numa importante instituição médica foi a filosofia de ensino que seria implantada na nova faculdade, de integração entre a docência, a pesquisa e a assistência médica, bem como o regime de trabalho de dedicação integral à docência e à pesquisa (RDIDP). 

Casara-se logo após a formatura com a colega de turma Cleide Enoir Petean Trindade3 , e nessa ocasião tinham dois filhos, Cássio, com três anos, e José Carlos, com dois anos incompletos. Sua esposa era médica assistente da clínica pediátrica do HC da FMUSP e do Hospital do Servidor Público do Estado de São Paulo. Essa difícil mudança de rota profissional foi compartilhada com toda a família, que se transferiu para Botucatu, em julho de 1966. Em 1973 nasceu seu terceiro filho, André, na cidade de Botucatu. 

Desde então, sua história de vida confunde-se com a implantação e evolução da Faculdade de Medicina de Botucatu. Na fase inicial encontraram uma faculdade nascente, em seu 3o ano de existência, ainda não consolidada e que possuía no Distrito de Rubião Júnior apenas um prédio inacabado de um hospital inicialmente destinado para o tratamento de pacientes tuberculosos. A tarefa a que se propuseram era incomensurável, mas numa avaliação retrospectiva de 47 anos e considerando o elevado nível atualmente atingido por essa instituição acadêmica, isto constitui uma indicação segura de que a decisão inicial de participar dessa epopeia foi correta, vitoriosa e extremamente gratificante. 

Na nova faculdade participou da implantação dos primeiros cursos de propedêutica e fisiopatologia; da estruturação do curso de cirurgia; da fundação do Departamento de Cirurgia; da organização das enfermarias e ambulatórios e da criação do laboratório de cirurgia experimental. Em 1970 defendeu a primeira tese de doutorado do setor médico que versava sobre Estudo Experimental da Circulação Renal. Por isso, em 1971, foi designado pelo Departamento de Cirurgia para organizar e chefiar a disciplina de urologia. 

Nessa ocasião houve uma ampliação do corpo docente dessa disciplina, tendo sido criados inicialmente os ambulatórios de urologia infantil, urologia de adulto e de uroginecologia, e foram sistematizadas as grandes cirurgias da especialidade e instalado o Serviço de Endoscopia Urológica. Posteriormente foram criados os ambulatórios de especialidades urológicas, o grupo de transplante renal e, mais recentemente, o serviço de litotripsia, o grupo de cirurgia laparoscópica e o laboratório de neogene para o estudo genômico dos tumores do trato urinário. 

Em 1974 criou a residência de urologia, inicialmente com dois anos de duração, tendo como pré-requisito dois anos de cirurgia geral. Atualmente foi ampliado mais um ano de residência, visando a formação e a capacitação dos residentes nas novas técnicas de cirurgias minimamente invasivas. 

Em 1975 implantou e foi responsável durante vários anos pela disciplina de pósgraduação “Bases e Metodologia da Experimentação em Urologia” do curso de pósgraduação “Bases Gerais da Cirurgia e Cirurgia Experimental”. Nesse período orientou sete dissertações de mestrado, 11 teses de doutorado, tendo participado de 11 bancas de mestrado, 23 bancas de doutorado, 12 de livre-docência e três bancas de concurso de professor titular de várias instituições universitárias. 

No ano de 1977, com a criação da Unesp e como diretor da Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas, presidiu a reestruturação dessa instituição, sendo criadas quatro faculdades: medicina, medicina veterinária e zootecnia, ciências agronômicas e o instituto de biociências. Nessa ocasião a disciplina de urologia, que já apresentava elevado nível acadêmico, assistencial e de investigação, foi desvinculada do Departamento de Cirurgia e foi criado o Departamento de Urologia, tendo o professor Trindade exercido sua chefia por vários mandatos. 

Após o doutorado em 1970, fez, em 1979, o concurso de livre-docência em urologia, tornando-se professor adjunto do Departamento de Urologia. Em 1982 prestou concurso de títulos e provas para o cargo de professor titular do Departamento de Urologia. Entre 1985 e 1987 estagiou durante dois anos no Departamento de Urologia da Cleveland Clinic Foundation, em Ohio, nos EUA, como special fellow research, onde desenvolveu trabalhos experimentais sobre imunologia dos tumores renais. 

Por ocasião de sua aposentadoria compulsória em 2006, por indicação do Departamento de Urologia e com aprovação unânime da congregação, recebeu o título de Professor Emérito da Faculdade de Medicina de Botucatu da Unesp. 

Em 2006, após a reforma da enfermaria de urologia do Hospital das Clínicas, os docentes do Departamento de Urologia atribuíram seu nome a essa enfermaria e inauguraram seu retrato na entrada da mesma. 

Entre as atividades científicas publicou 93 artigos em revistas nacionais e internacionais, editou um livro e escreveu nove capítulos em outros livros de urologia; apresentou 194 trabalhos em congressos da especialidade e realizou 113 palestras em congressos e instituições universitárias. Conquistou cinco prêmios outorgados pela Academia Nacional de Medicina, no Rio de Janeiro: Prêmio Alvarenga (1971 e 1981); Prêmio Azevedo Sodré (1974); Prêmio Miguel Couto (1980); e Prêmio Castro Peixoto (1986). 

Em 1998 recebeu em Cancun, no México, o prêmio internacional “Antonio Puigvert” outorgado pela Confederação Americana de Urologia (CAU). Em 2011 recebeu o “Prêmio Cistoscópio de Ouro” outorgado por uma comissão de professores titulares da Sociedade Brasileira de Urologia. 

