PortugueseEnglishSpanish
Biografia

Samoel Atlas

Samoel Atlas nasceu na cidade de São Paulo, no bairro do Brás, em 1º de dezembro de 1925. Era filho de George Mitchel Atlas e de Salwa Salama Atlas, jornalistas oriundos da Síria. Sua mãe tornou-se uma importante mulher árabe que revolucionou a comunicação na imigração; reivindicou a independência da Síria em suas notáveis publicações, além de escrever belos poemas. Um deles era muito especial para Samoel Atlas. Certa feita fez questão de recitá-lo e acabou se emocionando ao relembrar sua querida mãe.

Samoel Atlas fez seus primeiros estudos no Grupo Escolar Romão Puigari, situado à Avenida Rangel Pestana, no bairro do Brás. Em sua infância conviveu com imigrantes italianos que muito o estimularam no estudo de diversas línguas. Completou o curso secundário no Colégio Paulistano em 1945 e ingressou na Escola Paulista de Medina (EPM), hoje, Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em 1947, graduando-se em 16 de dezembro de 1953.

Seu professor de anatomia patológica, Jorge Michalany, refere que “seu primeiro contato com Samoel Atlas se deu em 1950. Ele se distinguia por ser um bom aluno e, tal como ele (Michalany), um romântico pela EPM. O prestígio de Atlas com a diretoria e o Ministério da Educação era extraordinário, a ponto de conseguir instalar na EPM uma agência do Banco do Brasil, o que facilitava a atividade financeira dos docentes e estudantes. Ademais, foi ele quem batizou o salão de barbeiro como Al Fígaro, que eu (Michalany), depois mudei para Il Fígaro.

Quando estudante imitava com perfeição os professores, principalmente Jairo Ramos, José Maria
de Freitas e até eu (Michalany) no quadro negro”.

Samoel Atlas casou-se com Elza Maria Orfali Atlas com teve dois filhos: Carlos Daniel Atlas e George Miguel Atlas Neto.

Após sua formatura especializou-se em ortopedia, estagiando no Pavilhão Fernandinho Simonsen da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, do qual, após 13 anos, tornou-se chefe. Optou pela carreira universitária, tornando-se assistente da EPM. Após concursos obteve o título de doutor e, por defesa de tese, a condição de docente-livre e titular de ortopedia e traumatologia da EPM.

Fez viagens de aprimoramento e pesquisas no exterior. Esteve em 1960 na Universidade de Cornell, em Nova Iorque (EUA), bem como na Universidade Mac Gill em Toronto (Canadá). Em 1963, por concessão do Conselho Britânico, estagiou no Nuffield Institute of Orthopaedics da Universidade de Oxford, chefiado pelo renomado professor Joseph Trueta Raspal, onde tiveram início suas pesquisas sobre pé torto congênito; e, em Londres, entre 1963 e 1964, no Royal National Orthopaedic Hospital, no serviço do professor Herbert Seddon.

Entre suas atividades médicas, Samoel Atlas pesquisou sobre a vascularização dos ossos em embriões e fetos humanos. Publicou inúmeros trabalhos e participou de diversos congressos nacionais e internacionais, tendo representado o Brasil no exterior. Em 1972, em visita à Síria ao Líbano, apresentou seus trabalhos na Universidade Americana de Beirute (Líbano), após ter participado do Congresso Internacional de Ortopedia realizado em Tel-Aviv (Israel), onde presidiu a sessão sobre pé torto congênito. Nesse evento, seu trabalho foi considerado a mais importante contribuição à pesquisa referente a essa patologia. Participou também do Congresso Internacional de Ortopedia realizado em Kyoto (Japão), quando apresentou três trabalhos de pesquisa, sendo um deles em japonês.

Samoel Atlas, outrossim, dedicou-se a instituições humanitárias como o Lar Escola São Francisco, Instituto de Reabilitação e Fisioterapia ligado à Unifesp, sendo seu diretor de 1993 a 1995; e a Apae – Associação dos Pais de Amigos dos Excepcionais de São Paulo. Pertenceu ao Esporte Club Sírio, sendo o 2º secretário em 1957, na gestão de Eduardo Salem.

