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Biografia

Luiz Baccalá

Luiz Baccalá nasceu em 28 de abril de 1927, na cidade de São Paulo. Era filho de Nicola Baccalá e Amélia Morvillo.

Em sua infância residiu nas vizinhanças do terreno em que foram construídos a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e o Hospital das Clínicas (HC), acompanhando de perto as obras dessas edificações.

Seu desejo de ser médico foi acalentado desde essa época. Aprovado no vestibular de 1950, graduou-se pela FMUSP, em 1955. Viveu intensamente a vida universitária, sendo um dos líderes da faculdade, dom depreendido desde os tempos dos trotes, mas também se salientando no esporte, no “Show Medicina” e na política estudantil.

Nos trotes fez uma oportunidade de confraternização entre calouros e veteranos. No esporte foi titular permanente do time de futebol, organizador das competições MAC-MED e presidente da Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz (AAAOC).

Politicamente, teve participação significativa na tentativa de apaziguar divergências internas entre os colegas de esquerda e de direita, tornando-se, em 1954, presidente do Centro Acadêmico Oswaldo Cruz (CAOC), cargo que exerceu com grande destaque.

No “Show Medicina”, com os seus dotes de artista e na condição de diretor, usou as apresentações como instrumento de crítica construtiva aos problemas de ensino da faculdade.

Era amistoso e de boa índole para com todos, sobremodo com seus colegas de turma. Deu significativo apoio aos companheiros que adoeceram durante o curso ou após a graduação.

Baccalá fez internato e residência de cirurgia no HC da FMUSP, passando depois a assistente da 1a
Clínica Cirúrgica e do pronto-socorro de cirurgia, assumindo, mais tarde, a chefia de equipe do pronto-socorro, onde sempre se sobressaiu pela dedicação e competência técnica.

De acordo com José Aristodemo Pinotti, que teve seu primeiro consultório em São Paulo, em sociedade com Luiz Baccalá e Armando de Aguiar Pupo, refere que ambos eram excelentes contadores de piadas. “Foi Baccalá quem mandou confeccionar uma estátua de corpo inteiro – maior do que a de Arnaldo Vieira de Carvalho – como homenagem póstuma a Albino, que foi zelador da Atlética da FMUSP e que considerava Baccalá um ídolo. Essa estátua foi colocada nos jardins da faculdade”.

“Baccalá nunca fez doutorado, docência, concurso para professor, mas ninguém no pronto-socorro do HC tinha mais experiência e ensinava melhor do que ele (talvez, para fazer justiça, Carmino Caricchio). Os alunos aprendiam com ele, e os professores o procuravam para esclarecer dúvidas”.

Luiz Baccalá formou-se também em administração hospitalar no Prohasa – Fundação Getúlio Vargas e em medicina do trabalho na Faculdade de Saúde Pública.

Assumiu diversos cargos administrativos dentro e fora do HC. Em 1975, tornou-se diretor do Pronto-Socorro Municipal, contribuindo significativamente para a melhoria da qualidade do atendimento pré-hospitalar de acidentados ou vítimas de mal súbito na capital paulista. Com essa finalidade visitou um sistema similar, em Londres, e aproveitou toda a experiência adquirida no pronto-socorro do HC.

Em 1980 assumiu o cargo de diretor-executivo do Instituto Central do Hospital das Clínicas. Posteriormente foi assessor da superintendência do HC, até a sua aposentadoria, em 1997.

Atuou como médico da antiga Guarda Civil e do Sesi e, posteriormente, assessor médico da Fiesp8
. Representou essa entidade por vários mandatos nos Conselhos Municipal, Estadual e Nacional de Saúde. Foi também secretário regional do Inamps, em São Paulo, e fez parte do conselho da Associação Brasileira de Prevenção de Acidentes.

José Aristodemo Pinotti ressaltou que “Baccalá tinha temperamento sempre alegre e jovial; parecia às vezes irreverente, devido às brincadeiras e às piadas que inventava, mas sem jamais desmerecer o exemplo de seriedade e abnegação que caracterizaram a sua carreira profissional. Merecem referência também as suas qualidades como enólogo e seus conhecimentos em culinária. Isso o levou a uma iniciativa pioneira, na década de 1970: Abriu, na Vila Madalena, a Cantina San Genaro, que durante muitos anos foi ponto de encontro de seus colegas e amigos do HC.

Baccalá tinha um cheque meu, devolvido por falta de fundos, de uma refeição que fiz na cantina. As tentativas que fiz para trocá-lo foram sempre frustradas. Guardava-o como relíquia”.

Luiz Baccalá era aficionado por esportes desde os tempos acadêmicos e também se especializou em medicina esportiva. Era panathleta e presidiu Panathlon Club São Paulo10 por quatro mandados bienais consecutivos (1998-1999; 2000-2001; 2002-2003 e 2004-2005), onde teve destacada atuação. Participou de diversos eventos do Panathlon International em nível mundial, comparecendo em congressos na Itália, Alemanha, Chile, Áustria, Argentina e Espanha.

Ingressou como membro titular da Academia de Medicina de São Paulo, em 8 de maio de 1989, atuando na diretoria no biênio 2000-2001, e galgando a condição de membro emérito desse sodalício.

Foi igualmente dirigente e membro efetivo do Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” – Cejam, entidade que presta serviços de grande relevância à saúde da humanidade. Aí, além de ter atuado como tesoureiro, foi grande colaborador do Programa “Dr. Conforto”, visitando ou agendando consultas e cirurgias para pacientes mais necessitados. Foram inúmeros os indivíduos de todo o País beneficiados pelas suas ações humanitárias. Em 30 de março de 2007 foi-lhe conferido o galardão de membro honorário do Cejam.