Entre outras honrarias recebeu três títulos de cidadania outorgados pelas Câmaras Municipais de Presidente Prudente (“Cidadão Prudentino”, em 2003); de Botucatu (“Cidadão Botucatuense”, em 2004) e de Dracena (“Cidadão Honorário de Dracena”, em 2005). Em 2004 recebeu na capital Sucre, na Bolívia, o título de “Huespede Distinguido, Gobierno Municipal de La Seccion Capital Sucre ordenanza Municipal”. 

Em 2005 recebeu a comenda “Cidade Milagre” ordem do Mérito Educacional no grau de comendador da Prefeitura Municipal de Dracena. 

Entre inúmeras atividades administrativas e associativas exerceu as seguintes funções: presidente da Associação dos Docentes do Campus de Botucatu (entre 1970 e 1972); diretor do Hospital das Clínicas da FMB (1972 a 1973); diretor da Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu (1976 a 1977); 1o diretor da Faculdade de Medicina de Botucatu da Unesp (1977 a 1980); presidente da Comissão Permanente de Regime de Trabalho (CPRT) da Unesp (1983 a 1984); e pró-reitor de administração da Unesp (1995 a 1996). No ano de 2000 foi eleito reitor da Unesp pelos três segmentos da universidade (docentes, alunos e servidores) e nomeado pelo governador Mario Covas para exercer a função de reitor com mandato de janeiro de 2001 a fevereiro de 2005. 

Na condição de reitor da Unesp foi eleito vice-presidente primeiro da Asosiación Universitária Ibero-Americana de Postgrado (Auip) com mandato de 2001 a 2003, e presidente dessa mesma associação com mandato de 2003 a 2005. A Auip tem sede em Salamanca, na Espanha, e congrega cursos de pós-graduação de universidades da Espanha, Portugal, Brasil, América do Sul, América Central, México e Caribe. 

Como Reitor da Unesp contribuiu para a expansão do ensino superior público ampliando em 30% o número de vagas dessa universidade com a criação de 38 novos cursos. Instalou 8 novos campi no Estado de São Paulo, nas cidades de São Vicente, Registro, Sorocaba, Ourinhos, Itapeva, Tupã, Dracena e Rosana (Pontal do Paranapanema), ampliando a área geográfica de atuação da universidade de 15 para 23 cidades. Implantou o Projeto Pedagogia Cidadã com cursos superiores de Pedagogia e Administração Escolar para professores da rede pública do Estado de São Paulo, abrangendo mais de 50 cidades e diplomando 8.000 professores em 3 anos de atuação. 

Na Sociedade Brasileira de Urologia – Secção São Paulo (SBU – SP), foi eleito duas vezes 1º vice-presidente e presidente na gestão (1996-1997). Na SBU Nacional foi por quatro anos presidente da Comissão de Ensino e Treinamento, que reformulou os critérios de credenciamento das residências de urologia em todo o Brasil. 

No momento, como professor voluntário, está coordenando um projeto aprovado pelo Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), que tem por objetivo: a correção da disfunção erétil pós-prostatectomia radical por meio de enxertos do nervo sural, estabelecendo bilateralmente quatro pontes entre o nervo femoral e os corpos cavernosos e o nervo dorsal do pênis, por meio da técnica de neurorrafia término-lateral. Os primeiros resultados são extremamente promissores e estarão sendo apresentados este ano em congressos nacionais e internacionais da especialidade. 

Ao coroar sua trajetória profissional foi eleito membro titular da cadeira no 32 da Academia de Medicina de São Paulo, em novembro de 2012. Numa avaliação retrospectiva verifica-se que nada seria possível sem o inestimável apoio de sua esposa, Cleide Enoir Petean Trindade, companheira fiel, solidária e inspiradora, que desenvolveu também carreira paralela na Faculdade de Medicina de Botucatu. Participou da fundação do Departamento de Pediatria e implantou o berçário do Hospital das Clínicas, tendo fundado a disciplina de neonatologia, cuja Unidade Hospitalar recebeu seu nome. Galgou todos os degraus da carreira universitária até a conquista do cargo de professora titular de pediatria. Aposentou-se pela compulsória em 2007, tendo recebido o título de Professora Emérita. Em 2011 foi eleita membro titular da cadeira no 107 da Academia de Medicina de São Paulo. 

São seus filhos: Cássio Petean Trindade, formado em marketing, é, atualmente, produtor rural e casado com Elizângela, tendo duas filhas: Anna Laura, com 7 anos, e Anna Luiza, com 5 anos; José Carlos Souza Trindade Filho, médico urologista, é professor assistente doutor do Departamento de Urologia da FMB em tempo integral e, atualmente, exerce funções administrativas no HC da FMB. É casado com Leila e tem 1 filho: Guilherme, com 15 anos; André Petean Trindade, médico radiologista, fez doutorado na FMUSP e atualmente tem clínica de radiologia em Sorocaba; atua em tempo parcial como professor assistente doutor e é chefe da disciplina de radiologia da FMB. É casado com a bióloga Camila, atual doutoranda da FMUSP. 

NOTAS: 

Biografia e foto foram fornecidas pelo autor.

Pequenas inserções e adaptações do texto ao perfil desta secção, assim como as notas de rodapé foram feitas pelo Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.

Edmundo Vasconcelos é o patrono da cadeira nº 47 da Academia de Medicina de São Paulo.

Cleide Enoir Petean Trindade é membro titular e a primeira ocupante da cadeira nº 107 da Academia de Medicina de São Paulo, sob a patronímica de Evaristo da Veiga.