Samoel Atlas teve diversas publicações literárias, particularmente de cunho histórico e filológico. Proferiu inúmeras conferências e palestras sobre variegados temas, destacando-se particularmente sobre a história da Mesopotâmia; origem da escrita e da gramática, assim como religiões e crenças.
Ingressou na Academia de Medicina de São Paulo em 1978, tornando-se membro emérito desse silogeu. Foi o primeiro ocupante da cadeira no 2 sob o patrono de Octávio de Carvalho, fundador da EPM. Ingressou também, em 1990, como o segundo ocupante da cadeira no 37 da Academia Cristã de Letras sob o patrono de São João Bosco.

Samoel Atlas dedicou grande parte de sua vida ao aprendizado de suas origens e, posteriormente, sem recompensa, ao ensino de tudo o que aprendera. Tornou-se um dos mais diletos filhos da comunidade árabe no Brasil. Fazendo jus ao seu sobrenome, foi reconhecido pela sua dedicação e pela sua prodigiosa inteligência. Seu curriculum vitae compreendia 3 volumes, totalizando 800 páginas!!! Era poliglota e falava nada menos do que dez idiomas, dominando sobremodo o árabe, inglês, francês, espanhol, italiano, alemão e o japonês. Falava razoavelmente o russo, húngaro e o gaulês, alem de algumas sentenças em chinês. Deliciava-se ao imitar o modo de falar português dos sírio-libaneses, italianos e húngaros.

Samoel Atlas ingressou na Comissão de Ética Médica da Unifesp em 1992 e trabalhou nessa instituição de ensino até 1995, quando atingiu o limite de idade de 70 anos, sendo compulsoriamente aposentado. Tornou-se um dileto aluno da Unifesp. Certa feita, num banquete, diversos colegas prestaram-lhe homenagem. Jorge Michalany assim se exprimiu: “As Santas Casas das Misericórdias têm por tradição conferir o título de Irmão Benemérito aos cidadãos que a elas muito se dedicaram. E, a meu ver, as universidades deveriam fazer isso também, concedendo, além do tradicional título In Honoris Causa, também o título de Doutor Benemérito. Você, Atlas, é uma instituição da Escola Paulista de Medicina. O simples fato de reviver com suas incomparáveis imitações a história dessa Escola lhe daria o direito de receber o título de Doutor Benemérito. Você, Atlas, possui a arte do espírito e da frase”.

Samoel Atlas destacou-se como médico, pesquisador, historiador, filólogo e filantropo.
Faleceu na cidade de São Paulo aos 80 anos, em 6 de julho de 2006. Eis algumas das palavras que o
arquiteto Rubens Anauate, ex-presidente do Conselho Deliberativo do Club Homs e diretor do Conselho Ortodoxo da Cidade de São Paulo, consignou por ocasião do seu passamento:

“Drumond chamou de eterno ‘tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com
tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma força o resgata’. (…).
Feliz daquele que conviveu com Samoel ainda que por alguns momentos:
Se aluno, aprendeu acima do esperado.
Se paciente, encontrou a solução e a cura.
Se parente, recebeu orientação e afeto.
Se amigo, sentiu lealdade e dedicação.
Se parceiro de negócios: A retidão e a honradez.
Samoel venceu todos os desafios, jamais sucumbiu ou esmoreceu.
(…).
O brilho intenso que vem do céu, Samoel forjou aqui, entre nós; não lhe bastou ser médico, ensinou a ser médico, levou seu saber aos cantos do mundo, na língua de cada um; surpreendeu sempre, visitou o passado à procura da origem dos nossos nomes; contou às famílias do Homs detalhes de suas próprias e ricas histórias; escreveu, leu, estudou, jamais sonegou o conhecimento; mascate da cultura de porta em porta; arauto da palavra definitiva.

Agora, Samoel, o ‘eterno’ de Drumond faz todo o sentido!”

NOTAS:

Esta biografia é uma autoria de Helio Begliomini, Titular e Emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Benedicto Augusto de Freitas Montenegro.

Jorge Michalany é membro titular e emérito da cadeira nº 6 da Academia de Medicina de São Paulo sob o patrono de Nagib Faris Michalany.

Jairo de Almeida Ramos presidiu a Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, hoje, Academia de Medicina de São Paulo num mandato anual entre 1939-1940, sendo honrado como patrono da cadeira nº 75 desse silogeu.