Luiz Baccalá dedicou-se, paralelamente nos últimos 20 anos de sua vida, como dirigente da Associação dos Antigos Alunos da FMUSP (AAAFMUSP), entidade que também presidiu. Chegou a participar assiduamente da congregação da faculdade como representante dos antigos alunos.

Na AAAFMUSP teve grande participação na criação e na organização da Fundação Faculdade de Medicina, da qual foi membro do Conselho Curador por 19 anos. Dentre as suas realizações merecem destaque os Encontros de Gerações, buscando aproximar anualmente, em outubro, alunos e antigos alunos da FMUSP; a sua participação na restauração do prédio da Faculdade de Medicina; e a construção do Mausoléu do Médico no Cemitério do Santíssimo Sacramento, ao lado do Cemitério do Araçá.

Durante a sua gestão, colaborou significativamente com a AAAOC na recuperação de instalações da Praça de Esportes, e com o CAOC na ajuda a estudantes com dificuldades.

Foram também de sua iniciativa homenagens a professores falecidos e a antigos funcionários da faculdade, tais como o professor de natação Sato, Albino Carramão das Neves e Américo Lourenço, perpetuados com monumentos em bronze nos locais em que trabalharam.

Dentre as condecorações que recebeu salientam-se a medalha da Ordem do Ipiranga, do Mérito Panathlético e da Personal Rede Brasileira dos 500 anos.

Teve um irmão médico, Luciano Baccalá11, que também se dedicou profissionalmente à medicina esportiva.

Luiz Baccalá (Figuras 2 e 3) foi um ícone na história do esporte e da medicina pelos importantes cargos que desempenhou nessas duas áreas. Foi casado com Yolanda Person Baccalá e teve um filho, Luiz Antonio Baccalá.

Luiz Baccalá faleceu em 9 de outubro de 2006, aos 80 anos. Seu corpo foi velado na Congregação da FMUSP e transladado para o Crematório de Vila Alpina.

Eis uma breve homenagem do Panathlon Club de São Paulo por ocasião de seu passamento: “Como panathleta ativo, ele esteve à frente de grandes realizações do nosso clube nos quatro biênios em que esteve na presidência. (…) Principalmente como amigo esmerou-se no desejo de servir e ajudar ao próximo. Um grande número de pessoas deve-lhe favores, principalmente na área médica.

Ainda José Aristodemo Pinotti, em discurso póstumo, fazendo sua elegia a Luiz Baccalá, refere que, em sua opinião, ele é um dos três ex-alunos que mais personifica a FMUSP e o HC, pois, trabalhou e frequentou essas duas instituições durante 57 anos (!), até alguns dias antes de desistir de sua luta contra o câncer que haveria de vencê-lo.

“Até poucas semanas antes de sua morte, no Hospital das Clínicas, ainda frequentava a sala da AAAFMUSP, atendendo e ajudando a todos que o procuravam, e comandando a administração da entidade. (…) Com sua morte termina a fase romântica da nossa geração nessa escola, apesar de termos certeza de que seu espírito não poderá fugir das salas e dos corredores pelos quais sempre andou”.

Em 25 de março de 2011, através do Decreto no 52.211 da Prefeitura do Município de São Paulo sob o comando do prefeito Gilberto Kassab, seu nome foi dado à Assistência Médica Ambulatorial Boracea (AMA Boracea, Figura 4), no bairro da Barra Funda. Em 11 de agosto de 2011, por iniciativa do vereador Toninho Paiva, sua foto foi entronizada nessa unidade de saúde (Figura 5).

À esquerda, decreto da Prefeitura do Município de São Paulo concedendo o nome à AMA Boracea, de “Dr Luiz Baccalá”. À direita, sua foto entronizada nessa unidade de saúde da capital paulista.

O Conselho Diretivo do Panathlon Club de São Paulo decidiu também conceder o “Prêmio Luiz Baccalá” ao “Mérito Paradesportivo do Ano”, destinado a homenagear esportistas com necessidades especiais.

NOTAS:

Esta biografia é uma autoria do Acad. Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.

Parte dos dados aqui consignados foi gentilmente fornecida pela Sra. Solange Viveiros, secretária do Panathlon Club de São Paulo, admiradora de Luiz Baccalá, médico que participou de sua gastrectomia.

A MAC-MED é a mais tradicional competição universitária brasileira. Envolve a Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz dos alunos da FMUSP e a Associação Atlética Acadêmica Horácio Lane dos alunos da Faculdade de Engenharia da Universidade Mackenzie.

Após negociações entre as duas partes, ficou decidido que seriam incluídos os seguintes esportes: futebol, bola ao cesto, voleibol, tênis, atletismo, natação, polo aquático, xadrez e pingue-pongue.

A premiação aos vencedores seria através de medalhas e de uma taça transitória que ficaria com o ganhador por um ano até a competição seguinte.

A primeira MAC-MED ocorreu entre 14 e 21 de setembro de 1935, com vitória do Mackenzie por 6 vitórias a 3.

Oswaldo Gonçalves Cruz é o patrono da cadeira nº 99 da Academia de Medicina de São Paulo.

José Aristodemo Pinotti foi membro fundador da cadeira nº 52 da Academia de Medicina de São Paulo, cujo patrono é Raul Carlos Briquet.

Armando de Aguiar Pupo é o patrono da cadeira nº 130 da Academia de Medicina de São Paulo.

Prohasa: Programa de Estudos Avançados em Administração Hospitalar e de Sistemas de Saúde do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Sesi: Serviço Social da Indústria.

Fiesp: Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.